Por Paulo Moreira Leite, no site Brasil-247:
“Que crime Assange cometeu?”, perguntou Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, durante um evento em Maceió. Lula prosseguiu: “É o crime de falar a verdade, mostrar que os Estados Unidos, estavam grampeando muitos países do mundo, inclusive grampeando a presidente Dilma Rousseff”.
A reação de Lula está em linha entidades democráticas do planeta, a começar pela Anistia Internacional, celebrada há décadas. “Permitir que Assange seja extraditado para os EUA o colocaria em grande risco, numa mensagem assustadora para jornalistas de todo mundo”, denunciou a entidade.
Em 1971, quando o New York Times divulgou documentos ultra-secretos sobre a atuação do governo Richard Nixon na guerra do Vietnã, o caso virou um escândalo universal mas foi tratado na esfera adequada, como liberdade de expressão. Responsável pelo vazamento, o analista militar Daniel Ellsberg foi julgado pela Suprema Corte, onde enfrentou uma acusação que pretendia condená-lo a 115 anos.
Para a humanidade, a questão é a mesma – liberdade de expressão – mas o cenário é outro. O horizonte também. A militarização do debate sobre a liberdade de imprensa não é uma iniciativa inocente. O custo é pago pela democracia, isto é, por todos nós.
(Cabe observar que o Brasil de Bolsonaro já possui – todas as diferenças guardadas – um caso semelhante. A anulação dos julgamentos da Lava Jato, que trouxe Lula de volta à vida pública e à campanha presidencial, só foi possível graças a Operação Spoofing, alimentada pelos diálogos entre figurões da Lava Jato. As conversas foram grampeados pelo hacker Walter Delgatti Neto, fonte das denúncias do Intercept, que se tornaram manchete mundial. Delgatti foi investigado por várias acusações, inclusive de “organização criminosa”. Nada se provou que contra ele mas segue tratado como se tivesse feito alguma coisa errada).