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Ela estava internada desde janeiro no Rio de Janeiro e enfrentava problemas na coluna

Morreu no fim da tarde desta terça-feira a cantora e compositora Beth Carvalho. Aos 72 anos, ela estava internada desde o dia 8 de janeiro no Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro. A causa da morte ainda não foi divulgada. Nota publicada na página de Facebook da cantora informa que “Nossa querida Beth Carvalho partiu hoje as 17h33, cercada do amor de seus familiares e amigos”.

“Beth deixa um legado inestimável para a música popular brasileira e sempre será lembrada por sua luta pela cultura e pelo povo brasileiro”, diz a nota, que segue: “Seu talento nos presenteou com a revelação de inúmeros compositores e artistas que estão aí na estrada do sucesso. Começando com o sucesso arrebatador de ‘Andança’, até chegar a Marte com ‘Coisinha do Pai’, Beth traçou uma trajetória vitoriosa laureada por vários prêmios, inclusive um Grammy pelo conjunto da obra”. A mensagem diz que os dados sobre o sepultamento serão informados assim que possível.

Beth Carvalho chegou a fazer um show deitada em 2018, por conta de problemas na coluna. Quando deu entrevista ao EL PAÍS em 2016, a cantora já se recuperava de problemas na coluna após passar um ano hospitalizada — em 2009, ela cancelou uma apresentação durante o show de réveillon na praia de Copacabana, por conta de dores no corpo. Três anos depois, a sambista faria uma cirurgia nas costas.

Na entrevista de 2016, a “madrinha do samba” falou sobre política e sobre os mais de 50 anos de carreira. “Antigamente o som do samba era mal gravado, tecnicamente falando. As gravadoras pensavam que era botar um bando de negros lá dentro e diziam: ‘vamos lá, batuca aí’. As pessoas não tinham noção de que você tem que ter um microfone para o surdo, tem que ter um microfone para o tam tam, entendeu? A coisa era mal tratada pelas gravadoras. Elas não entendiam o samba. Eu, Martinho da Vila, nossos produtores, os técnicos, fomos responsáveis por essa melhora.”

Proveniente da zona Sul do Rio, Beth Carvalho se destacou no samba quando o gênero era ainda muito masculino e ligado aos negros e aos moradores das favelas cariocas. O apelido de “madrinha do samba” veio do lançamento de nomes como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Jorge Aragão, e de seu trabalho de resgate de cantores como Cartola e Nelson Cavaquinho. “Eles sofreram muito, eram pobres, melhoraram, modéstia à parte, comigo. Muita gente pensava que o Cartola estava morto e ele veio à tona e a minha gravadora contratou ele, e passou a ter um disco por ano. Com Nelson Cavaquinho foi a mesma coisa. Não ficaram ricos, mas a vida deles melhorou bastante. Que é o justo, né?”.

Entre as várias notas de pesar publicadas pela morte da cantora,se destaca a da escola de samba  Mangueira, uma das paixões de Beth Carvalho. “Com muita tristeza no coração informamos a toda nação verde e rosa que nossa madrinha, Beth Carvalho, nos deixou essa tarde e foi para o andar de cima levar sua alegria junto aos mangueirenses Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Jamelão entre outros bambas do samba (…) Obrigado Madrinha!!”

Matéria publicada originalmente em El País Brasil