O Mercosul vive um período de letargia pela falta de interesse do governo de Jair Bolsonaro, mas tem todo o potencial para recuperar sua vitalidade, afirmou o ex-chanceler Francisco Rezek, que participou da assinatura do Tratado de Assunção há 30 anos.

Em entrevista à Sputnik por ocasião do aniversário de três décadas da assinatura do tratado que deu origem ao bloco, Rezek, que foi Ministro das Relações Exteriores do Brasil durante o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello, indicou que o Mercosul está vivo, mas respirando por aparelhos.

“No momento, o Mercosul depende de oxigênio artificial, assim como o BRICS. Ambos os blocos estão hibernando por causa da extravagância que é o governo Bolsonaro, mas os dois têm uma vitalidade intrínseca que os levará a bom termo no médio prazo”, disse Rezek à Sputnik.

Para o ex-chanceler, que também foi ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), a tensão entre os maiores países do bloco, Brasil e Argentina, devido à “bipolaridade” entre a extrema-direita de Bolsonaro e o governo de Alberto Fernández, “compromete o ritmo de evolução” do Mercosul.

Rezek considera que, apesar da paralisação atual, o Mercosul “ainda vale a pena”, e não compartilha as críticas que o governo brasileiro, na figura do ministro da Economia Paulo Guedes, fez contra o bloco econômico, especialmente no início do mandato de Bolsonaro.

As dúvidas que pairam sobre a união econômica entre os países vizinhos do Cone Sul, sob o argumento de que ela impede que o Brasil faça acordos bilaterais vantajosos com outros países, foram amenizadas com a assinatura do histórico acordo comercial com a União Europeia (UE), após quase 20 anos de negociações, embora o mesmo ainda não tenha sido ratificado.

Reunião dos líderes do Mercosul na Argentina em 2019
© AP PHOTO / GUSTAVO GARELLO Reunião dos líderes do Mercosul na Argentina em 2019

Mesmo assim, o fortalecimento do Mercosul não está entre as prioridades do governo Bolsonaro, como foi o caso dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), como reconhece Rezek, que, apesar das divergências ideológicas, aplaude o trabalho que foi realizado, sobretudo pelo ex-chanceler Celso Amorim, responsável por conduzir a política externa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Rezek lembrou que, naqueles anos, o Brasil trabalhava para o Mercosul e organizava o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estreitando as relações com Rússia e China, o seu principal parceiro comercial.

“O governo do PT, por mais crítico que eu seja dele, demonstrou que não era preciso sacrificar o Mercosul para forjar laços com outras nações”, destacou o ex-chanceler.

Fonte: Sputnik Brasil