Por Domingos Leonelli* | Foto: Divulgação
Na verdade, a esquerda brasileira nunca foi majoritária nas eleições municipais. Chegou a eleger, no máximo, 1.533 prefeitos em 2012. Em 2016 fez menos de 1.200, em 2020 caiu para 852 e finalmente em 2024 caiu ainda mais para 749.
O PSB foi o partido que se saiu melhor no campo da centro-esquerda com 309 prefeitos eleitos em 2024. O PT cresceu de 183 em 2020 para 252 prefeitos em 2024. O PDT, PCdoB, PV, Rede e PSOL, fizeram juntos menos de duzentos prefeitos.
A centro-direita brasileira elegeu nada menos que 4.726 prefeitos.
A centro-direita fez também 40.000 vereadores. A centro-esquerda pouco mais de 10.000.
Essa foi a eleição das reeleições: 82% dos prefeitos foram reeleitos. Isso sem contar os que elegeram seus sucessores. A grana do Centrão com as emendas parlamentares funcionou.
Maso que mais preocupa não é o número de prefeitos e vereadores e, sim, o número de votos obtidos no campo da centro-direita: 91 milhões. Contra apenas 22 milhões da centro-esquerda.
E o pior é que a direita ganhou nos grandes centros urbanos, salvo raras exceções: Recife com a grande vitória de João Campos no primeiro turno, Fortaleza com Evandro Leitão numa suada disputa de segundo turno e, com boa vontade, a vitória em Belém do Pará com Igor Normando do MDB que tem como vice Cássio Andrade do PSB.
No Rio de Janeiro, em Belo-Horizonte, Goiânia, Curitiba e João Pessoa, a ultra direita bolsonarista foi derrotada. Mas não se pode contabilizar como vitórias da esquerda.
Pelo seu tamanho, pela sua militância e pelo fato de ser o partido do Presidente da República, o PT foi o mais evidente perdedor nessas eleições de 2024. O PT, não Lula.
A repercussão para a eleição presidencial de 2026 ainda será muito estudada e debatida, sendo certo, no entanto, que a reeleição dos prefeitos e vereadores terá um grande efeito sobre a eleição de deputados federais e senadores.
A pergunta que não quer calar é a seguinte: se o governo Lula-Alckmin vai aparentemente tão bem com controle da inflação, aumento do emprego, ampliação dos benefícios sociais a ponto de estar quase tirando o Brasil do mapa da fome, bolsa família, mais médicos, pé de meia e até uma nova política industrial, por que os candidatos da esquerda nos grandes centros não capitalizaram essas conquistas?
Hipótese 1: a militância de esquerda não conseguiu valorizar, defender e capitalizar politicamente os avanços sociais, políticos e econômicos do Governo Federal.
Hipótese 2: a de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, segundo a qual sendo o governo Lula de coalizão, os partidos de centro que tem ministros no Governo são de direita na suas bases municipais.
Hipótese 3: a de João Campos, prefeito de Recife, que a população cansada da polarização inclinou-se para um pragmatismo administrativo ou uma posição de centro eficiente.
Todas as hipóteses podem estar parcialmente certas, mas são insuficientes para explicar a força da direita nos grandes centros urbanos.
Já o professor Aldo Fornazieri aproxima-se da hipótese de João Campos quando observa que houve um “fortalecimento da multipolarização e do pluripartidarismo com uma clara inclinação para a direita” referindo-se às derrotas do bolsonarismo de ultra direita. Mas ele também chama a atenção para a falta de um rumo estratégico do governo.
Nessa mesma linha da ausência de um projeto estratégico o vice-presidente do PT, Washington Quaquá, diz que o governo e a esquerda precisam de inovação e criatividade para enfrentar 2026. E o ministro da Fazenda Fernando Haddad afirma que a esquerda deve ao Brasil um “horizonte utópico”.
Porem a esquerda não se articula para propor uma alternativa estratégica. E o Governo Federal, por sua vez, não oferece à sociedade algo como um Projeto Nacional de Desenvolvimento capaz de articular suas boas iniciativas isoladas. Capaz, também, de isolar no próprio Governo as forças que atuam contra o desenvolvimento nacional em nome da malfadada “austeridade fiscal” que submete a Nação aos interesses do capital financeiro.
Pelo menos pelo lado da esquerda e do desenvolvimento nacional, o Governo precisa urgentemente deixar de ser um arquipélago de boas iniciativas para se tornar um continente com um “horizonte utópico” capaz de mobilizar as forças populares para além de reivindicações corporativas e identitárias.
Este horizonte precisa também ter nome e sobrenome com possibilidade de ser absorvido pela população brasileira. Que possa também mobilizar as ruas e pressionar o Congresso Nacional. Um projeto que sintetize e traduza um rumo estratégico e não se confunda com a comunicação fragmentada e por vezes ingênua da propaganda oficial, como acontece atualmente.
E volto neste terceiro artigo sobre o mesmo tema a lembrar a proposta do Partido Socialista Brasileiro que em seu novo programa apresentou a ideia de um Brasil Potencia Criativa e Sustentável.
*Domingos Leonelli é ex-deputado federal e atualmente é secretário Nacional de Formação Política do PSB