A China tem aumentado sua preocupação diante do progressivo poder do grupo Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em outros países), uma vez que este parece estar se aproximando da fronteira com a província de Xinjiang.

No entanto, vários observadores chineses creem que a entrada do Talibã em Xinjiang, pelo corredor de Wakhan, é improvável. Na verdade, o grupo em causa poderia trazer mais problemas a Pequim através de outros Estados da Ásia Central, caso a situação no Afeganistão continue piorando, demonstrando a influência direta da situação interna do país na estabilidade regional.

Pouco a pouco, o grupo vai provando ao mundo sua imagem e reputação, o que poderá facilitar alianças e tréguas entre vários países da região afetados pela situação afegã.

Os especialistas chineses apontam que a China e a Rússia, enquanto principais potências regionais, vão cooperar mais entre si junto a outras nações afetadas para conseguirem resolver o conflito afegão e, de igual modo, ajudar na reconstrução do país.

Com as forças lideradas pelos EUA se retirando do país em uma velocidade avançada, o Talibã continua conquistando mais territórios. Vários veículos da mídia ocidental caracterizam a situação atual como o grande “medo da China”.

Pôster Talibã no Afeganistão
© REUTERS / JIM HOLLANDER Pôster “Talibã” no Afeganistão

No entanto, Cao Wei, especialista em estudos de segurança na Universidade de Lanzhou, contou ao Global Times que seria improvável a invasão da província de Xinjiang por grupos terroristas pelo corredor de Wakhan que seria, supostamente, o ponto mais preocupante para o gigante asiático.

“Porém, é importante sublinhar que o Talibã de hoje é totalmente diferente do Talibã de 20 anos atrás”, adverte Cao.

China e Rússia: o que poderão esperar?

Em uma entrevista para South China Morning Post na quarta-feira (8), o porta-voz do Talibã, Suhail Shaheen, disse que a organização vê a China como um “amigo”, e espera conseguir chegar a diálogos com Pequim o quanto antes, para investir em trabalhos de reconstrução do país “o mais cedo possível”.

De igual modo, uma delegação do grupo também assegurou à Rússia que não deixaria que seu território fosse utilizado como base de ataques contra outros atores, durante sua visita à potência euroasiática na semana passada.

Todas essas ações revelam que o Talibã está, discretamente, se transformando em uma espécie de organização política concentrada nos assuntos internos do Afeganistão. Cao adverte que o grupo está se preparando para tomar o poder, e nada poderá garantir que suas ações serão equivalentes às suas palavras.

A deterioração da situação no Afeganistão tem se alastrado rapidamente pela Ásia Central, resultando, recentemente, em centenas de soldados afegãos cruzando a fronteira com o Tajiquistão em resposta aos avanços do Talibã, informou a agência Reuters. Ante tamanho acontecimento, o Tajiquistão convocou membros de um bloco militar liderado pela Rússia para o ajudar a lidar com os desafios de segurança que emergem do país vizinho.

O mulá Abdul Ghani Baradar, o vice-líder e negociador do Talibã, e outros membros da delegação participam da conferência de paz afegã em Moscou, Rússia, em 18 de março de 2021.
© REUTERS / ALEKXANDR ZEMLIANICHENKO/POOL VIA REUTERS O mulá Abdul Ghani Baradar, o vice-líder e negociador do Talibã, e outros membros da delegação participam da conferência de paz afegã em Moscou, Rússia, em 18 de março de 2021

A Rússia, por sua vez, enfrenta uma pressão maior do que a China, uma vez que é possível que alguns grupos terroristas se infiltrem em território russo através dos Estados da ex-União Soviética, e sua propagação poderia atingir as regiões já instáveis do Cáucaso e da Chechênia, explicou Cao Wei. Ainda assim, Moscou assumirá a maior responsabilidade pela segurança da Ásia Central.

Segurança, desconfiança e política de não interferência

Cao disse que a China e a Rússia, defendendo em conjunto o princípio da não interferência, se concentrarão em ajudar o Afeganistão através da economia ao invés do envolvimento militar, observando que os dois países não serão os “próximos impérios” a entrarem no “cemitério” do Afeganistão, conforme alertado por membros da mídia ocidental.

Por sua parte, o Talibã agradeceu à China por sua ajuda na reconstrução do país, dizendo que se esforçará para manter relações estáveis com Pequim e com outros países vizinhos caso assuma o poder, disseram observadores.

Quanto à possível ameaça de ressurgimento do terrorismo, os analistas chineses acreditam que o Talibã, provavelmente, não exportará deliberadamente sua ideologia. Porém, o gigante asiático deverá se manter em alerta ante ameaças de grupos extremistas que voluntariamente aceitem o fundamentalismo do Talibã e que tentem afetar Xinjiang.

Fonte: Sputnik Brasil