Por Eduardo Tito

“Está noite eu tive um sonho de sonhador, maluco que sou eu sonhei, com o dia em que a
terra parou” em 1977, o pai do rock brasileiro, Raul Seixas, profetizava o dia em que a terra parou.

Quase 50 anos depois, em 2020 o mundo foi sacudido em toda esfera global pelo novo
coronavirus (Covid-19), causando a contaminação de mais de 20 milhões de habitantes e
levando a morte mais de 730 mil pessoas em todo planeta. A quarentena foi instalada, o
isolamento e o distanciamento social foram apontados pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) como a única medida eficaz do momento para frear o avanço do covid-19.

A OMS nos orientou para novas práticas de comportamentos sociais nas ruas e assim nasceu à proposta do ‘novo normal’ sugerida como nova rotina dentro da pandemia provocada pelo covid-19, que nos obriga a reformular nossos padrões de sociabilidades, higienização frequente das mãos no nosso dia a dia, distanciamento sugerido em filas, uso constante das mascaras e, menos contato físico entre pessoas.

O que você leitor pensa que é o novo normal? Alguns até consideram o termo cafona. Mas o que importa mesmo é o significado social que o novo normal nos oferece. A China, país onde tudo começou, é normal o uso de mascaras por conta da imensa poluição do ar, é algo incomum entre os chineses. A higienização das mãos, deixar os calçados do lado externo das residências, o cumprimento sem abraços e apertos de mãos (uma leve inclinação do corpo para frente é a saudação padrão dos países asiáticos), são ações incomum na Ásia.

Nossos padrões de rotina foram quase que totalmente modificados pela pandemia. A
normalidade das idas aos mercados em família, dos passeios nos shoppings, bares,
restaurantes e pizzarias passaram para o mundo virtual. Dados da ACI Worldwide, empresa de sistemas de pagamento eletrônico, aponta que em 2020 o consumo via internet cresceu 209%.

Menos filas nos estabelecimentos é um novo normal. O estado da Bahia apresentou para
população o aplicativo Fique No Lar que já cadastrou mais de cinco mil empresas oferecendo diversos produtos e serviços para população em todo estado. A implantação da plataforma é uma parceria entre as Secretarias de Desenvolvimento Econômico (SDE), de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) da Bahia e o Instituto Federal do Ceará (IFCE) – desenvolvedor do sistema e está disponibilizado gratuitamente para plataformas IOS e Android. O governo do estado de São Paulo criou o aplicativo ‘Poupatempo Digital’, com mais de 60 serviços públicos oferecidos pelo celular. Iniciativas digitais como os dois exemplos citados acima também é, um novo normal.

Cada vez mais que a tecnologia adentra nossos lares digitalizando nossos serviços externos, é um novo normal que estamos construindo no nosso dia a dia. A digitalização de parte da nossa rotina gera conforto e segurança. Segurança sanitária e física. Menos ida aos bancos, menos assaltos. Menos contato físico em longas e aglomeradas filas, menos doenças ‘viralmente’ transmissível. Quanto mais digitalizamos nossos afazeres burocráticos, mais tempo sobra para realizar o desejo compartilhado por todos nós; mais tempo em nossas casas com nossos familiares e ente queridos. Queremos mais tempo para lazer. Ou simplesmente queremos tempo apenas para descansar o corpo e a mente. Um sentimento compartilhado por todos é a constante e desgastante rotina de trabalho externo e domestico. Quanto tempo gastamos no trânsito a caminho do trabalho ou do supermercado? Quanto tempo levamos para finalizar os pedidos da nossa dispensa pelo celular ou computador? O que podemos fazer com o tempo que nos sobra quando pagamos os boletos pelo celular? E o mercado de trabalho? Quantos empresários descobriram que podem ter funcionários trabalhando de casa? E o funcionário que viu na tecnologia a oportunidade de otimizar tempo trabalhando de casa podendo até faturar mais com outra função?

Agora é possível a realização dos pontos aqui apresentados. Porem, isso não é tão novo quanto pensamos. O novo normal para grande massa é novo. Mas já é normalmente rotineiro para os milhões de cidadãos amantes do mundo digital. Apple, Facebook, Google, Microsoft são exemplos de empresas que já atuam com seus quadros de funcionários em grande parte em suas residências. Cursos a distância já não é mais novidade há muito tempo nos países desenvolvidos. Nos subdesenvolvidos como o Brasil também não é novidade. O novo normal é mais amplo do que imaginamos apenas higienicamente. É uma oportunidade de avançarmos rumo ao tal progresso estampado em nossa bandeira. Este progresso pode nos colocar em ordem. Pois a desordem das quilométricas filas dos serviços públicos, dos bancos, cartórios, ônibus lotados, calçadas aglomeradas de pessoas e ambulantes, trânsitos cada vez mais engarrafadíssimos podem estar com os dias contados se de fato entendermos e praticarmos o novo normal.

Infelizmente a flexibilização nos mostrou que estamos diante de um pesadelo de consciência social e que podemos demorar a acordar. O coronavirus sacudiu o mundo. Mas tentaremos outra vez, pois é de batalha que se vive a vida.

Nota: o dia em que a terra parou é uma composição de Raul Seixas e Claudio Roberto