Pedro Augusto Pinho*
Tão cegos ficam parcelas da classe média, militares, até alguns doutrinados despossuídos, num irracional ódio ao Lula – até o chamam do maior corrupto do Brasil, esquecidos de Maluf, Amaury Kruel (USD 1,2 milhão nas maletas da FIESPata), Aécio Neves, Capitão Guimarães, José Serra (que Paulo Henrique Amorim diz ser o homem mais rico do Brasil), Delfim Netto (Monsieur 10%), Andreazza, Fernando Henrique Cardoso (vendedor do Brasil), Leon Peres, as célebres comissões da General Electric (denunciadas no CADE em 1976, envolvendo o irmão do Presidente Costa e Silva), para não citar estes atuais Temer, Geddel, Moreira Franco (de ontem e de hoje), e a turma “com o Supremo e tudo” do Jucá – que não conseguem distinguir a verdade da fantasia, os dados da realidade das manipulações estatísticas à Roberto Barroso e, principalmente, este incomensurável prejuízo que os golpistas de 2016 estão causando ao Brasil de hoje e nas esperanças de nossos filhos e netos. E notem, a quase totalidade dos processos, quando abertos, envolvendo os “homens bons”, os governantes e poderosos da época sempre ficaram engavetadas, todos impunes.
Vou tratar de um primeiro de dois crimes, de grande relevância para o País e para sociedade, que não foi objeto de um único pronunciamento militar, um só artigo ou declaração dos Clubes Militares ou de seus associados na reserva, tão prolíficos quando se trata de pedir, a qualquer preço, a cabeça do Lula.
Pode parecer que sou um fanático lulista. Nada mais errado. Nem fui eleitor dele em 2002. Mas passei a reconhecer a transformação social que fez no Brasil e, ainda que tenha muitas ressalvas a sua ação, não vejo hoje, salvo o grande Senador Roberto Requião, quem possa, com maior condição, conduzir o País às trilhas da soberania, do desenvolvimento nacional e da justiça social e à paz.
Este bem, que está sendo roubado do Brasil, já identificado como o petróleo do século XXI, é a água. Os recursos hídricos são hoje objeto das mesma pressões, das mesmas guerras coloniais que as especiarias foram nos séculos XVI e XVII e o petróleo no século XX.
No Monitor Mercantil (MM), em 5 de abril de 2018, na primeira página, está a notícia: “Mercado” prepara a privatização da água. É para qualquer cidadão de bem, qualquer brasileiro com um mínimo de patriotismo, para quem não for um obtuso crônico, ficar revoltado e procurar se manifestar e buscar informações que ajudem a obstar tal imensidão criminosa. Parece até que esperaram a não concessão do habeas corpus do Lula para desfecharem, estas forças do mal, o maior ataque.
O caro leitor pode imaginar quem esteja, no Brasil, conduzindo a alienação nacional deste recurso finito e não reproduzível? Um tucano é óbvio! E não qualquer um, mas o ex-presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, com o Projeto de Lei 495/2017. E de quanto será a rapina proposta por este senador? Um triplex mambembe, dois, cem mil? Ou os diversos apartamentos luxuosos e muito bem localizados do seu lider FHC? Ora meus caros, muito mais do que isto: é a própria vida das pessoas, a vida de seus compatriotas, de seus descendentes que está sendo vendida. Isto não é a mais ignominiosa corrupção?
Trancrevo, da declaração do Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Espírito Santo, na crítica à PLS 495/2017: na prática isto significa que quem tem dinheiro compra e usa água. Quem não tem, vai passar dificuldade.
Na consulta popular do Senado, nos informa o MM, 65.657 votos foram contrários à proposta tucana e 585 a favor. Mas isto não é importante. O grande eleitor, o senhor Henrique Braun, presidente da subsidiária brasileira da Coca-Cola, já declarou que “precisa acelerar uma agenda para garantir a segurança hídrica”, obviamente para produção da Coca-Cola e da água que também está nos seus faturamentos. Nesta compra de parlamentares, magistrados e, como é evidente, o “vamos manter tudo isso”, também estão na fila os executivos da Nestlé e outras empresas, como se vê adiante.
