João Leão disse que não vai interferir na escolha do nome que vai suceder o atual presidente da AL-BA, Nelson Leal

Foto: Eduardo Tito/ViceGov

Tribuna da Bahia por: Guilherme Reis

O vice-governador João Leão não está disposto a fazer com que o PP recue na candidatura à Presidência da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). O braço direito do governador Rui Costa (PT) afirmou, em entrevista exclusiva à Tribuna, que não vai interferir na escolha do nome que vai suceder o atual presidente, Nelson Leal (PP). E mais: questionou o suposto acordo selado entre Leal, Rui e Adolfo Menezes (PSD) em 2018, que previa o pessedista no comando da Casa a partir de 2021. “As pessoas dizem que nós tínhamos um compromisso com o governador. O governador fez uma aliança com os dois presidentes [Leal e Menezes] e não com os partidos. Ele não participou dessa reunião em que ficou definido que nós deveríamos apoiar o candidato do PSD. O senador Otto Alencar também não participou. Eu e Otto não tivemos nenhuma conversa sobre isso. Absolutamente nenhuma. Não estamos traindo ninguém”, declarou Leão.

Todavia, a disputa na Assembleia lança dúvidas também sobre a manutenção da trinca entre PP, PSD e PT nas eleições de 2022. Nos bastidores, corre a informação de que o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), tem feito acenos cada vez mais escancarados aos progressistas e, inclusive, deve apoiar um nome da sigla para a Presidência da União dos Municípios da Bahia (UPB). Leão, todavia, afirma que a aliança está mantida e comenta também a possibilidade de candidatura do senador Jaques Wagner (PT) ao Estado. “O caminho é o de decidir entre nós, conversarmos e discutir entre nós um candidato com viabilidade eleitoral para chegarmos na frente”, avisou.

Tribuna – Qual é a sua avaliação das eleições municipais? Como viu o desempenho do PP na Bahia e também as eleições em Salvador? Qual foi a sua impressão sobre este pleito?

João Leão – Em primeiro lugar, tive a honra de ver o PP pulando de 56 prefeito para 92. Então, nós tivemos um crescimento muito acelerado. Foi uma coisa muito boa para o nosso partido. Saímos de cerca de 439 vereadores para cerca de 736 em 2020. Realmente foi uma alta. Quase que dobramos o número de vereadores. Então, para o partido, foi muito importante. Em Salvador, mantivemos a aliança com o PCdoB e apoiamos a candidata Olívia Santana, que passou relativamente bem pela eleição. Mas em Salvador já sabíamos que a candidatura do candidato de ACM Neto estava consagrada. O rapaz, o Bruno Reis, era o vice de Neto, era o secretário de Infraestrutura e tinha uma presença na cidade toda. Ganhou as eleições. A candidata do PT, a Major Denice, foi instada em cima da hora. E toda a nossa base progrediu muito, mas nós temos uma candidatura que não saiu desmoralizada. O PP é um partido muito forte no interior e agora vamos organizar o partido em Salvador. Já começamos bem. Tivemos 63 candidatos a vereadores. Por falta de 74 votos não conseguimos fazer um vereador.

Tribuna – O PCdoB chegou a reclamar de uma suposta falta de atenção do governador Rui Costa durante a campanha em Salvador. O senhor sentiu essa falta de apoio ou suporte na campanha? Ou acha natural que Rui tenha se centrado em Denice?

João Leão – Eu acho muito natural. Todo mundo reclama quando você é candidato. Todos ficam reclamando que deveriam ter recebido uma ajuda aqui ou acolá. Mas na eleição é assim. O governador tinha obrigação de ajudar o partido dele. Ele é do PT. Então, não acredito, não. Nós colaboramos bastante com o PCdoB. Viemos com uma série de candidatos e todo mundo com santinhos com o retratinho de Olívia. Todo mundo em uma cidade muito grande. Nós fomos bem. Isso daí eu não levo em consideração.

