Em uma partida de veteranos em Wimbledon, o sueco Jonas Bjorkman rolou como Neymar (reprodução)

por Miguel Martins — Carta Capital

As simulações do camisa 10 da seleção tornaram-se um fenômeno pop no mundo, mas não é apenas no futebol que o País é alvo de piadas

Nas redes sociais é comum ver brasileiros “defenderem” Neymar. “Só nós podemos falar mal dele”, responderam muitos ao ator Matthew Lewis, da saga cinematográfica Harry Potter, que o chamou de “patético”. Difícil é controlar o fenômeno pop mundial de piadas sobre as quedas em campo do camisa 10 da seleção. Seria capaz de ameaçar a indiscutível supremacia brasileira na produção humorística dos fatos cotidianos?

Jamais. As melhores piadas sobre o jogador ainda são nativas. Um alfabeto com diferentes quedas de Neymar, que revela poses constrangedoras do atleta de A a Z, foi organizado pelo designer gráfico Luciano Jacob, de Curitiba. Um viciante jogo brasileiro de celular e computador chamado “Neyboy” desafia-nos a manter o astro de pé, enquanto figuras como Messi e Cristiano Ronaldo tentam nos atrapalhar na difícil missão.

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Embora quem melhor fale mal de Neymar ainda sejam os brasileiros, os estrangeiros assimilaram a piada em suas rotinas. Durante um jogo de exibição de atletas veteranos em Wimbledon, palco do mais famoso Grand Slam de tênis, o sueco Jonas Bjorkman levou uma bolada do companheiro Todd Woodbridge.

Após alguns segundos, caiu no chão e rolou da mesma forma que o jogador brasileiro na partida contra a Sérvia. O adversário iraniano Mansour Bahrami foi “chamado às pressas”, conferiu que a “vítima” estava sem pulso e passou a realizar uma respiração boca a boca em Bjorkman, para delírio do público inglês.

Wimbledon

@Wimbledon

Anyone call for a doctor? No, us neither…
…but Mnsour Bahrami still comes to the rescue anyway 😅

Na Inglaterra, as simulações de Neymar ganharam enorme projeção e sofreram críticas de diversos ex-jogadores e celebridades. Mas o fenômeno se espalhou pelo mundo.

No intervalo de um jogo amistoso entre o time mexicano Tijuana e o Club Sport Herediano, da Costa Rica, torcedores foram convidados a participar do desafio “Neymar”. O vencedor era o primeiro a atravessar rolando a linha do meio de campo. Espalharam-se vídeos de crianças em escolinhas de futebol praticando a tática “Neymar” de cair assim que o nome do jogador é mencionado. Um francês questionou um repórter do SporTV se ele era brasileiro, para então desmoronar frente à câmera. Uma gozação sem fronteiras. 

O olhar cômico estrangeiro sobre o camisa 10 da seleção revela algo de trágico, assim como eram as piadas de quatro anos atrás sobre a goleada de  7 x 1 da Alemanha. Nos últimos anos, não foi apenas no futebol que o Brasil transmitiu algo de ridículo para o resto do mundo. O presidente Michel Temer, por exemplo, foi protagonista de diversos episódios recentes. 

Seu discurso sobre o Dia das Mulheres em 2017 foi alvo do comediante britânico John Oliver. Na ocasião, Temer afirmou que ninguém é mais capaz “de indicar mudanças nos preços dos supermercados que as mulheres”. Ao comparar o discurso do emedebista com o de Vladimir Putin, governante de um país com profunda cultura misógina, o humorista afirmou que o russo era “modelo de sensibilidade” se comparado ao brasileiro. 

Durante as Olimpíadas realizadas no Rio de Janeiro, o comediante tripudiou do poema “Vermelho”, de autoria de Temer. Ele levou a plateia aos risos apenas por declamar os versos traduzidos para o inglês. 

 A possível “presença” de fantasmas no Palácio do Alvorada relatada por Temer à revista Veja foi alvo de matéria irônica da revista norte-americana Time. A cruzada do emedebista contra blogs e páginas de humor que utilizaram imagens oficiais do presidente para criar memes foi o gancho para uma matéria do New York Times intitulada “o governo deles está no caos, brasileiros temem que a piada recaia sobre eles”. 

Em meio à revelação de conversas nada republicanas entre Temer e o empresário Joesley Batista, a reportagem afirmava que a crise incentiva a tradição brasileira de misturar “a sátira e resignação existencial”. 

O brasileiro realmente tem talento para brincar com as desgraças, como bem analisa o jornalista Philipp Lichterbeck, da alemã Deustche Welle, parceira de CartaCapital. No artigo “O humor indestrutível dos brasileiros”, ele compara os locais à cena do filme A vida de Brian, da trupe satírica Monty Python. Crucificado, o protatagonista canta: “Sempre enxergue o lado bom da vida.”

Por outro lado, o brasileiro costuma reagir negativamente quando é alvo de piadas no exterior. Ao sermos ridicularizados, por Neymar ou por Temer, sofremos com o bullying e somos obrigados a refletir sobre nossa relevância ou não para o resto do mundo. É também muito comum ver manifestações agressivas contra essas críticas, do tipo “os gringos não sabem de nada”.

A cada piada com alguns de nossos símbolos, somos obrigados a testemunhar a imagem arranhada do País no exterior, que vai muito além de notas de agências de risco. Com um governo pouco respeitado e uma bagunça institucional surpreendente para outros países, certamente não são apenas as simulações de Neymar que levam à queda da nossa reputação.