Transcrevo do professor, doutor Flávio José Rocha da Silva, no artigo “A água brasileira corre para as multinacionais” (disponível na internet):
“Hoje o Brasil já tem 17 milhões de pessoas atendidas na distribuição de suas águas por uma multinacional canadense em 12 estados brasileiros. Ela comprou esta “fatia do mercado” da Odebrecht Ambiental. Parece pouco, mas o valor da transação foi de quase 3 bilhões de reais. Não é um mercado para qualquer um, como se vê.
O Ouro Branco, como é chamada a água em contraposição ao título de Ouro Negro dado ao petróleo, é um bom negócio, mas não para as populações carentes. Em um pequeno livrinho chamado O Manifesto da Água (2002), de autoria Riccardo Petrella e em outro livro publicado pela canadense Maude Barlow intitulado O Convênio Azul: a crise global da água e a batalha futura pelo direito a água (2009), as consequências negativas para as comunidades e positivas para as empresas estão descritas com vários exemplos ao redor do planeta. São Paulo conhece bem as negativas quando sofreu um choque com o racionamento provocado pela ideia do lucro primeiro, população depois. É que 49,7% da Sabesp pertencem a empresas privadas. Vários analistas da questão hídrica culparam a empresa por não ter investido na melhoria da infraestrutura por anos, uma das causas do problema. Teoricamente o governo paulista tem maioria de 0,3 para a tomada de decisões. Mas nós todos sabemos como falham as teorias…”
Como se vê, caro leitor, a campanha contra o Lula é um artifício que os interesses financeiros estrangeiros lançam para que você não veja onde está sendo roubado e quem é o verdadeiro corruptor.
Tenho poucas esperanças.
A Globo martela diariamente, nas novelas, nos programas de auditório, nos “especialistas escolhidos a dedo”, para nem falar das deturpações dos noticiários que estes crimes imensos não existem, que são fruto de uma “teoria conspiratória”, que o excelente jornalista Carlos Alberto Almeida contrapõe com a demonstrada “prática conspiratória”, que é a própria corrupção, e que a PLS 495/2017, um exemplo entre milhares de outros como a entrega do pré-sal, mostra que dá certo. Mas a maioria das classes médias, alta ou baixa, que não dispensa a televisão, passa a concordar e, pior, a divulgar estas mentiras e agir contra seu próprio País.
Triste Brasil governado pela mídia subserviente aos interesses estrangeiros.
O outro crime, o controle da energia, será objeto de reflexões em outro artigo.
A IMENSIDÃO DO CRIME II
Estamos tratando dos verdadeiros e grandes crimes cometidos contra o Brasil, onde a corrupção não é aquela que a Globo e seus satélites, na comunicação comercial para a população nacional, tentam convencer que um operário e não os grandes proprietários, usufruindo – pela escravidão, fraude e vantagens indevidas – de nossas riquezas e trabalho, retiram há mais de 500 anos dos brasileiros.
Na primeira parte tratei da água. Vou tratar agora da energia.
Começo transcrevendo do site educação, do globo.com o significado da energia:
“Os recursos energéticos são o foco dos interesses estatais, gerando disputas geopolíticas desde a primeira Revolução Industrial. Na segunda metade do século XX, com a expansão do meio urbano-industrial, principalmente, na América Latina e Sudeste Asiático e, consequentemente, o crescimento populacional, houve o aumento exponencial da demanda energética. Nos últimos anos, a questão energética traz novas discussões: agências internacionais, estados e a sociedade, geram debate sobre consumo, recursos naturais, mudanças climáticas e, principalmente, a segurança energética dos países mais ricos”.
Faltou dizer quem são os proprietários dos recursos energéticos. Se você lê que o empresário fulano ou a empresa tal ou qual adquiriram uma distribuidora de energia, uma parcela de um campo de petróleo ou qualquer outra produtora, transportadora ou fornecedora na área da energia, pergunte sempre: com que dinheiro? De onde veio o recurso?
É preciso ter em mente que a economia no ocidente teve profunda transformação após a passagem pelo poder, em duas grandes potencias, de instrumentos do capital financeiro: a Inglaterra com Thatcher e os Estados Unidos da América com Reagan.
