O cardiologista Marcelo Queiroga foi empossado no Palácio do Planalto como novo ministro da Saúde em uma cerimônia discreta nesta terça-feira (23/03), sem a presença de convidados ou jornalistas. O evento não constava na agenda oficial da Presidência.

Seu nome fora anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro há mais de uma semana. O vácuo deixado no ministério nos últimos dias, período em que a pasta ficou sem comando após a saída do general Eduardo Pazuello, vinha gerando fortes críticas ao governo federal.

Quarto ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro, Queiroga assume o cargo em um momento em que o Brasil caminha a passos largos para a marca de 300 mil mortes por covid-19, e passou a ser visto como uma ameaça internacional devido à forma como lida com a pandemia.

A situação de seu antecessor, Pazuello, ficou insustentável após as inúmeras falhas do governo federal em organizar uma distribuição eficiente das vacinas pelo país e com o agravamento da falta de medicamentos e recursos essenciais no combate ao coronavírus.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a cerimônia de posse foi realizada nesta manhã desta terça-feira após pressão do bloco parlamentar do chamado Centrão, do qual o presidente depende para o avanço de algumas de suas principais bandeiras políticas no Congresso.

A nomeação de Queiroga deve ser publicada em edição extra do Diário Oficial da União, que deve também confirmar a indicação de Pazuello para a chefia do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI).

Sai um general, entra um médico

Ao contrário de Pazuello, Queiroga tem currículo na área médica. É presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e diretor do Departamento de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista de um hospital em João Pessoa.

Mas o fator determinante para sua escolha foi mesmo a proximidade com o clã Bolsonaro. Seu padrinho na indicação foi Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente. Queiroga é amigo da família da mulher do senador. Ele é ainda próximo de políticos paraibanos.

O médico também é bolsonarista. Ele apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018 e integrou a equipe de transição do então presidente eleito. Por outro lado, sua postura ao longo da pandemia contrasta à primeira vista com os adeptos mais radicais do bolsonarismo.

Não há sinais de negacionismo em suas falas públicas nos últimos 12 meses. Ele defendeu o uso de máscaras, a vacinação e o isolamento social, e disse após ser indicado que seu ministério será pautado pela ciência.

Na terça-feira da semana passada, um dia após a sua indicação, Queiroga afirmou ser preciso “união da nação” para enfrentar a “nova onda” da pandemia de covid-19.

Em pronunciamento, o médico cardiologista defendeu o Sistema Único de Saúde (SUS) e citou a importância das “evidências científicas” em futuras ações da pasta.

A SBC, sociedade que ele preside, também já publicou notas em que não recomenda o uso da cloroquina contra a covid-19. A droga ineficaz é desde março de 2020 a principal aposta de Bolsonaro para lidar com a pandemia. Na gestão Pazuello, sob ordens de Bolsonaro, a cloroquina foi distribuída em largas quantidades.

“A política é de Bolsonaro, não do ministro”

O histórico da Saúde sob o governo Bolsonaro não é favorável para ministros que vêm da área médica: dois dos três antecessores de Queiroga, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, também eram médicos e entraram em choque com a postura negacionista e anticiência de Bolsonaro.

Mandetta durou apenas um mês e meio no cargo após a detecção do primeiro caso de covid-19 no Brasil. Teich ficou 29 dias. Não médico, porém obediente ao chefe, Pazuello ficou dez meses.

Ao anunciar Queiroga, Bolsonaro disse que o médico vai dar “prosseguimento em tudo o que Pazuello fez até hoje”. A fala foi imediatamente criticada por adversários do presidente, que lembraram o avanço dramático da pandemia durante a gestão do general e episódios trágicos como a falta de oxigênio em Manaus.

O próprio Queiroga, em falas após o anúncio, declarou que “a política é do governo Bolsonaro, não do ministro da Saúde”. “A Saúde executa a política do governo”, disse, parecendo ecoar uma declaração de Pazuello em outubro passado: “Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece”.

Também há dúvidas se Queiroga vai ter autonomia para montar sua equipe no ministério. No momento, dezenas de postos-chave da pasta estão ocupados por militares sem experiência em saúde, vários deles negacionistas e adeptos de tratamentos ineficazes.

 

Fonte: Deutsche Welle (DW)