Homens armados mataram mais de 100 pessoas em um ataque na madrugada desta quarta-feira (23) na região de Benishangul-Gumuz, no oeste da Etiópia, segundo a comissão de direitos humanos do país.

O ataque ocorreu no vilarejo de Bekoji, no condado de Bulen, na zona de Metekel, uma região habitada por diversos grupos étnicos, informou a Comissão Etíope de Direitos Humanos em comunicado.

Segundo a agência Reuters, Gashu Dugaz, um oficial sênior de segurança regional, disse que as autoridades tinham ciência do ataque em Benishangul-Gumuz e estavam verificando as identidades dos agressores e das vítimas, mas não deram mais informações.

A região é o lar do povo Gumuz, mas, nos últimos anos, agricultores e empresários da região vizinha de Amhara começaram a se mudar para o local, o que levou alguns Gumuz a reclamar que terras férteis estavam sendo tomadas pelos novos moradores.

Alguns líderes de Amhara estão dizendo agora que parte das terras na região – especialmente na zona de Metekel – pertence a eles por direito, alegações que irritaram o povo Gumuz.

“Em ataques anteriores, os responsáveis eram pessoas que vinham da ‘floresta’, mas, neste caso, as vítimas disseram conhecer os envolvidas no ataque”, disse a comissão de direitos humanos na nota.

Um agricultor disse à Reuters que contou 82 cadáveres em um campo perto de sua casa após a operação de quarta-feira (23). Ele relatou que tentou fugir do ataque, mas acabou baleado. Além disso, sua esposa e cinco de seus filhos foram mortos, enquanto outras quatro crianças conseguiram escapar e agora estão desaparecidas.

Outro morador da cidade disse que homens armados invadiram a área por volta das 6h locais (0h em Brasília). Ele revelou à Reuters que contabilizou 20 corpos em um local diferente, mas também acabou baleado pelos atiradores.

Um médico local disse que ele e seus colegas atenderam 38 feridos, a maioria com ferimentos a bala. Alguns pacientes lhe contaram que parentes tinham sido assassinados a facadas e que os atiradores incendiaram casas e dispararam contra as pessoas que tentavam escapar, disse ele.

“Não estávamos preparados para isso e estamos sem medicamentos”, disse à Reuters uma enfermeira da mesma unidade, que acrescentou que uma criança de cinco anos morreu durante o transporte para a clínica.

O ataque acontece um dia depois que o primeiro-ministro Abiy Ahmed, o chefe do Estado-Maior militar e outros funcionários do alto escalão do governo federal visitaram a região para pedir calma após vários incidentes que resultaram em mortes nos últimos meses, como um ataque ocorrido em 14 de novembro, no qual atiradores alvejaram um ônibus e mataram 34 pessoas.

​O desejo dos inimigos de dividir a Etiópia em linhas étnicas e religiosas ainda existe. Esse desejo não será realizado. Em conversas com os moradores de Metekel, a vontade manifestada por nosso povo de união, paz, desenvolvimento e prosperidade é muito maior que essa agenda de divisão.

A Etiópia tem enfrentado surtos regulares de violência desde que Abiy assumiu o governo em 2018 e acelerou as reformas democráticas que afrouxaram o controle do Estado sobre as rivalidades regionais. Com a proximidade das eleições, que acontecerão em 2021, as tensões latentes sobre terra, poder e recursos inflamaram ainda mais.

 

Fonte: Sputnik Brasil