Por Maria Cecília Freire – Foto: Freepik

 

Quantos livros escritos por autoras e autores negros você já leu?

O racismo institucional presente nas grandes editoras é um dos muitos fatores que desvalorizam a literatura negra no Brasil, levando em conta que são essas editoras que despertam o interesse do público em livrarias e feiras literárias pelo país e mesmo com o avanço nas últimas décadas, a invisibilidade da literatura afrobrasileira deixa clara a desigualdade.

Em 2012 a pesquisa Literatura Brasileira Contemporânea – Um Território Contestado, da UERJ, analisou 258 romances publicados entre 1990 e 2004, por três renomadas editoras e apresentou que 93,9% dos autores publicados eram brancos, 72% do sexo masculino e 68% moravam em São Paulo ou Rio de Janeiro. Levando em conta também as narrativas ficcionais nas quais em sua imensa maioria de protagonistas são brancos, heróis salvadores, enquanto personagens negros são caracterizados como bandidos, empregadas domésticas e escravos.

O uso oportunista de nomes já canonizados pela Academia não mostra nenhuma evolução para uma literatura diversa, não é suficiente a publicação de autores já consagrados, que depois de inúmeras dificuldades conseguiram alcançar o cânone, como Lima Barreto, que só conseguiu ser publicado pagando por sua edições, ou Maria Firmina dos Reis que começou a ser descoberta em 1970 quando o historiador Horácio de Almeida encontrou o livro Úrsula datado de 1859, em um sebo.

Conceição Evaristo executa um papel fundamental para a escrita dessas vozes que lutam para sair da invisibilidade literária, referenciando a vida de mulheres e homens negros para além do lugar de escravizados, protagonizando personagens e histórias, tendo como uma de suas principais características a literatura de denúncia, assim como Sueli Carneiro que fez de sua escrita um grito de guerra que expõe a violência política e de gênero, ou também Lívia Natália que usa sua escrita para poetizar sua ancestralidade.

A literatura negra se faz presente todos os dias, em autores que buscam as formas mais criativas de divulgar seus textos, desde a publicação independente à as divulgações coletivas, sempre sendo atual e diversa, nos fazendo refletir sobre os textos que lemos e as vozes que precisam ser ouvidas.

 

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