O ex-ministro Rubens Ricupero, um dos diplomatas brasileiros mais respeitados em nível mundial, avalia que o isolamento do Brasil no mundo “será completo” caso o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não seja reeleito. “Uma reviravolta muito grande nos Estados Unidos fragiliza a posição de Bolsonaro, que se torna muito precária no mundo e até no Brasil”, disse Ricupero em entrevista ao blog do jornalista Jamil Chade.

Para o ex-ministro, uma eventual vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial norte-americana completaria o isolamento do Brasil, o que obrigaria o governo Jair Bolsonaro – que vem se alinhando automaticamente aos interesses internacionais do governo Trump – a reavaliar sua política externa e a reconstruir a relação com os EUA.

“A relação é inédita, no sentido de que é pela primeira vez se tem uma relação não de estado a estado, de país a país, mas uma relação quase pessoal de governante a governante. Jamais houve antes algo comparável. É claro que esse tipo de relacionamento desaparece, se desaparecer Trump. Seria então necessário reconstruir a relação a partir do zero, uma relação de Estado”, disse Ricupero acerca das relações entre Bolsonaro e Trump.

“O Brasil teria então que reconstruir sua relação com um governo e um partido que possuem uma agenda que não poderia ser mais negativa em relação à agenda brasileira. A agenda do Partido Democrata privilegia o aquecimento global, acordo de Paris, preservação da Amazônia, a proteção dos povos indígenas, a proteção dos direitos humanos, é contra a guerra cultural, favorece políticas de gênero, tudo o que o governo Bolsonaro detesta”, completou.

Ricupero também observou que Biden já anunciou a convocação de “uma grande cúpula” para barrar o autoritarismo e defender os direitos humanos caso seja eleito. “Um aspecto importante, com possíveis implicações embaraçosas para o Brasil é a prioridade anunciada para convocar uma grande Cúpula em favor da Democracia, Summit for Democracy. Seria uma reunião de líderes mundiais com três objetivos principais: a luta contra a corrupção, o combate ao autoritarismo crescente e a promoção dos direitos humanos. É fácil ver como o Brasil ficaria numa agenda desse tipo”, destacou o diplomata.

 

Fonte: Brasil 247