Esqueça a economia industrial, hoje a economia é financeira. É claro que lutamos para que o valor do trabalho e dos bens materiais voltem a prevalecer, mas não é o que ocorre. Os verdadeiros donos são os possuidores dos recursos financeiros. Quem é o dono da British Petroleum (BP)? Acaso uma conhecida família de negócios de petróleo, como os Rockfeller? Ou descendentes do esperto negociador Calouste Gulbenkian? Nada disso.
Possuem o verdadeiro controle da BP as famílias que se escondem atrás de uma enorme quantidade de empresas, controladores de algo como 40% dos fluxos monetários internacionais, que costumo denominar “banca”. No caso específico da BP, enumero algumas:
1 – Barrow Hanley Mewhinney and Strauss (BHM&S), uma empresa de investimentos estadunidense, subsidiária da OM Asset Management, que, por sua vez, é um braço da financeira londrina Old Mutual plc, onde empresas e fundações sediadas em paraísos fiscais fazem suas aplicações;
2 – State Street Corporation, empresa financeira sediada em Boston, do grupo da State Street Global Advisor, investidora institucional que capta recursos de modo idêntico à BHM&S;
3 – Franklin Advisers Inc., que em 2017 era a 3ª maior acionista da BP, uma gestora de ativos;
4 – Dimensional Fund Advisors, com investidores institucionais e individuais;
5 – Wellington Management Co, cuja publicidade diz gerir US$ 1 trilhão de clientes. E paro aqui pois o prezado leitor já compreendeu que este e todos os negócios são financeiros e que seu controle e decisão estão nas mãos das menos de 5 dúzias de famílias.
Vamos ao recente e brasileiro caso. O Jornal do Brasil, de 7 de abril de 2018, coloca em destaque: “Surge gigante de Energia”, narrando a compra pela Energisa da Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo. Na matéria vai sendo feito o histórico de privatizações, desmembramentos, transferências e a citação da Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina, que tem à frente o empresário Ivan Botelho. Mas, como um dado menos expressivo, ficamos sabendo que o Citigroup coordena o negócio. Fica então óbvio que capitais anônimos, de paraísos fiscais, que chegam dessas 40, 50 ou 60 famílias dão mais um passo para o controle da energia brasileira.
Vamos apresentar o que alimenta a energia mundial e ficará claro a campanha de privatização da Eletrobrás e esta pressão para o domínio da energia brasileira.
O petróleo, como líquido, participa de 31% do fornecimento energético do mundo, conforme estatísticas de 2016; se adicionarmos o gás natural, 21%, teremos que os hidrocarbonetos respondem por mais da metade, 52% da energia do planeta. Há uma razão importante para isso: a facilidade de transporte, que não encontramos, por exemplo, na hidroeletricidade, que fica com modestos 2%. Dois outros grandes produtores de energia também são de fácil transporte: o carvão mineral, 29%, e a biomassa, 10%.
Também de difícil transporte e com participação pequena está a energia nuclear, 5%, e as denominadas energias limpas, que em seu total – eólica, solar, das marés etc – ficam com 1%.
O Brasil, além de dispor de todas estas fontes de energia, capazes de atender perfeitamente as necessidades nacionais e até exportar, possui tecnologia para produzir, transportar, distribuir todas elas, rigorosamente todas as fontes energéticas desta matriz. Apenas quanto ao carvão mineral não há o conforto de todas as demais, mas podemos, como de fato o fazemos, negociar com vizinhos, Colômbia, ou países que se beneficiam de nossa capacidade técnica na agricultura e na indústria, como Moçambique.
Logo, é absolutamente dispensável a presença estrangeira na energia brasileira e, se os empresários não quiserem participar, o Estado, como foi feito nos Governos Militares, pode assumir e já demonstrou ter capacidade técnica e administrativa.
Só a venalidade, a subserviência aos interesses estrangeiros dos golpistas de 2016, explicam a “privatização”, codinome de alienação nacional e corrupção, dessa riqueza natural e técnica brasileira.
Mas o que incomoda é uma eventual corrupção do Lula, que compraria, sem registro cartorial, um imóvel de classe média em São Paulo,e não um apartamento suntuoso na cara Avenida Foch, de Paris, com aparente uso de laranja, porque “não interessa investigar”.
