(Crédito: Alejandro Zambrana/Sesai)

“Eles (cubanos) não criavam nenhuma dificuldade para ir na aldeia”

Entre janeiro e setembro de 2019 – último mês com estatísticas disponíveis – morreram 530 bebês indígenas com até um ano de idade, alta de 12% em relação ao mesmo período de 2018. É o maior número desde o início do programa Mais Médicos – encerrado no fim de 2018, após a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais.

Os dados foram obtidos pela BBC News Brasil via Lei de Acesso à Informação. Ao site, indígenas e especialistas no setor apontam entre as causas para o aumento o fim do convênio entre o Mais Médicos e o governo de Cuba, em dezembro de 2018, e mudanças na gestão da saúde indígena no governo Bolsonaro.

Logo em janeiro de 2019 (mês seguinte ao fim do convênio com Cuba), houve 77 mortes de bebês indígenas — o índice mais alto para um único mês desde pelo menos 2010.

“Eles (cubanos) não faziam objeção, não criavam nenhuma dificuldade para ir na aldeia, conviver com a realidade. Com a saída deles, sentimos esse impacto”, afirma à BBC News Brasil Sérgio Bute, indígena do povo pataxó hã-hã-hãe que preside o Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) da Bahia.

“Temos médicos brasileiros excelentes, mas também temos aqueles que aparecem no serviço uma vez por semana e vivem apresentando atestado”, diz Paulo Tupiniquim, coordenador-executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e membro do conselho de saúde do DSEI Minas Gerais e Espírito Santo.

“É uma postura completamente diferente da dos cubanos. Com eles não tinha tempo ruim: podia estar chovendo ou fazendo sol, eles tinham essa preocupação de levar o atendimento, de manter o contato com a população”, completa Tupiniquim.

Conversa Afiada