Pedro Augusto Pinho*

Felipe Maruf Quintas*

Quantas pessoas diante de problemas para os quais não tem respostas, dificuldades que não conseguem vencer, enfermidades sem cura, voltam-se para a mística do desconhecido, do imaterial, de um ser criado pelo medo dos homens?

Sim, caro leitor. A antropologia parece ter concluído que os deuses são criações das aflições e dos pavores humanos. Mas de todos os homens? Não.

Caberia uma citação de René Goscinny, o criador de Asterix. Roma dominava todo mundo? Não. Uma aldeia na Gália enfrentava o poderio romano.

Uma população no extremo oriente se conduzia por outra referência, que dispensava o divino. Não por excepcional coragem, mas por força do raciocínio desenvolvido, sem o apelo religioso, pelos sino-tibetanos han ou hàn zú. Em época menos antiga do que os sumérios, mas milhares de anos antes da Era Cristã, quando começou a ser desenvolvida a escrita pictográfica chinesa.

E esta escrita desenvolve um pensamento que “não procede de maneira linear ou dialética e sim em espiral”, afirma a doutora e pesquisadora Anne Cheng (História do Pensamento Chinês, tradução de Gentil Avelino Titton, Editora Vozes, Petrópolis, 2008).

Interpretemos este pensamento. O chinês tem uma escrita pictográfica que serve, no lugar de construções conceituais, para desenvolver o raciocínio. Vejamos um exemplo. A palavra natureza tem na sua composição o elemento sheng, um conjunto que significa aquilo que nasce ou aquilo que vive, e, ademais, o radical de sheng é um pictograma que expressa coração ou mente.

Por isso, Anne Cheng se refere ao espiral, pois em torno do pictograma vai sendo aprofundado o sentido daquela palavra e se desvendando todo pensamento, como estivéssemos nos deslocando em torno dele. É o motivo de aparecerem pictogramas em livros sobre o pensamento chinês, qualquer que seja o idioma em que é exposto. São necessários para construção da ideia.

Um povo que tem um modo de pensar diferente, e o chinês não é o único, terá por conseguinte comportamentos e percepções também diferentes. Como a Europa conquistou, colonizou e escravizou povos em todos os continentes, criou um padrão europeu de referências e comportamentos e desprezou e desconstruiu o que não lhe era semelhante.

Logo, se guiados pelo raciocínio linear ou dialético, será difícil entender o que objetiva o chinês na sua expressão ou na sua conduta. E, como acontece com o ignoto, o desconhecido, o ocidental colonizado pelo pensamento europeu terá medo, concluirá que está diante de um inimigo. Péssima conclusão para quem deseje paz e prosperidade.

E neste momento que uma enfermidade corre o mundo e, contrariando as moléstias no geral, não atinge mais fortemente, ou quase exclusivamente, os pobres, os famintos, os excluídos dos benefícios da civilização industrial, uma fabulação a acompanha, para tranquilizar as mentes teístas.

Assim fica simples esquecer que o mais belicoso país deste último século, os Estados Unidos da América (EUA), em declínio pela importação da ideologia neoliberal, do estado mínimo que vem desempregando e endividando o país, é muito mais capaz de desenvolver um vírus de laboratório do que a República Popular da China (RPC), que concentra seus esforços no desenvolvimento eurasiático da Nova Rota da Sede.

Coloquemos fatos conhecidos e ações incontestáveis que nos ajudarão a compreender o que está em questão, que objetivo humano enfrentamos agora.

Sem precisar clamar aos céus nem invocar deuses em Montes Olimpos e nos templos virtuais.

Onde surgiu o corona vírus? Foi a China quem bombardeou a Coreia com bombas e desfolhantes, pragas que os contaminaram nos rios e águas superficiais? E repetiu esta mesma agressão anti-humana no Vietnã? Quem incentivou o assassino do Khmer Vermelho, o comunista e agente estadunidense Pol Pot ao genocídio de cambojanos e vietnamitas?

O que pretendia a Coreia senão ficar livre dos agressores, espoliadores e cruéis ocupantes japoneses? Os EUA queriam toda península coreana subordinada aos capitais estadunidenses, como igualmente o Vietnã. E as revoluções assassinas que percorreram a América Central, sob o pretexto jamais confirmado de invasão comunista? Como as inexistentes armas de destruição do Saddam Hussein, no Iraque. E destruiu o país africano que era considerado pelos organismos internacionais o que exibia o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África: a Líbia. E sabem por que? Porque Muammar al-Gaddafi, líder que unificou as tribos líbias, resolveu aceitar outras moedas, além do dólar estadunidense (USD), na venda do petróleo líbio.

Se algum país criou o corona vírus em laboratório foram os EUA, não a China, que tem um projeto de desenvolvimento, um projeto de construção do Estado Nacional. Desenvolvimento que, como a China bem sabe e pratica, apenas pode ser sustentado por uma adequada coesão institucional e social, pela saúde e habilidade dos seus cidadãos, o exato oposto das consequências reais ou planejadas de uma pandemia. Enquanto os EUA vêm construindo laboratórios na África, na Amazônia, na Europa Oriental para desenvolver vírus mortais às populações africanas, latino-americanas e emigrantes levados pelas guerras e pela fome a saírem de seus países.