Enquanto continuar este clima ideológico para buscar impedir que o Brasil seja uma nação soberana e justa, seu povo continuará sofrendo até que o rato enfrente o gato.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado
A IMENSIDÃO DO CRIME III
Pensava, caros leitores, em limitar aos dois bens insubstituíveis e que não podem ser repostos, a água e a energia – o particular caso da biomassa tem outras limitações –, a imensidão do crime que as corruptas forças do capital financeiro internacional cometem, com o apoio da mídia comercial, da justiça e, incrivelmente, das Forças Armadas, contra o Brasil. E com roupagens ideológicas, com fantasias que turvam o olhar, com falsas informações (sempre me vem à lembrança as armas químicas de Saddam Hussein) e sofistas e dicotômicos argumentos.
Mas estaria deixando de analisar dois outros crimes que dizem respeito à individualidade humana: roubo de sua capacidade e roubo de sua consciência – roubo porque sempre se usa da violência: física ou virtual. Para este terceiro crime tratarei da apropriação indébita de nossa capacidade. O exemplo escolhido é a informática, como poderia ser a tecnologia agrícola ou a exploração e produção de petróleo.
A informática porque após o Brasil atingir estágio semelhante ao do mundo desenvolvido retrocedeu até o estágio colonial importador de hoje.
A Política Nacional de Informática (PNI) foi gestada nos anos 1970, com a ideia de que o País não poderia ser refém de interesses geopolíticos e econômicos estrangeiros, principalmente em área vital para soberania. A reserva de mercado foi o passo inicial, interessando empresários e protegendo a indústria brasileira do “dumping”, estratégia de dominação largamente usada na época.
Formou-se, na expressão do Presidente da Cobra (fabricante estatal de computadores), Ivan da Costa Marques, “uma reserva de mercado democrática em meio ao autoritarismo”. E, efetivamente, juntaram-se neste empreendimento os empresários – ABICOMP (Associação dos Fabricantes Nacionais de Computadores) – os acadêmicos, professores da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), os trabalhadores da APPD (Associação dos Profissionais de Processamento de Dados), os usuários na Sociedade de Usuários de Computadores e Equipamentos Subsidiários (SUCESU) e a normativa Comissão de Coordenação das Atividades de Processamento Eletrônico (CAPRE).
Vê-se portanto que havia um diálogo aberto e construtivo na formulação e para implantação da informática brasileira. Além de publicações técnicas, acadêmicas e empresariais, havia, em jornais diários, a coluna – Processamento de Dados – que reportava e comentava, semanalmente, os fatos e novidades do setor.
Pode-se portanto afirmar com toda clareza que o Brasil se preparava, desde o final dos anos 1960, para se firmar como um produtor de hardware e software. E, efetivamente, com equipamentos da Cobra e dos nacionais privados – Edisa, Labo, Sid, Sisco – o mercado brasileiro teve modelos inteiramente desenvolvidos e fabricados por equipes brasileiras. Fomos autossuficientes em capacitação tecnológica e industrial em minicomputadores.
Mas, com a ingenuidade de quem age com propósitos honestos em mundo de cascavéis, os responsáveis pela condução da informática brasileira não atentaram ao pronunciamento de Ronald Reagan, ironicamente num 7 de setembro, em 1985, que surgiu “sob a forma de relâmpago em aparente céu azul”, expressão de Tullo Vigevani (O Contencioso Brasil X Estados Unidos da Informática, Edusp Alfa Omega, SP. 1995).
O Governo Figueiredo (1979-1985), que este escriba entende ser resultado do golpe aplicado no Presidente Geisel pelo capital financeiro internacional – iniciando a sequência de golpes que chega a este de 2016 – já preparava o desmonte da informática soberana brasileira, com o torpe motivo do anticomunismo.
Recordemos. O Governo Figueiredo, subserviente à propaganda dita neoliberal abundante na mídia da época, adota a linha “crítica ao protecionismo brasileiro”, mas não protegendo a empresa brasileira estava, na prática, defendendo a estrangeira. Foi acionado o antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) que usa a Secretaria Especial de Informática (SEI), criada como órgão de assessoramento ao Conselho de Segurança Nacional, para torpedear a informática brasileira.
