No bojo das discussões sobre inclusão, combate ao racismo e a outras formas de discriminação, intensificadas após o caso Beto Freitas, do Carrefour, o jornalista e ativista baiano Yuri Silva, o advogado Walfrido Warde, o ex-ministro Valdir Simão e outros juristas vão criar programa para auditar e certificar grandes corporações em relação a grupos vulneráveis

O jornalista Yuri Silva, 25, ativista baiano dos direitos humanos e do movimento negro, está despedindo-se de Salvador e desembarcando na capital de São Paulo na segunda quinzena de janeiro para um projeto ambicioso, conectado com uma pauta cada vez mais atual para o Brasil. Ele vai utilizar da sua agenda e entrada no terceiro setor para promover diálogos com as principais corporações nacionais e multinacionais e outros atores políticos sobre a inclusão da pauta das minorias na política interna e externa dessas empresas.

A ideia é juntar lideranças sociais e operadores econômicos dispostos a mudar a realidade, com o objetivo de implementar um Programa de Compliance em Direitos Humanos, algo novo no país, com a finalidade de monitorar e auditar permanentemente a relação dessas companhias com as pautas sociais.

O projeto vai abranger temas como racismo, igualdade gênero, respeito à sexualidade, além de outros nichos vulneráveis da sociedade brasileira, e será abrigado pelo Instituto para Reforma da Relação entre Estado e Empresa (IREE), uma organização independente sediada na capital paulista e que tem como objetivo promover o debate democrático, pluralista e suprapartidário para aperfeiçoar a interação entre o setor público e o setor privado no país.

O comunicólogo, que também é militante LGBTQIA+, lembra que, de acordo com dados de 2016 do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Instituto Ethos, somente 4,7% dos cargos executivos (CEOs, CFOs, CMOs, CIOs) são ocupados por profissionais negros, contra 94,2% de brancos. Enquanto, em indicadores de gênero, as mulheres ocupam apenas 13% dos postos de CEOs, segundo consultoria feita em 2019 pela empresa Talenses para o Insper.

“Os dados são precisos em mostrar o desafio que nós teremos pela frente. Esse ainda é um caminho árido, que querer muita conversa, diálogo e convencimento”, prevê. “Mas acho que estou pronto e maduro para assumir essa tarefa, ao lado de tanta gente que me honra e que aposta em minha capacidade. Nosso objetivo é ser plural, promover um diálogo franco sobre o que queremos para o país, sobre nosso desafio irreversível de sermos inclusivos e diversos”, afirma.

A ida do jornalista para São Paulo tem a pretensão de incidir de forma prática nessa realidade, por meio de diálogos com um conjunto de contatos que construiu ao longo dos anos de ativismo – desde 2018, Yuri Silva ocupa o cargo de coordenador nacional do Coletivo de Entidades Negras (CEN), entidade que atua há 17 anos nessa pauta no Brasil e na qual ele milita desde 2013.

Ex-repórter de A Tarde (2016-2018) e ex-correspondente do jornal O Estado de S. Paulo (2018-2019), onde especializou-se na cobertura dos poderes Executivo e Legislativo e em pautas relacionadas às questões sociais, Yuri Silva vai trabalhar ao lado do advogado paulista Walfrido Warde Jr., maior especialista em litígios empresariais do Brasil e autor do best-seller ‘O Espetáculo da Corrupção’ (Leya), e do auditor fiscal Valdir Moysés Simão, ex-ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU) e ex-ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão do Brasil.

Os dois juristas são, respectivamente, presidente e vice-presidente do IREE, que irá somar à tarefa os técnicos do instituto, os melhores do compliance nacional.

Também se integram ao time inicial outras figuras de destaque no direito e no debate sobre o combate às desigualdades, como o doutor e mestre em Direito Administrativo Rafael Valim, que além de professor da PUC-SP e da Università Commerciale Luigi Bocconi (Itália), é um dos líderes da editora Contracorrente e diretor cultural do IREE. Além do estudante de direito e diretor institucional do IREE, Rodrigo Siqueira; e da economista-chefe do IREE Juliana Furno.

“Vamos juntar os melhores profissionais do direito e os mais capazes especialistas nessas pautas dos direitos humanos e criar normativas técnicas, dentro da legislação e do que já existe acumulado no compliance, com o objetivo de separar o joio do trigo, promovendo mudanças reais na realidade das corporações e da sociedade em geral”, almeja o baiano, em mudança.

