Foto: Divulgação/TRF-4

Curitiba queria “colocar a perninha” em processo contra Lula em Brasília. Além disso, trocou provas sem ofício e tinha pré julgamento sobre negócios da Odebrecht

Jornal GGN – A nova reportagem da série “Vaza Jato” divulgada pelo Intercept Brasil nesta segunda (10) mostra que a força-tarefa de Curitiba queria “colocar a perninha” até em investigação contra Lula que tramitava em Brasília, em mais uma demonstração de falta de imparcialidade.

Para isso, os procuradores espiaram provas do inquérito em Brasília antes de formalizar o compartilhamento de provas – algo que não é ilegal, mas mostra a hipocrisia do time de Deltan Dallagnol na guerra travada hoje com a Procuradoria-Geral da República pelo compartilhamento do banco de dados da operação em três estados.

Agora, a força-tarefa alega que só cede informações com motivação e decisão judicial. “Os procuradores de Curitiba não julgaram necessários os ritos e formalidades que agora exigem da PGR”, escreveu o Intercept.

As novas mensagens de Telegram divulgadas também mostram que a força-tarefa em Curitiba sabia que sua competência para julgar os processos contra Lula seria questionada pela falta de provas de conexão com a Petrobras.

Por isso, buscavam elementos em outras investigações, para forçar a narrativa de que sítio em Atibaia, triplex no Guarujá e qualquer outro suposto benefício das empreiteiras ao ex-presidente tinham conexão com a estatal.

No caso da investigação em Brasília, o que estava em jogo era o suposto tráfico de influência de Lula em favor da Odebrecht, em troca de obras financiadas pelo BNDES no exterior. Aliás, até na CPI do BNDES a força-tarefa foi buscar qualquer elemento para construir uma ação contra o petista.

Furtivamente, “a ideia da força-tarefa era juntar essas informações [obtidas em Brasília] ao material que já tinha sobre Lula. Os procuradores sonhavam em compor um caso forte que servisse para reforçar a competência deles nos processos contra o petista.” A defesa de Lula sempre apontou que todos os três casos elaborados em Curitiba, sob a batuta de Sergio Moro, deveriam ter tramitado, na verdade, em São Paulo.

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A reportagem mostrou inclusive que qualquer informação sobre a Odebrecht era previamente tida como suspeita. Prova disso é a mensagem enviada pelo procurador Diogo Castor de Mattos no grupo de Telegram: “Vcs sabiam? QUe o BNDES investiu nos últimos quinze anos USD 2,5 bilhões na Republica Dominicana, que entre 2011 e 2015 o BNDES investiu USD 5 bilhões em Angola, sendo que aproximadamente USD 2 bilhões para pagar hidreletrica de lauca que foi construída por… ODEBRECHT”.

Segundo Intercept, a intenção dos procuradores era provar que a Odebrecht foi favorecida em obras e, em troca, patrocinou palestas de Lula.

Em outro diálogo, o procurador Roberson Pozzobom [foto] comentou: “Aí já sabem, colocou a perninha da LJ lá [na ação em Brasília] com força, teremos ótimos trabalhos para mais uma década. Rsrsrs. Temos que expor as entranhas dessa ODEBRECHT. Mostrar que é a pirata das piratas. Demonstrar que espoliou o Brasil desde sua origem.”

Intercept lembrou que a “investigação em que a Lava Jato deu uma “olhadinha” gerou uma denúncia feita pelo MPF de Brasília em outubro de 2016. Taiguara dos Santos, sobrinho da primeira mulher de Lula, foi acusado de ganhar indevidamente um contrato com a Odebrecht em Angola, financiado pelo BNDES. Em junho de 2020, porém, a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região decidiu trancar a ação contra Taiguara e outro acusado. O TRF1 viu inépcia da denúncia. Lula segue respondendo ao processo.”