Transcrevo, pela sintética e objetiva exposição, de Vera Dantas, conforme Ivan da Costa Marques (Minicomputadores brasileiros nos anos 1970, 2002):
“para preparar a intervenção, o general Otávio Aguiar de Medeiros decidiu formar uma comissão que fizesse um levantamento do setor de informática e propusesse um plano de ação destinado ao futuro governo de seu chefe, general Figueiredo. Obtida a autorização do general Figueiredo, formou-se com Cotrim, Dytz, Joubert, Loyola e Cuinhas. Para cobrir suas despesas Cotrim pensou primeiro em obter o dinheiro do BNDE, mas Marcos Vianna (então presidente do BNDE) impôs condições. Cotrim recorreu ao CNPq. A reação de (José) Dion (então presidente do CNPq) foi exatamente oposta à de Marcos Vianna: não precisou de muita conversa para entender que o embaixador (Cotrim) buscava, além do dinheiro, uma aliança.”
Para esclarecimentos: o Engenheiro Marcos Vianna presidiu o BNDE (hoje BNDES) desde o Governo Médici até o Governo Geisel. Deve-se a ele, em expressiva parte, a criação de uma parque industrial diversificado no Brasil, partindo do programa de substituição de importações. Hábil e inteligente viu na Comissão Cotrim um torpedo contra a informática brasileira. Ao passo que José Dion de Mello Teles, ex-empregado do Grupo Atlântica Boa Vista, presidiu o SERPRO (Ministério da Fazenda) e era considerado como profissional ligado aos sistemas da IBM. Os coronéis Joubert Brízida de Oliveira, Antônio Carlos de Loyola Reis, José Luis Cuinhas e Edson Dytz eram do SNI – “Brizida, Dytz, Loyola Reis, and Cuinhas da Cunha represented one of the most secret and most feared intitutions within the military regime” (Jeff Seward, The Politics of Capitalist Transformation: Brazilian Informatics Policy, Regime Change, and State Autonomy, Routledge, NY, 2017).
As grandes empresas estrangeiras fabricantes de computadores e equipamentos de informática e de telecomunicações – IBM, Burroughs, Hewlett-Packard, Siemens, ITT, Ericson etc – até a completa extinção da informática brasileira frequentaram com assiduidade os gabinetes de Ministros e órgãos estatais, escritórios de parlamentares e instituições buscando, do modo que o capital age com competência, os apoios a suas antinacionais pretensões. Mas a corrupção que o agente Moro investiga só atinge empresas e empresários brasileiros mostrando claramente a farsa destas delações e condenações.
Se formos dar uma data para o sepultamento da informática brasileira proponho 1990, com o governo Fernando Collor. Mas o trabalho dos capitais estrangeiros, durante o período Figueiredo, deslocaram o Brasil do próximo e revolucionário salto, simbolizado pelos PCs – Personal Computers – que chega aos Smart Phones.
Lamentavelmente, com o Brasil sob a ditadura jurídico-midiática da banca, como designo o capital financeiro internacional, deverá perder o novo passo da informática, na área de novo material, tecnologia e filosofia de processamento que se aproxima. Sofremos o crime de buscar a independência de criar, de desenvolver tecnologia, fomos punidos com a dependência e o atraso. E assim continuamos, vítimas dos mesmos algozes no exterior e no Brasil.
A IMENSIDÃO DO CRIME IV
Este artigo encerra minhas reflexões sobre os verdadeiros crimes que uma parcela de brasileiros, por escusos interesses, por incompreensão da realidade ou ter a mente doutrinada pela comunicação de massa ou, ainda, pelo descaso e alienação, se alia às forças externas e cometem contra nosso País.
Poderia poeticamente chamar de roubo da alma. Mas é de tal modo vil e infesto que torna impossível qualquer poesia, qualquer arroubo onírico ou romântico.
Na França, após os anos de humilhação, degradação da condição humana imposta pela ideologia da raça, geradora de atos nobres e indignos pela população ocupada, o governo do General De Gaulle considerou indispensável, urgente e intensamente aplicado um sistema que atingisse todas as crianças, adolescentes e jovens para reconstrução dos valores humanos e da cidadania.