Tribuna – Com relação à disputa pela Presidência da Assembleia Legislativa da Bahia, na semana passada saiu a informação de que o deputado estadual Niltinho será o candidato pelo PP. Como estão essas conversas que o senhor está conduzindo e acompanhando?

João Leão – Essa relação do PP na Assembleia é uma relação que tenho deixado a cargo dos deputados. As pessoas dizem que nós tínhamos um compromisso com o governador. O governador fez uma aliança com os dois presidentes e não com os partidos. Ele não participou dessa reunião em que ficou definido que nós deveríamos apoiar o candidato do PSD. O senador Otto Alencar também não participou. Eu e Otto não tivemos nenhuma conversa sobre isso. Absolutamente nenhuma. Não estamos traindo ninguém. Estamos pleiteando uma questão no parlamento e isso é normal. Veja a disputa no parlamento nacional. Você tem candidatos de todos os partidos. E você vai viabilizar as candidaturas. É o que está acontecendo aqui também na Bahia. Vai ganhar quem tiver mais votos. Vamos disputar. O governador teve uma predileção pelo candidato Adolfo Menezes por uma questão que ele teve entre ele e o deputado Nelson Leal. Agora, eu não participei absolutamente de nenhuma conversação e não me sinto um traidor. Ao contrário, me sinto uma pessoa que está lutando pelos direitos do nosso partido.

Tribuna – O senhor acha que a disputa na Assembleia envolvendo principalmente o PP e o PSD pode colocar em risco ou até provocar um rompimento do na base do governador Rui Costa?

João Leão – Não vejo nenhuma Assembleia, nenhuma Câmara dos Deputados, em que não haja uma disputa pela Presidência. Não vejo. Isso é normal no parlamento. No parlamento você tem disputas de diversos partidos, seja em que país for, seja em que estado do Brasil for. No Senado estamos acompanhando a disputa, na Câmara dos Deputados a mesma coisa e na Assembleia Legislativa da Bahia idem. Isso não vai ter nenhuma trinca com a base do governador Rui Costa ou com a oposição. Nós temos um relacionamento muito bom com a oposição. Nós temos um relacionamento muito bom com a oposição. Sempre tivemos uma questão de educação e de novos rumos que a Bahia tem tomado, de respeitar a oposição e dar vez à oposição no parlamento. O governador Rui Costa atende todos os deputados de oposição com suas emendas individuais. É uma questão de ética. Então, o Partido Progressista tem ética.

Tribuna – Ainda sobre os planos do PP, tem se falado muito já sobre 2022 e sobre a possibilidade de Jaques Wagner se candidatar daqui ao Governo do Estado. Como avalia essa possibilidade?

João Leão – Quando falo da política estadual, como sou da área de engenharia, comparo com o teodolito – aquele aparelho que você faz topografia. De longe, através do teodolito, você vê a linha reta. Então, nós temos três pés no teodolito, que tem um pêndulo no meio: um é o PP, outro é o PSD e o terceiro o PT. O pêndulo são os partidos aliados que ficam ali. Então, quando você coloca os partidos em linha, se nós nos concentrarmos dessa maneira – com ética, perseverança, lealdade e companheirismo -, seja quem for o candidato a governador, nós ganharemos as eleições. Pode ser o senador Otto Alencar, o senador Jaques Wagner ou pode ser um candidato do PP. Nós temos diversas pessoas no PP que têm condições de serem os candidatos. Então, nós vamos para uma disputa política muito forte e muito grande com este grupo. Não pretendemos dizer ‘o candidato a governador será João Leão’. Acho que o caminho não é esse. O caminho é o de decidir entre nós, conversarmos e discutir entre nós um candidato com viabilidade eleitoral para chegarmos na frente.

Tribuna – O governo do Estado assinou o contrato com o consórcio chinês para a viabilidade da Ponte Salvador-Itaparica. A partir de agora, quais serão os próximos passos? Como está essa questão?

