Elaborado por Claci Ines Schneider – Mestre em estudos da Tradução e Professora da UNIASSELVI nos cursos de Letras Espanhol e Segunda Licenciatura em Espanhol

O ensino de línguas é, desde longa data, uma atividade que inspira diferentes metodologias e práticas em sala de aula. Isso se deve ao fato de que, mais que em qualquer outra disciplina, nas aulas de Línguas Estrangeiras (LE) trabalhamos com as quatro habilidades linguísticas: leitura, compreensão, fala e compreensão auditiva. Para alcançar todas elas, precisamos de diferentes ferramentas e métodos que ofereçam ao aluno o insumo necessário.

Uma das ferramentas possíveis é o dicionário, que, assim como ocorre com os livros didáticos, é amado por uns e odiado por outros. Essa repulsa vem, provavelmente, do tempo em que as aulas de LE eram ministradas na língua materna (LM), “em que os alunos deveriam memorizar palavras e regras de gramática para poder unir essas palavras e também a tradução” (LEFFA, 1988, p. 213). Essa metodologia tornou-se obsoleta, hoje as aulas são na língua-alvo, e procura-se ensinar a língua em seu uso real, sem tanto foco na forma.

Afirmam os mais céticos que ao usar o dicionário o aluno fica dependente dele e da constante tradução das palavras e, com isso, o contexto se perde, ou seja, o aluno não presta atenção na compreensão do texto e sim no significado isolado de cada palavra. Por outro lado, se bem utilizado, o dicionário pode ser uma ferramenta que ajuda muito o processo, pois, como afirma Lucindo (2008, p. 12), “o dicionário é uma das ferramentas mais utilizadas no ensino de LE”. Isso é fato, no entanto, o dicionário é pouco pesquisado e pouco explorado em sala de aula. Nele há muitos elementos que podem ser usados pelos professores e consulentes, mas que não é devidamente explorado.

O que acontece é que a falta de conhecimento sobre questões técnicas do dicionário faz dele apenas um transpositor de sentidos, trazendo o equivalente na língua estudada ou as definições, no caso do dicionário monolíngue. A propósito, diferentemente do que a maioria pensa, não existem apenas esses dois tipos de dicionário, o monolíngue e o bilingue. Há muitos outros: dicionário bilíngue, monolíngue, de sinônimos e antônimos, dicionário de expressões, de dúvidas, de uso, ilustrado, técnico, por especialidades, dicionário escolar, mini ou iniciante, avançado etc.

É importante observar que cada dicionário tem uma função e foi pensado para atingir determinados objetivos, tanto professor como aluno precisam ter isso claro. Imaginem comprar um aparelho eletrônico desconhecido e usá-lo sem ler o manual. Com o dicionário é a mesma coisa, neste caso, o manual são os textos iniciais ou paratextos, como são chamados na lexicografia[i]. Nesses paratextos estão dicas de como consultar o dicionário, que informações ele traz, o significado de siglas e abreviaturas, se há as informações sobre a pronúncia, dicas de divisão silábica, gênero das palavras etc.

Um dos grandes dificultadores para a consulta é que cada editora constrói seu dicionário de uma forma. Por essa razão é interessante sempre visitar os paratextos e só depois ir ao uso do dicionário. Entretanto, são raros os alunos que tiveram em algum momento de sua vida uma aula explicando como usar o dicionário. Seria um tempo muito bem empregado, pois sabendo usar essa ferramenta, o aluno se torna menos dependente e consegue sozinho buscar o que precisa.

Claro que não devemos fomentar no aluno a criação de uma necessidade constante de ter o dicionário em mãos. Acreditamos sim que o aluno deve tentar entender pelo contexto, porém, para produzir algo na língua estudada, ou seja, falar ou escrever, o aluno precisa de vocabulário. Se ele ainda não tem o domínio de um grupo grande de palavras, que melhor ferramenta que um dicionário? É só ensinar a usar e aproveitar.

Na era do material digital, em que o dicionário eletrônico surge com muitas outras opções e sem a limitação do espaço que um dicionário físico tem, tudo ficou mais fácil. Há muitos dicionários bons e de acesso gratuitos na rede, mas do mesmo modo, é preciso saber aproveitar o que ele tem a oferecer, com isso aprendemos, apreendemos vocabulário e podemos dedicar nosso tempo a melhorar outros aspectos da língua estudada. O que você acha? Vamos conhecer melhor nosso dicionário?