Creio que após a volta da democracia, do patriotismo, da defesa do País e da justiça, que um dia, espero muito próximo, chegará, será necessário repetir, em nossas condições da degradação moral e institucional, um renascimento nacionalista e popular para o Brasil.
A mais vil, das inúmeras abjeções, infâmias que o capital financeiro é capaz, foi a desmoralização da justiça. E o fez com os holofotes da mídia, com a degradação moral de ser capaz de dizer, ao vivo, que não encontra crime e condenar, que discorda e aceita a punição inconstitucional.
Como imagina o prezado leitor, que um jovem, que já sofre a desdita da didática colonial, reforçada pelas desinformações da mídia, irá se comportar? Pode-se exigir que, por único esforço de suas próprias forças, recomponha o padrão de dignidade, de ética, de patriotismo?
Não. Será preciso responder a este crime, além da consistente e pesada punição para quem atinge o valor de um povo, um sistema de reconstrução ainda maior e mais amplo do que o propugnado pelo grande líder francês.
Tenho dedicado alguma considerações sobre a educação para colonizar as mentes e simplesmente adestrar seus corpos para maior ganho do capital. Não há a educação para liberdade e para felicidade, salvo poucas e logo torpedeadas experiências.
Veja a distorção que produz um sistema onde o ganho financeiro é o único objetivo. Nos anos 1960 surgiu nos Estados Unidos da América (EUA), em meio às guerras empreendidas pela nação em todo mundo, pela valoração exclusiva dos bens materiais e a ostentação das posses, um movimento anticonsumista, pedindo a preeminência de paz e do amor. Como um raio tomou conta da juventude estadunidense e se espalhou pelo mundo. Qual a resposta do sistema? Transformou as roupas, os modos, as decorações, as ações dos hippies em produtos para o mercado, criado para estar sempre sedento de novidades. E hoje dizem que o movimento se esfacelou nos anos 1970, esquecidos das roupas e decorações que abundam em todo mundo, inclusive em manifestações artísticas tipicamente hippies. E Guevara que inunda camisetas e decorações com seu retrato, para lucro do capitalismo, o alvo de sua permanente luta.
Temos agora esta verdadeira transformação, aniquiladora das ideias, princípios e pessoas, no Brasil. A negra, homossexual, socialista, favelada, lutadora pelos direitos dos pobres, filiada a partido de esquerda (PSOL), Marielle Franco está sendo “esbranquiçada” e transformada em combatente da violência urbana, como qualquer dondoca da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Na linguagem atual, a alfabetização ganhou outro nome e conceito: letramento. A princípio aplicava-se tão somente ao conhecimento do idioma: ler, escrever e entender palavras e textos. Para isso havia todo recurso disponível pela tecnologia: áudios, vídeos, virtuais etc. Mas pedagogos foram ampliando este conceito para a compreensão dos fenômenos físicos, químicos, biológicos, geológicos etc etc. Por que há aquele rio naquele lugar? Por que a água dele é doce e do mar salgada? Por que faz frio? Por que o feijão germina envolvido no algodão molhado? E por que demora a ser feijão, outra vez? Chamou-se letramento científico? E logo vieram os letramentos sociais, culturais, esportivos, artísticos etc etc.
Uma das respostas ao retorno da compreensão da nacionalidade, da ética, do respeito a diversidade, da formação da cidadania está nos letramentos que devem substituir os conceitos colonizadores e limitados de disciplinas que não deixam raízes, que não fazem refletir, que transformam a pessoa em robôs produtivos.
Ao lado das reformas profundas na comunicação de massa, evitando que apenas a comunicação comercial, com interesses econômicos e não nacionais, domine todo País; que a justiça seja um poder para aplicar as normas aprovadas pelo povo; a educação, com a pedagogia libertadora e nacionalista, contribuirá para que este estado de doença mental, de ódio pela diferença de cor, de bens, de saberes seja afastado do nosso cotidiano. E a juventude, as crianças possam se desenvolver num clima de liberdade, respeito, amor ao Brasil e detentoras de consciência nacional e social.
Não é querer muito. Mas exigirá, para que se marque o crime que está sendo cometido, que os criminosos não fiquem impunes. Não há perdão para os que roubam os sonhos e o futuro dos brasileiros.
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado