ANÁLISE

Os países sul-americanos enfrentam grandes dificuldades na área da saúde e da economia com a pandemia do coronavírus. O Parlamento do Mercosul busca soluções integradas, mas as diferenças internas podem comprometer a existência do bloco.

A mesa diretora do Parlamento do Mercosul se reúne nesta terça-feira (12), em meio à pandemia do coronavírus. Apesar da integração dos países sul-americanos para o combate à pandemia e a recuperação econômica ser de extrema importância, as contradições entre os países do bloco ameaçam o futuro de todos.

Para Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM/SP, especialista em políticas das Américas, algumas reuniões recentes têm sido realizadas para ampliar o diálogo, mas seria “difícil pensar nesse momento que o Parlasul pode atuar de forma a aumentar a cooperação”.

“Por um lado, a gente tem o enfraquecimento dos instrumentos de cooperação com a decisão da Argentina de sair das negociações em andamento […], por outro o próprio Parlasul ainda não teve as indicações de parlamentos de dois países. No ano passado teve uma mudança na forma e indicação de parlamentares e nesse momento faltam representantes da Argentina e do Uruguai”, explicou Denilde Holzhacker à Sputnik Brasil.

Dessa forma, apesar da Argentina continuar sendo parte do bloco, dúvidas estão sendo suscitadas inclusive sobre a continuidade da própria Mercosul, acrescentou a especialista. Assim, mesmo com boa vontade dos membros do Parlasul neste momento de crise, a efetividade do organismo internacional estaria seriamente comprometida, mesmo com a realização das atividades em reuniões remotas.

“Uma das ações discutidas foi a ação de cooperação, utilizando um dos fundos do Mercosul para destinar à pesquisa conjunta, para ações voltadas para a conscientização, de atuação na área de saúde. Então têm algumas iniciativas. Mesmo assim, têm baixa efetividade, dadas as questões que apontei anteriormente”, disse a professora.

O distanciamento entre Brasil e Argentina afeta o processo de integração e o diálogo entre os países, e não é uma situação nova, destacou a entrevistada. “Vem de um processo de distanciamento desde a eleição de [Alberto] Fernández e que se torna ainda mais agudo num momento de diferenças entre os países. Distanciamento não só no diálogo, como a respeito de uma série de questões”, ponderou a pesquisadora.

“A gente tem uma situação de distanciamento entre os dois países centrais da região, o que torna mais difícil um diálogo e a construção de ações conjuntas neste momento”, lamentou ela.

Para a acadêmica, o futuro dependerá muito de como cada país vai lidar com a saída da pandemia. Os discursos dos membros, principalmente Brasil, Uruguai e Paraguai, enfatizam o avanço dos acordos comerciais que já estavam em negociação, mas também procuram defender os seus mercados internos. No caso da Argentina, há uma grande preocupação em negociar sua dívida externa, “com um forte viés protecionista”.

Dessa forma, Denilde Holzhacker não está certa de que haverá um ambiente para cooperação comercial entre os países do bloco, pelo menos, considerando o comportamento dos países sul-americanos até o momento.

“Pelo que a gente tem visto e observado em termos de discurso dos países a ênfase é nos mercados internos, em construção de processos de proteção de suas indústrias e mercados, o que torna mais difícil o avanço desses acordos comerciais”, concluiu.

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