Escuta telefônica da Polícia Civil do Rio sob comando do Ministério Público, durante investigações depois da decretação da prisão do chefe do Escritório do Crime, o ex-PM Adriano da Nóbrega, foi interrompida em fevereiro de 2020 depois da menção ao nome de Jair Bolsonaro nas gravações. O assunto deveria ter sido remetido à Procuradoria Geral da República, que tem a prerrogativa de apurar suspeitas relacionadas ao chefe do Executivo, mas isso nunca aconteceu. A revelação é do Intercept Brasil.

Reportagem de Sérgio Ramalho informa que cinco dias depois da morte de Adriano da Nóbrega, em 9 fevereiro de 2020, uma de suas irmãs afirmou em um telefonema que queriam ligar seu irmão a “Bolsonaro”. Tatiana Magalhães da Nóbrega referia-se ao presidente da República, Jair Bolsonaro, segundo trecho do relatório técnico da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio de Janeiro.

O monitoramento teve início em 6 de fevereiro de 2019, poucos dias depois de Adriano ter tido a prisão decretada na operação Intocáveis, que levou o Ministério Público a denunciar policiais e ex-policiais militares ligados à milícia de Rio das Pedras e da Muzema, na zona oeste do Rio. Uma das principais atividades da organização criminosa é a construção ilegal de prédios em terrenos invadidos.

Na conversa interceptada em 14 de fevereiro de 2020, Tatiana fala com uma mulher não identificada, lamenta a dificuldade em liberar o enterro do irmão e diz que Adriano “tinha muita coisa e mexia com muita gente”. Depois, cita o presidente.

Sete dias depois  da conversa em que o nome do presidente aparece, um relatório obtido por Sérgio Ramalho mostra a opção do MP por não renovar as escutas no telefone da irmã do ex-capitão. O Ministério Público fluminense não tem atribuição para investigar o presidente da República. Entretanto, cabe à instituição encaminhar as informações à Procuradoria-Geral da República, a PGR, que tem a prerrogativa de apurar suspeitas relacionadas ao chefe do Executivo, o que nunca foi feito.

O clã e os milicianos

A ligação dos Bolsonaros com os milicianos da zona oeste do Rio vem de longa data. Flávio, então deputado estadual, nomeou a mãe e a ex-mulher de Adriano em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Nóbrega recebiam sem trabalhar e devolviam parte dos salários ao ex-PM Fabrício Queiroz, que atuava como assessor do parlamentar – as famosas rachadinhas. Inclusive, o MP do Rio protocolou uma denúncia contra Flávio citando Adriano como um dos envolvidos no caso.

Amigo do ex-capitão Adriano nos tempos de Polícia Militar, Queiroz é um dos muitos PMs e militares que orbitam a família Bolsonaro desde os anos 1980. “Ele [Queiroz] é meu amigo desde 1985, é meu soldado”, já afirmou Bolsonaro ao ser questionado sobre a relação com o assessor.

 

Fonte: Brasil 247