Não por simples maldade psicopata, mas porque tem seu poder entregue ao sistema financeiro internacional (a banca), que aplica estratégias de concentração de renda e tem no crescimento demográfico e nos nacionalismos seus grandes inimigos.

Quanto ao nacionalismo, o bilderberguiano George Soros foi explícito em recente discurso criando sua instituição corruptora “Open Society”. Quando ao neomalthusianismo temos a peste suína, o ebola, e as inúmeras guerras pela Ásia, Oriente Médio, África ceifando milhares, milhões de vidas humanas.

 

Mas a pedagogia colonial dificulta, quando não impede, a compreensão da realidade, exposta aos nossos olhos. E a banca precisa criar inimigos para justificar suas agressões, assassinatos, saques, corrupções, alienação de soberania e destruição dos Estados Nacionais, transformando-os em Estados Mínimos.

O corona vírus mostrou, para quem consegue ver, que são os Estados e não as iniciativas privadas que tem respostas para as agruras humanas.

E não estamos defendendo qualquer colonização, seja estadunidense, chinesa ou de qualquer nação. Estamos mostrando que são os Estados Nacionais, com seus projetos nacionalistas, de soberania e cidadania, que podem, mais do que os deuses, resolverem os medos e inseguranças dos homens.

E Estados Nacionais se voltam, primordialmente, para seus territórios, para dentro, para transformar suas riquezas em poder da Nação, dos cidadãos, que são a preocupação primeira dos Estados. Não perdem tempo em espalhar pandemias que acabam por martirizar o seu próprio povo, pois, acima de tudo, atuam em prol do Bem Comum.

Nenhum Estado Nacional promulgaria a aberração da PEC do Fim do Mundo, com o congelamento nas despesas em saúde e educação por 20 anos. Um escândalo editado em 15/12/2016: Emenda Constitucional nº 95.

É próprio do Estado Mínimo que busca artifícios legais para transferir todo ganho nacional – seja da produção natural agrícola e mineral, da produção industrial, das conquistas tecnológicas, do comércio, do trabalho e dos impostos – em receita financeira. Unicamente em ganhos da banca. Quando há esse interesse, uma pandemia é sempre uma possibilidade, pois os estragos humano, sociais, culturais e econômicos gerados atuam de acordo com o projeto político de dominação total pela banca.

Que vantagem haveria para China com a contaminação?

Por que os EUA, a Espanha, a Itália, o Reino Unido, a França, países que abandonaram seus Estados Nacionais por Estados Mínimos são campeões de mortes? Porque os Estados da banca não estão se importando com mortes (até as desejam em seu ideal neomalthusiano) nem na construção de instituições que fortaleçam o País: a defesa nacional, a saúde pública, o saneamento básico e higienização, a educação e cultura nacionais, a produção para a vida e bem estar das pessoas.

A Era das Ideologias, laicas ou religiosas, perde terreno. Enfrentamos a nova realidade dos Estados Nacionais contra os Estados controlados pelo sistema financeiro. Esta é a investigação que esclarecerá atitudes pouco usuais, decisões incompreensíveis, lideranças construídas em informações falsas, na imprensa que, desde os anos 1970 no Brasil e no mundo, vem sendo divulgadora, doutrinadora, falsificadora de fatos e razões, sempre pelo interesse da banca.

Procuremos avançar no conhecimento dos fatos, em suas motivações, para o que vem sendo efetivamente realizado. O Brasil tem vivido períodos de Estado Nacional e de Estado Mínimo, antes mesmo de se adotar esta nomenclatura. Lembrem-se que já houve um tempo em que as Forças Armadas “fichavam” patriotas, muitos foram condenados e presos, apenas por defender a existência da Petrobrás. Hoje vemos este retrocesso renascendo e o Brasil se destruindo como Estado Nacional, soberano, cidadão, garantidor de direitos e da liberdade. Onde o vírus faz sua festa ou exige os confinamentos, talvez o início de novas restrições individuais.

O liberalismo, que em seus primórdios prometeu o máximo de liberdade individual para gerar, no agregado, a maior riqueza e felicidade coletivas, termina, no seu ápice, por negar a liberdade individual de todos e a riqueza e felicidade de nações inteiras. Apenas os financistas gozam das promessas liberais, mas não na forma em que eram ideologicamente apresentadas antes, mas sim na forma da vontade de poder pelo poder, característica emblemática de demônios antissociais e não de seres humanos que compartilham um destino comum imersos em suas nacionalidades. Sem dúvida as sociedades não precisam de deuses, pois são constituídas por pessoas, mas precisam ainda menos dos demônios financistas.

*Felipe Maruf Quintas, doutorando em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense,

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado.