A CPI da Pandemia pediu nesta quinta-feira (17/06) a condução coercitiva e apreensão do passaporte do empresário bolsonarista Carlos “Wizard” Martins. Suspeito de ser um dos organizadores de um “gabinete das sombras” que funcionava paralelamente ao Ministério da Saúde para promover tratamentos ineficazes, Wizard era esperado pelo colegiado para prestar depoimento nesta quinta, mas não compareceu.

A comissão também esperava ouvir o depoimento do auditor Alexandre Silva Marques, que fabricou um relatório que foi falsamente atribuído ao Tribunal de Contas da União (TCU) e divulgado pelo presidente Jair Bolsonaro há duas semanas.

O documento distorcia dados para promover uma versão falsa de que as mortes por covid-19 estão sendo “supernotificadas”, e foi inicialmente enviado pelo próprio Planalto a jornalistas bolsonaristas. Mesmo após a revelação de que o documento era falso, Bolsonaro continuou a propagandear as conclusões do relatório forjado.

Próximo do clã Bolsonaro, Marques, cujo pai é um militar que estudou com o presidente nos anos 1970, chegou a comparecer ao Senado para falar, mas seu depoimento foi adiado por causa do início de uma sessão deliberativa do Senado, que inclui a votação de uma Medida Provisória para abrir caminho para a privatização da Eletrobras. A nova data do depoimento de Marques ainda não foi anunciada.

O ausente Wizard

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), criticou Wizard pelo não comparecimento. O senador destacou o fato de o empresário ter solicitado ao Supremo Tribunal Federal (STF) um habeas corpus (HC) para permanecer em silêncio durante a oitiva.

“O que me espanta é um cidadão procurar HC para vir à CPI ficar em silêncio e ele não aparecer. Para que foi ao STF se não vinha? O ministro [Luís Roberto] Barroso [do STF] com certeza tem muitos afazeres, concede um HC para Wizard, e ele tem que entender que a Justiça brasileira tem outras coisas para fazer, não dá para levar na brincadeira o STF. Às 7h, a secretaria da CPI recebeu pedidos dos advogados para audiência sobre redesignação da data. É uma brincadeira dele, né. Uma data combinada para ele vir é uma autoridade”, disse Aziz.

Carlos “Wizard” Martins, que se tornou conhecido como fundador de uma rede de escolas de inglês que leva seu apelido, é suspeito de ser um dos organizadores do “gabinete das sombras” que operava paralelamente ao Ministério da Saúde para promover drogas ineficazes junto à população. O gabinete incluía figuras como a oncologista Nise Yamaguchi e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), um dos principais ideólogos do negacionismo junto ao Planalto.

Em julho do ano passado, em entrevista à TV Brasil ao lado de Yamaguchi, Wizard relatou como havia organizado um grupo de médicos em um “conselho científico independente” para divulgar o chamado “tratamento precoce”, como os bolsonaristas se referem ao coquetel de drogas ineficazes contra a covid-19.

Wizard atuou como conselheiro do então ministro da Saúde Eduardo Pazuello em 2020 e quase foi nomeado para um cargo oficial no ministério, mas a indicação foi retirada após o empresário sofrer críticas por sugerir, sem provas, que o número de mortes por covid-19 no Brasil estava sendo artificialmente superestimado.

Nos últimos meses, Wizard, um entusiasta da cloroquina, ainda tentou liderar uma iniciativa fracassada de empresários para adquirir vacinas para o setor privado. Apesar de prometer que iria conseguir “milhões” de doses, ele não adquiriu nenhuma vacina no mercado mundial.

No momento, o empresário alega que está nos Estados Unidos “para acompanhar o tratamento de saúde de um familiar”. Ele também justificou que está sem passaporte. Para provar que está nos EUA, ele apresentou à CPI a reprodução de uma página do site do Serviço de Alfândegas e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos, que atestaria que ele entrou naquele país no dia 14 de abril.

Membros da CPI reclamaram nos últimos dias que Wizard vinha evitando responder tentativas de contato. Na segunda-feira, ele finalmente enviou um ofício ao colegiado solicitando que seu depoimento ocorresse de forma virtual. O pedido foi recusado pela cúpula da CPI, que afirmou que tomaria “providências” caso o empresário não comparecesse.

Wizard também teve a quebra dos sigilos telefônico, telemático e bancário determinada pela CPI. O empresário chegou a recorrer ao STF, mas teve o pedido negado pela ministra Rosa Weber.

Fonte: Deutsche Welle (DW)