No dia em que ultrapassou a marca de 400 mil mortes por covid-19, o Brasil recebeu o primeiro lote com 1 milhão de doses da vacina da Pfizer-BioNTech. O avião aterrissou no aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas (SP), na noite desta quinta-feira.

De acordo com o Ministério da Saúde, as doses serão usadas prioritariamente nas capitais, em razão das condições específicas de armazenamento, que precisa ocorrer em temperaturas muito baixas.

Os estados receberão as doses de forma proporcional e igualitária. Os frascos devem ser mantidos em temperaturas entre -25ºC e -15ºC, por no máximo 14 dias. Se as doses forem armazenadas em temperaturas de 2ºC a 8ºC, o prazo para uso diminui para apenas cinco dias.

Até serem despachadas aos estados, as doses ficarão a -85ºC em 16 super geladeiras do Centro de Distribuição Logístico do Ministério da Saúde, em São Paulo.

“É uma logística específica para essa vacina por conta da cadeia de frio. Mas o Sistema Único de Saúde do Brasil está preparado para distribuir a vacina da Pfizer e todas as outras que forem aprovadas pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]”, destacou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, nas redes sociais do ministério.

O governo federal fechou em março a compra de 100 milhões de doses da vacina da Pfizer-BioNTech. No entanto, 75% delas devem chegar apenas no segundo semestre, em agosto e setembro.

Essa será a terceira vacina em uso no Brasil. Atualmente, a população está sendo imunizada com a Coronavac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, e a vacina da AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford e fabricada no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 80% dos vacinados no Brasil receberam a Coronavac e 20% a AstraZeneca-Oxford.

Polêmica com a Pfizer

A vacina da Pfizer foi a primeira a receber o registro definitivo da Anvisa. No segundo semestre de 2020, o laboratório fez várias propostas para o Ministério da Saúde, que previam a entrega de 70 milhões de doses, com início do envio de uma primeira carga em dezembro, mas a pasta não manifestou interesse.

Em dezembro, as negociações voltaram a andar, e o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a afirmar que a imunização poderia começar ainda naquele mês caso a Pfizer adiantasse alguma entrega. Mas nessa altura, a Pfizer havia informado que não poderia mais entregar doses antes da virada do ano. Ainda assim, o governo chegou a incluir uma oferta da empresa no seu vago plano de imunização.

No entanto, as negociações logo voltaram à estaca zero, diante da contrariedade de condições impostas pela empresa. O governo afirmou que a Pfizer insistia em uma cláusula de isenção de responsabilidade em relação a possíveis efeitos colaterais da vacina contra a covid-19. No final de dezembro, o presidente Jair Bolsonaro chegou a reclamar publicamente da farmacêutica ao afirmar que não havia garantia de que a vacina não transformaria quem a tomasse em “um jacaré”. Sem um contrato com o governo, a Pfizer anunciou em dezembro que não pretendia mais solicitar uma autorização de uso emergencial junto à Anvisa.

Em janeiro de 2021, a disputa voltou a esquentar, quando o governo divulgou uma nota incendiária afirmando que a Pfizer estabelecera “cláusulas leoninas” em seus contratos, que a empresa só previa uma pequena entrega inicial de vacinas como “conquista de marketing” e que a chegada de poucas doses “causaria frustração em todos os brasileiros”, sugerindo que era melhor não receber nada do que pouco. Por fim, o governo ainda insinuou que a Pfizer estava tentando sabotar a campanha de imunização no Brasil por ter supostamente ficado frustrada com o governo adquirindo doses da AstraZeneca e da Coronavac, promovida pelo governo de São Paulo.

Já a Pfizer afirmou que os contratos oferecidos ao governo brasileiro eram idênticos aos que foram submetidos em dezenas de países que já fazem uso do imunizante.

Por fim, em março, o governo federal anunciou a compra de 100 milhões de doses, que começaram a chegar agora ao Brasil.

 

Fonte: Deutsche Welle (DW)