É incrível a sensação que sinto quando imagino Salvador sem a maior festa do planeta, que é o carnaval da Bahia. Eu que tive a oportunidade de viver o carnaval desde a época em que as cadeiras de lona povoavam as principais ruas do Centro, como parte do Terreiro de Jesus, Rua da Misericórdia, Rua Chile, Avenida Sete… As famílias já na quinta-feira começavam a marcar seus espaços e famílias inteiras se revezavam para ver os clubes passarem! Cruz Vermelha, Fantoches, Os Inocentes em Progresso e outros tantos. Aí surgem os Filhos de Gandhi, Filhos do Morro, Filhos de Obá e os blocos de índio, como o Apache do Tororó, os Tupis-Guaranis, os Comanches… As grandes escolas de samba e o trio elétrico chegam para trazer uma verdadeira transformação no carnaval! Diante de tudo temos figuras imorredoras que tanto ajudaram no desenvolvimento deste evento, que nos anos anteriores envolviam milhões de reais! Tenho na minha mente a lembrança viva de Nelson Maleiro com sua tenda na Barroquinha e como remador e outras profissões que o mesmo exercia, dirigiu com maestria os Mercadores de Bagdá e Cavalheiros de Bagdá. Bastante inventivo. Lembro-me da baleia jogando água e do dragão que cuspia fogo. No Domingo de carnaval, quando descia a Ladeira da Praça para se recolher no Ginásio São Salvador, na Barroquinha, o carro pegou fogo e quando parecia que a entidade não sairia na terça-feira, Maleiro, inventor como era, escreveu nos escombros do carro alegórico: “Os maus por si se destroem” e arrancou aplausos na avenida! Como rei momo mais polêmico da história, pois precisou o ministério intervir, gostaria de poder falar mais do nosso carnaval. Hoje, a Praça Castro Alves continua sendo do povo, para que debruçado na Bahia de Todos os Santos, possa pedir não só a todos os santos, mas a Deus e todas as forças da natureza, o fim da pandemia, para que no próximo ano possamos balançar a praça. Alô, Moraes Moreira! “Ver o índio enrolando a pamonha…” alô, Sílvio Mendes! Sejamos sensatos e fiquemos em casa. Os carnavais voltarão e a vida na sua imensidão é uma só e precisa ser preservada!

Clarindo Silva
Jornalista, poeta, escritor, empreendedor.