João Leão – Ontem tive uma reunião com o presidente da CR20 [China Railway 20 Bureau Group Corporation], que esteve aqui conosco na Bahia. Viemos discutir as questões da ponte. Temos a CCCC Ltd [China Communications Construction Company], que é a maior empresa do mundo e está na licitação junto com a CR20, que é a segunda maior do mundo. Então, nós temos a Ponte Salvador-Itaparica sendo considerada a maior obra de infraestrutura do Brasil. O governador Rui Costa e eu temos um cuidado muito grande para que esta obra seja realizada e efetivada. Ontem os diretores da CR20 confirmaram que estão querendo realmente fazer a ponte e acham que vão diminuir o prazo legal. Querem ter um tempo para avaliar o projeto. Eles já estão com 16 pessoas aqui na Bahia, engenheiros e técnicos, já vendo isso. Já alugaram um escritório aqui na Bahia e a coisa está começando. Acho que vai ser uma grande obra. E por falar em ponte, quero dizer para vocês que estamos iniciando os estudos pós-ponte. Quais são esses estudos? A ponte liga Salvador até a Ilha de Itaparica. Tem duas vertentes quando chega na Ilha: você tem a BA-001, que é a pista asfaltada hoje e denominamos de Via Turística; e temos no centro da Ilha uma via de Via Exporta, uma pista que vai assar em linha reta e que vai passar carretas e caminhões. Todo o tráfego pesado que entra em Salvador para o Porto vai vir pela Ponte Salvador-Itaparica e vai cair diretamente no Porto. Isso vai diminuir a mobilidade urbana dentro de Salvador. Facilitará sobremaneira o tráfego em Salvador. Outra coisa que estamos estudando é a continuidade da obra da ponte, que é a duplicação das vias nos sentidos de Santo Antônio de Jesus e Valença. Já começamos os estudos da duplicação da Ponte do Funil até Santo Antônio de Jesus; de Santo Antônio de Jesus até o Paraguaçu; do Paraguaçu até Itaberaba e de lá até Seabra; de Seabra até Ibotirama e de lá até Barreiras; e de Barreiras até Luís Eduardo Magalhães. E, no outro sentido, você duplicar até Valença, de lá até Ilhéus; e de Ilhéus até Porto Seguro. Esta agora é minha nova namorada.

Tribuna – O prefeito eleito de Salvador, Bruno Reis, disse que o governo tem a intenção de vender o Parque de Exposições, o Centro de Convenções e a área do Detran para pagar a Ponte. O que o senhor responderia a ele?

João Leão – Acho que o prefeito Bruno Reis deveria vir conversar conosco. Nós estamos a inteira disposição dele para conversar, discutir e explicar as coisas. Nós temos que ter com o prefeito Bruno Reis um bom relacionamento da mesma maneira que o governador Rui Costa teve com o prefeito ACM Neto. Então, o prefeito ACM Neto foi o grande beneficiado nas obras que o governo do Estado fez. Nós temos aí o Detran, que tem uma obra excepcional. Temos a Avenida Gal Gosta, a Avenida Orlando Gomes e todas as avenidas que cortam a península de Salvador. Acho que o prefeito Bruno Reis tem que ter a mesma elegância e a mesma vontade que o prefeito ACM Neto teve com o governador Rui Costa. Você tem que ter diálogo. E é isso que nós queremos do prefeito Bruno Reis.

Tribuna – Como o senhor avalia hoje o desempenho do presidente Jair Bolsonaro, principalmente no que se refere a crise ocasionada pela pandemia? Como está avaliando a postura e os posicionamentos dele?

