Após críticas de Barack Obama ao Brasil, a Sputnik ouviu dois especialistas sobre a possibilidade de as declarações do ex-presidente americano indicarem algo sobre a agenda do futuro governo dos EUA.

Em entrevista à Folha nesta semana, por ocasião do lançamento de seu novo livro de memórias, “Uma Terra Prometida”, o ex-presidente americano Barack Obama, ao comentar sobre Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o ex-chefe de Estado brasileiro “era uma presença dominante na política brasileira e uma figura influente no palco mundial”, mas que, ao mesmo tempo, “sempre havia rumores girando em torno dele sobre clientelismo”. Para Obama, está claro também que “o Brasil ainda tem problemas profundos com a corrupção sistêmica” e ele espera que “o trauma político recente possa levar a um tipo diferente de política” no país.

Os então presidentes de Brasil e EUA, Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama, se cumprimentam durante encontro do G20 na Coreia do Sul (arquivo)
© AP PHOTO / ERIC FEFERBERG / POOL Os então presidentes de Brasil e EUA, Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama, se cumprimentam durante encontro do G20 na Coreia do Sul (arquivo)

Depois de participar mais ativamente da campanha de Joe Biden, sobretudo na reta final, Obama também tem estado nos holofotes por conta de uma série de análises que tem feito em declarações à imprensa sobre os rumos da política e da democracia nos Estados Unidos.

Apesar de sua proximidade ao presidente eleito, que foi seu vice de 2009 a 2017, e de sua relevância para os debates internos e internacionais, analistas ouvidos pela Sputnik Brasil acreditam que Barack Obama deve seguir a tradição e adotar uma postura discreta em relação à provável nova administração na Casa Branca, evitando eventuais ou aparentes interferências no governo Biden.

​”Não é tradição nos Estados Unidos que os ex-presidentes se envolvam muito na política partidária e nos governos do seu próprio partido. Há muito mais uma tendência de que eles fiquem dedicados a atividades filantrópicas, que desenvolvam seus próprios projetos sociais. No caso do Obama, isso tem sido, sobretudo, por meio da sua fundação, que tem desempenhado uma série de atividades ligadas a políticas sociais, a políticas para a juventude, mas também no seu trabalho como escritor, como comentarista político. E ele tem se manifestado muito, sistematicamente, em levantar os riscos para a democracia americana”, afirma, em declarações à Sputnik o professor Mauricio Santoro, do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Para o acadêmico, as observações de Obama quanto à política brasileira não teriam ligação com a agenda na qual a equipe de Joe Biden vem trabalhando para o Brasil, dizendo respeito apenas ao seu livro de memórias, que faz algumas menções ao país sul-americano. Ainda assim, de acordo com o professor, é possível destacar semelhanças entre as posições do ex-presidente e de seu ex-vice em relação ao Brasil.

“No que diz respeito ao governo Biden, a agenda que vem sendo anunciada para o Brasil não é tanto uma agenda de corrupção. É uma agenda voltada para questões da Amazônia, do meio ambiente, da mudança climática. O que existe em comum entre as duas posições é uma visão mais crítica do Brasil, ainda que, claro, o cenário do Brasil de hoje, com o presidente [Jair] Bolsonaro, com uma outra orientação política no país, é totalmente diferente do que ele era no período do governo Obama, há dez, 12 anos.”

Embora descarte uma interferência de Obama no novo governo, Santoro considera plausível que pessoas que estiveram junto com o ex-presidente durante sua gestão sejam chamadas para compor de alguma forma a nova administração.

“Não é tanto a questão da interferência pessoal do Obama no governo Biden, mas, provavelmente, o que nós veremos serão muitas pessoas que trabalharam no governo Obama voltando, agora, para a Casa Branca, voltando para os ministérios, para as agências públicas americanas agora, com o Biden, que, claro, foi o vice do Obama durante os oito anos do governo anterior.”

 

Fonte: Sputnik Brasil