Jeferson Miola                     

A ameaça de avanço ditatorial no Brasil está no ar; é bem palpável. É preciso atentar para essa realidade urgentemente.

Bolsonaro repete com êxito a estratégia de Mussolini e de Hitler de esgarçar a ordem vigente até o limite máximo de elasticidade do sistema. Quando finalmente atingir o ponto de ruptura, consuma o golpe institucional e instala uma ditadura. Tudo feito, naturalmente, dentro da chamada “normalidade institucional” [aqui].

No mesmo dia em que os presidentes da CNBB, OAB, ABI e Comissão Arns publicaram o histórico apelo Em defesa da democracia na Folha de São Paulo e afirmaram ser “urgente neutralizar e vencer as ameaças às instituições”, Jair Bolsonaro propagou em tempo real, na conta oficial da Presidência da República no twitter, os atos promovidos pela matilha bolsonarista pedindo o fechamento do Congresso e do STF.

Bolsonaro, todavia, foi além. Ele se juntou presencialmente e festejou o ataque aos poderes da República com a matilha golpista em frente ao Palácio do Planalto, rompendo inclusive o protocolo mundialmente pactuado para prevenir a propagação do coronavírus.

Os movimentos que Bolsonaro defende como “espontâneos e legítimos” e que, na opinião dele, “atendem aos interesses da nação” e estão “balizados pela lei e pela ordem ….” [ler aqui], desfilaram nos gramados da Esplanada dos Ministérios em Brasília neste 15 de março propondo o “incêndio de Reichstag”: “Contra os vírus do STF e do Congresso, álcool e fogo! Fodam-se”.

O terrível é saber que os defensores do fechamento do Congresso e da Suprema Corte atentam contra a ordem política e social do país nas fuças do MPF, do ministério da Justiça, do STF e do Congresso.

Os conspiradores estão muito à vontade, manifestam-se num raio não superior a 300 metros de distância da sede destas instituições. Ou seja, desafiam abertamente as instituições que têm a obrigação constitucional de defender e proteger o pouco que resta da ordem jurídica [ainda] vigente.

O MPF e o ministério da justiça, como é sabido, estão corrompidos e inteiramente implicados na ruptura da ordem e no aprofundamento do Estado de Exceção. Estas instituições, portanto, não serão empecilho à evolução autoritária do regime. Muito ao contrário, agirão a favor do avanço ditatorial.

O Congresso e o STF, por outro lado, estão acovardados e acanalhados. O acanalhamento do Congresso é inteligível. Bolsonaro é garantia do padrão devastador, inaudito, de roubo e pilhagem materializado pelas políticas do agente das finanças internacionais Paulo Guedes. Um saqueio nunca antes visto desde a invasão do país pelos colonizadores, há 520 anos.

O Supremo se acanalha principalmente por meio de Dias Toffoli, o presidente tutelado pelo general lotado no seu gabinete que escreve as ordens que ele deve cumprir como um títere servil. Nesta submissão covarde do STF aos militares, Toffoli não está sozinho.

Empresários financiam a conspiração que é também apoiada pelo Clube Militar e pela organização criminosa de Curitiba, como Gilmar Mendes chama a Lava Jato, que adicionou combustão à convocatória dos atos ilegais acusando o Congresso e o STF de “impedirem o ataque à corrupção”, nas palavras de Deltan Dallagnol.

Ao assumir a autoria [aqui] e ao participar presencialmente e virtualmente dos atos de 15 de março, Bolsonaro dobrou a aposta para alcançar um poder ditatorial no país.

Ou Bolsonaro é afastado do cargo por ter atentado contra a ordem política e social, que corresponde a crime de responsabilidade; ou o Brasil se encaminhará inexoravelmente para uma ditadura.

É urgente deter a escalada tirânica que, se não for brecada e derrotada a tempo, avançará de modo inexorável.

É preciso agir-se urgentemente, antes que seja tarde demais e antes que o país seja mergulhado numa ditadura nazi-fascista “por dentro da institucionalidade”, como aconteceu na Itália dos anos 1920 e na Alemanha dos anos 1930.