O pacto entre Ashraf Ghani (à esq.) e Abdullah Abdullah foi saudado por autoridades internacionais

Pacto encerra meses de instabilidade política no país, mergulhado em violência. Em março, tanto o presidente Ashraf Ghani como seu adversário nas controversas eleições, Abdullah Abdullah, se proclamaram presidentes.

O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, e seu adversário nas disputadas eleições presidenciais, Abdullah Abdullah, assinaram neste domingo (17/05) um acordo de compartilhamento de poder, encerrando vários meses de instabilidade política no país do Oriente Médio.

“O acordo político entre o presidente Ghani e o doutor Abdullah acaba de ser assinado. Abdullah vai liderar a Alta Comissão de Reconciliação Nacional, e os membros da sua equipe serão incluídos no gabinete do governo”, afirmou o porta-voz do presidente afegão, Sediq Sediqqi, no Twitter.

A comissão que Abdullah chefiará será responsável pelas negociações de paz com o Talibã, que busca pôr um ponto final em duas décadas de guerra. O conselho terá cinco representantes de cada um dos líderes. Ghani, por sua vez, continuará liderando o país como presidente.

Sediq Sediqqi

@SediqSediqqi

The Political Agreement between President Ghani and Dr. Abdullah Abdullah has just been signed. Dr. Abdullah will lead the National Reconciliation High Council and members of his team will be included in the cabinet. Details will be aired shortly by RTA.

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O porta-voz de Abdullah Omed Maisam, citado pela agência de notícias alemã dpa, afirmou que o médico de 59 anos deverá ter uma participação de 50% no governo, considerando ministérios, diretorias independentes e representantes de províncias.

Não ficou claro ainda quais posições ministeriais caberão à equipe de Abdullah. Durante as negociações do acordo, ele teria pressionado pelo controle de pastas importantes, como as de Finanças e Relações Exteriores.

“Uma equipe técnica trabalhará na implementação do acordo, e detalhes serão compartilhados mais tarde”, disse o porta-voz de Abdullah.

O pacto de divisão de poder foi saudado por autoridades internacionais, como o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, que apelou a favor da continuação dos esforços para acabar com a violência no Afeganistão.

“O secretário Pompeo lamenta o tempo perdido durante o impasse político”, disse a porta-voz Morgan Ortagus em comunicado. “Ele reiterou que a prioridade para os Estados Unidos continua sendo um acordo político para acabar com o conflito e saudou o comprometimento dos dois líderes em agir imediatamente em apoio à pronta entrada em negociações intra-afegãs.”

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também exaltou o acordo. “Saúdo a decisão tomada pelos dirigentes políticos afegãos de resolverem as suas diferenças e formarem um governo inclusivo”, afirmou Stoltenberg.

Tanto Ghani como Abdullah reivindicaram vitória nas controversas eleições presidenciais de setembro passado, marcadas por acusações de fraude e manipulação. Ghani foi declarado o vencedor oficial, mas o resultado foi rejeitado por Abdullah, que anunciou um governo paralelo. Em março, ambos realizaram cerimônias de posse separadas dentro do palácio presidencial em Cabul.

O impasse político levou os Estados Unidos a cortarem 1 bilhões de dólares em ajuda ao Afeganistão. Não ficou claro se esse financiamento será retomado após o acordo deste domingo.

A crise também despertou temores de um fracasso do processo de paz no Afeganistão, depois do histórico acordo de 29 de fevereiro com os Estados Unidos e os talibãs, que contempla a retirada de tropas estrangeiras do país em 14 meses.

O início das conversas entre o governo em Cabul e os insurgentes está sujeito à libertação de cerca de 5 mil prisioneiros talibãs e de mil membros das forças afegãs em prisões dos talibãs, segundo o acordo de Doha.

O controverso processo de troca de prisioneiros começou no início de abril, mas tem se arrastado devido a desentendimentos entre as duas partes, agravados pela crise política no país.

Na segunda-feira, Cabul pediu aos insurgentes para esclarecerem o paradeiro de 610 prisioneiros das forças de segurança afegãs que não estão na lista de detidos, e alertou que só vai libertar mais prisioneiros se os talibãs continuarem o processo.

A troca de prisioneiros continua a ser o principal obstáculo ao começo das conversações de paz diretas entre ambas as partes, um diálogo que não tem ainda data de início.

EK/ap/afp/dpa/rtr/lusa

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