João Leão – Conheço muito bem o presidente Bolsonaro. Ele foi meu colega na Câmara dos Deputados por 20 anos. Tenho com ele uma consideração muito grande. Nós fomos colegas. Outro dia lhe disse que, para resolver os problemas do governo, deveria pegar os celulares do filho dele e jogar em um balde d’água. Acho que o presidente Bolsonaro tem vontade de acertar, é muito impetuoso, mas tem a vontade de acertar. Errou em algumas questões no Ministério da Saúde, que está no quarto ministro. Agora, o meu lado político é o lado do governador Rui Costa, do senador Jaques Wagner, do senador Otto Alencar e do senador Angelo Coronel. Em política você tem que ter lado. O que tenho feito muito ultimamente e sido um ponto para que a corda não se rompa entre o governo estadual e federal. Não queremos romper essa corda. Da mesma maneira que foi muito bonito o governador Rui Costa e ACM Neto ficarem de braços dados nesta pandemia, sugiro ao prefeito Bruno Reis que faça isso também. E sugiro também que o presidente Bolsonaro venha para o outro lado. Como seria bonito esse novo tipo de política moderna. Bolsonaro de braços dados com Rui e do outro lado Neto de braços dados com Rui. Aí a Bahia e Salvador caminhariam melhor.

Tribuna – Como o senhor viu a nova fase da Operação Faroeste, deflagrada na semana passada, e que teve como alvo o ex-secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa? Acha que pode impactar no governo?

João Leão – Estava viajando muito pelo interior, com um grupo de empresários na Região do São Francisco, onde estamos implantando 11 usinas de açúcar e álcool. Já começamos a primeira e vamos começar a segunda, terceira, quarta… Essa usina, assim como a Ponte, têm um grande handicap para a receita do Estado da Bahia. Não tenho conhecimento disso que aconteceu com o secretário de Segurança Pública e nem com a moça da secretaria de Saúde [Viviane Chicourel, ex-diretora da Rede Própria Sob Gestão Indireta, presa preventivamente na última sexta-feira no âmbito da Operação Metástase], que também teve esse problema. Nem a conheço. Conheço bem o secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa. Tenho por ele uma admiração muito grande e espero que ele demonstre para a Justiça que ele não tem absolutamente nada, nada, nada… a ver com essa história.

Tribuna – Por falar nessa viagem, como vai se dar essa implantação do Polo Sucroalcooleiro na Bahia?

João Leão – Isso será uma das grandes obras da Bahia, assim como o Polo Petroquímico, que gera 30% da receita do Estado. O Centro Industrial de Aratu gera 10% e São Francisco do Conde, com a Refinaria Landulfo Alves, gera mais 10% da receita. O Polo Sucroalcooleiro vai gerar algo em torno, logo de imediato, nos próximos 10 anos, algo em torno de 15% da receita. A Bahia hoje arrecada R$ 44 bi e o Polo vai dar uma receita de algo em torno de R$ 5 bi. Estamos montando a primeira usina no município de Muquém de São Francisco e vamos montar mais três no município de Barra. Queremos transformar aquela região numa grande Ribeirão Preto, que é hoje o Polo Sucroalcooleiro do Brasil. Nós trazemos 52% desse álcool para a Bahia, o que é um absurdo, já que nós temos terras maravilhosas e uma produtividade muito maior.

Tribuna – Existem outros projetos?

João Leão – Quero falar um pouco da energia solar e eólica. Para você ter uma ideia, na questão de energias renováveis, a Bahia é hoje líder internacional. Nós já aplicamos na Bahia, nos últimos 10 anos, R$ 103 bi. Nesses últimos dois anos que estou sentado na cadeira de Secretário de Desenvolvimento Econômico, já assinei R$ 53 bi de protocolos de intenções para a implantação de energia eólica. Para você ter uma ideia, a Ponte Salvador-Itaparica é uma obra de R$ 5,3 bi. É a maior obra de engenharia do Brasil. Acabamos de assinar agora um protocolo de intenções que vai ser implantado no município de Terra Nova, onde a empresa vai aplicar recursos num projeto de energia eólica. Projeto de energia solar, nós temos previsto neste ano a aplicação de mais de R$ 20 bi. Estamos implantando 123 polos de energia eólica no valor de R$ 53 bi. É a Bahia caminhando para o mundo.

 

Matéria publicada no jornal Tribuna da Bahia