O presidente Jair Bolsonaro chamou nesta segunda-feira (17/05) de “idiotas” as pessoas que ficam em casa para impedir a disseminação do coronavírus ou por medo de pegar a doença.

A pandemia já provocou mais de 435 mil mortes no país desde março de 2020 e, apesar de sinais de desaceleração, o Brasil ainda continua registrando média móvel de cerca de 2 mil óbitos por dia.

Em declarações a sua claque de apoiadores que aparece diariamente em frente ao Palácio do Alvorada, Bolsonaro ainda elogiou o agronegócio, que na sua visão não parou durante a pandemia.

“O agro realmente não parou. Tem uns idiotas aí, o ‘fique em casa’. Tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa. Se o campo tivesse ficado em casa, esse cara tinha morrido de fome, esse idiota tinha morrido de fome. Daí, ficam reclamando de tudo”, disse Bolsonaro, ignorando o fato de que nenhum governo mundo afora determinou a suspensão de atividades essenciais como a agricultura ou pecuária.

Os elogios ao agronegócio seguiram a linha de falas que Bolsonaro dirigiu para apoiadores no sábado, durante um ato na Esplanada dos Ministérios. Na ocasião, vários apoiadores exibiam faixas e placas com mensagens anticonstitucionais, pedindo um golpe militar no país.

Queda na adesão ao isolamento

Ainda nesta segunda-feira, o Datafolha mostrou que a adesão dos brasileiros ao isolamento chegou ao nível mais baixo desde o início da crise. De acordo com o instituto, apenas 30% dos brasileiros adultos seguem totalmente isolados ou saem de casa apenas quando é inevitável. Em abril de 2020, o percentual era de 72%. Em março deste ano, 49%.

Para o levantamento, o Datafolha fez 2.071 entrevistas presenciais, entre os dias 11 e 12 de maio, em 146 municípios. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

O Brasil segue como um dos países mais afetados do mundo pela doença, com taxa de mortalidade de 206,4 por 100 mil habitantes – a 12º mais alta do mundo, atrás apenas de uma série de pequenos e médios países europeus e bem à frente de vizinhos como a Argentina. Em números absolutos, o país tem o segundo maior número de mortes no mundo.

O país também registrou oficialmente até o momento 15,6 milhões de casos da doença – atrás apenas dos EUA e Índia -, mas especialistas apontam que o número é certamente mais alto, já que a capacidade de testagem no país continua baixa.

Pressão

Desde o início da pandemia, Bolsonaro vem criticando e sabotando sistematicamente recomendações de isolamento para combater a pandemia. O presidente costuma incentivar aglomerações, raramente usa máscara e ainda critica o uso do acessório – em fevereiro, Bolsonaro chegou a divulgar uma enquete distorcida que, segundo ele, provaria que máscaras são perigosas. Bolsonaro também já ameaçou diversas vezes acionar as Forças Armadas contra governadores e prefeitos que determinam medidas de restrição no comércio.

As novas críticas de Bolsonaro ao isolamento ocorrem num momento delicado para o governo, que está sob pressão por causa da CPI da pandemia. Nesta semana, a comissão deve ouvir o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que ocupou o cargo entre maio de 2020 e março deste ano e que é acusado pela oposição e especialistas de incompetência, má gestão e de implementar uma agenda negacionista na pasta sob a direção de Bolsonaro.

Números do Datafolha também apontam que o governo está perdendo cada vez mais apoio entre a população. No sábado, o instituto apontou que 49% dos brasileiros apoiam o impeachment de Bolsonaro, contra 46% que rejeitam. Outro levantamento do instituto apontou que 58% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro não tem capacidade de liderar o país. Uma pesquisa do mesmo instituto também apontou que uma eventual candidatura à reeleição de Bolsonaro pode ser derrotada por larga margem em 2022. O presidente aparece com apenas 23% das intenções de voto no primeiro turno, bem atrás do petista Luiz Inácio Lula da Silva, que tem 41%.

 

Fonte: Deutsche Welle (DW)