“Quero que isso impacte no setor econômico de forma expressiva, porque só assim haverá mudanças reais, com mais executivos e mais funcionários negros, mulheres e LGBTs e mais políticas inclusivas que sejam de verdade e não somente para inglês ver. A gente tem que explicar para os empresários que não há crescimento sem inclusão, porque ninguém cresce excluindo”, continua o ativista, prometendo conceder certificações a quem cumprir o conjunto de normas, que ele batiza de ‘Tecnologia Empresarial da Diversidade’.

“É óbvio que esse Programa de Compliance vem em um momento sensível, de debates polares e intensos sobre esse tema, sobretudo após o caso do Carrefour. Mas temos que ter foco em como apontar saídas vitoriosas e não verborrágicas. E nesse sentido o que nós vislumbramos é que nosso projeto tenha impactos econômicos, influencie os atores financeiros, políticos, sociais e econômicos, influencie na Bolsa de Valores, em fundos de investimento e outros instrumentos e espaços desse setor”, afirma Silva. “O importante é dar visibilidade aos desafios dessas pautas tão indispensáveis para o crescimento econômico do nosso país, porque crescer sem incluir não dá mais”, idealiza.

CURRÍCULO E TRAJETÓRIA
• Coordenador de Jornalismo e Imprensa da pré-campanha e da campanha da Major Denice Santiago (PT) à Prefeitura de Salvador – junho de 2020 até novembro de 2020
• Coordenador de Comunicação e Maketing Político na campanha a vereador de Salvador de Marcos Rezende – julho de 2019 até novembro de 2020
• Consultoria em Comunicação Digital e Marketing Político na campanha à reeleição do vereador de Salvador Zé Trindade – abril de 2020 até setembro de 2020;
• Consultoria em Comunicação Digital e Marketing Político no mandato do vereador de Salvador Zé Trindade – novembro de 2018 até junho de 2019;
• Conselheiro Estadual de Direitos Humanos do Estado da Bahia – dezembro de 2019 até agora (mandato até 2022)
• Assessor de Comunicação do Coletivo de Entidades Negras na Bahia (CEN-BA) – períodos diversos e intercalados, em projetos específicos, desde outubro de 2013;
• Coordenador Executivo do projeto Feira de Empreendimentos Negros Solidários – setembro de 2019 a novembro de 2019
• Assistente Técnico no projeto Terra Preta, parceria entre CEN e SETRE – julho de 2019 a outubro de 2019;

• Repórter Correspondente na Bahia no jornal O Estado de S. Paulo (Estadão), cobrindo eleições presidenciais e estaduais no Estado e no Nordeste – maio de 2018 a novembro de 2018
• Assessoria Técnica em Comunicação no projeto Feira de Empreendimentos Negros Solidários – julho de 2018 a novembro de 2018
• Assessor de Comunicação do mandato do vereador de Salvador José Trindade – setembro de 2017 até maio de 2018
• Repórter na editoria ‘Salvador’ do jornal A TARDE, com colaboração nas editorias ‘Brasil’, ‘Mundo’, ‘Economia’ e especialmente ‘Política’, atuando em coberturas especiais, como a votação do impeachment e as eleições municipais de 2016, além de passagem pela coluna de opinião ‘Tempo Presente’ em janeiro de 2017 e produção de dois cadernos especiais e uma reportagem especial multimídia para o Dia da Consciência Negra – janeiro de 2016 até março de 2018
• Assessor de Comunicação da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD) – janeiro de 2016 até março de 2016
• Assessor de Comunicação do Observatório Popular de Política sobre Drogas (OPPD Racial) – maio de 2017 a dezembro de 2017
• Conselheiro Estadual de Políticas para a População LGBTQIA+ do Estado da Bahia – setembro de 2014 a dezembro de 2019
• Repórter-estagiário na editoria ‘Salvador’ do jornal A TARDE, com colaboração nas editorias ‘Política’, ‘Economia’ e ‘Brasil’ em plantões especiais – novembro de 2013 até novembro de 2015;
• Estagiário de jornalismo na Assessoria de Comunicação do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), autarquia vinculada à Secretaria da Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA) – março de 2013 até novembro de 2013;