Em sua coluna de estreia na Carta Capital, o jornalista Glenn Greenwald culpou a imprensa brasileira pelo impeachment de Dilma Rousseff, “que trouxe o Brasil a esta situação”. “Tudo ocorreu com o beneplácito da mídia”, afirmou.

Segundo ele, o impeachment de Dilma foi uma “injustiça histórica, cuja importância foi ofuscada pela gravidade dos eventos subsequentes”.

“A primeira vez que usei minha plataforma para opinar sobre uma polêmica nacional foi quando o então juiz Sergio Moro vazou conversas privadas entre a então presidente Dilma e o ex-presidente Lula. Àquela época, antes da #VazaJato, não se sabia tanto sobre os abusos de Moro, mas eu, como advogado e jornalista, sabia que aquilo era absurdo. Por isso critiquei fortemente Moro em várias plataformas. Não esperava que isso fosse controverso. O abuso me parecia óbvio”, contou o jornalista norte-americano radicado no Brasil.

“Eu estava enganado: foi muito controverso. Chamou-me atenção que os jornalistas mais incomodados eram os brasileiros”, afirmou.

Segundo ele, os jornalistas nacionais “defendiam Moro como quem defende um amigo”. “Foi aí que percebi que havia algo errado entre a mídia brasileira, a Lava Jato, Moro e o governo Dilma”, escreveu.

Greenwald lembrou ainda que “o grupo Repórteres Sem Fronteiras denunciou a própria mídia brasileira em 2017 como uma ameaça à liberdade de imprensa, argumentando que a homogeneidade ameaçava o pluralismo e o jornalismo”.

“Considero o impeachment o pecado original que iniciou o processo de erosão democrática que se estende até hoje”, argumentou.

“Era óbvio naquela época que a campanha pelo impeachment era um ataque à democracia. Os inimigos do PT viram a chance de conseguir o que não conseguiram nas urnas: a Presidência. Para isso, usaram táticas antidemocráticas, maquiadas com um verniz de legitimidade constitucional. Foi esse o evento que legitimou a ideia de que às vezes se pode driblar a democracia para atingir objetivos políticos. Armou-se o quadro ideal para o surgimento de Bolsonaro”, declarou.

“Fica claro que foram Moro e seu abuso de poder, mais do que qualquer outra causa, que pavimentaram o caminho para Bolsonaro. Além de prender Lula e o tirar das eleições e dar a Bolsonaro o manto da anticorrupção, as digitais do Moro aparecem já no impeachment”, disse o jornalista.

Ele reforçou que “a grande fiadora disso tudo foi a mídia brasileira, que transformou Moro em herói e liderou a campanha contra Dilma”.

“Uma democracia não necessita somente de mídia, mas de jornalismo. E isso significa questionar e investigar, não repetir e espalhar, as devoções e ortodoxias da mídia corporativa e seus mestres”, concluiu.

 

Fonte: Brasil 247