Maíra  Nery*

Atualmente o capital e o trabalho constituem os fatores de produção que estimulam a economia, sendo que no modo de produção capitalista os meios de produção (o capital) pertencem à burguesia e o trabalho vem da mão de obra dos proletariados, que nada tendo a oferecer ao mercado vende a força de trabalho. Ou seja, na balança econômica do capitalismo a produção dos bens e dos serviços depende do trabalhador; sem ele não haveria bens de produção e consequentemente os capitalistas não teriam mercadorias para vender e o dinheiro não circularia. Basta ver o que aconteceu recentemente com a paralisação dos caminhoneiros: produção parada, milhões de prejuízos e a constatação da força do trabalhador.

Essa forma de produção já está sendo ameaçada com a chegada da revolução tecnológica. Fala-se, inclusive, em um novo modo de produção pós-capitalista ou uma nova forma de capitalismo e na quarta revolução industrial.  Essa nova forma de produção alia tecnologia e velocidade e os impactos são vistos em toda a cadeia produtiva do negócio, desde a liderança, que precisará estar atualizada cada vez mais – até o cliente, que não estará só mais exigente, como, principalmente, participante em relação aos produtos ou serviços oferecidos.

É nesse novo cenário que surge a inteligência artificial (IA), uma evolução da computação. A IA pode ser um hardware ou software que responde de forma inteligente aos padrões de um banco de dados, com o intuito de aperfeiçoar a produção. Já existe assistentes pessoais movidos a voz como Siri e Alexa e robôs dotados de inteligência artificial capazes de substituir os humanos em várias profissões; recentemente a China apresentou ao mundo seu primeiro robô apresentador de programas de notícias, cujo nome é Chao Neng Xiao Bai.

O aprofundamento da automação seria capaz de substituir toda a produção humana por máquinas artificialmente inteligentes. Não será impossível imaginar uma instalação sem a presença humana, apenas máquinas trabalhando e um único trabalhador acompanhando e verificando a produção. Esse único trabalhador não precisaria nem estar perto, de qualquer lugar do mundo poderia controlar diversas produções.

Estima-se que 47% dos postos de trabalho estão em risco e milhões de trabalhadores serão dispensados com estas tecnologias; um novo cenário com mais desemprego e mais desigualdade salarial, que inclusive seria desastroso para a burguesia; sem ter quem compre os produtos e serviços não haverá lucro, podendo surgir, em longo prazo, uma crise econômica e social sem precedentes.

Entretanto, não se pode culpar a tecnologia pela possibilidade desse futuro sombrio aos trabalhadores; o vilão é o sistema econômico e social que as utiliza. O desenvolvimento tecnológico pode melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, já que reduziria o tempo de trabalho, eliminar a pobreza, poderia, inclusive, acabar com a poluição e a degradação do meio ambiente.

É o sistema capitalista e sua lógica perversa de lucro que poderá tornar as novas ferramentas tecnológicas um grande perigo para o sistema econômico.

A inteligência artificial se baseada nas necessidades sociais poderá tornar a vida humana mais justa e sobretudo digna.

Isso posto, conclui-se que é urgente que o desenvolvimento tecnológico esteja a serviço do homem. O homem é quem deve ser a peça fundamental na engrenagem do desenvolvimento tecnológico, jamais a lógica do mercado – o aumento do lucro. E assim sendo o surgimento de uma nova sociedade, mais humana, mais justa e igual será plenamente possível.

*Maíra Nery é estudante de Letras da Universidade Federal da Bahia