O presidente Jair Bolsonaro demitiu nesta quarta-feira (09/12) o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, segundo revelou a imprensa brasileira. O titular foi informado da decisão durante uma reunião no Palácio do Planalto, que não fazia parte da agenda do presidente.

O estopim para a demissão teria sido uma mensagem enviada por Álvaro Antônio a um grupo no Whatsapp formado por ministros do governo, afirmando que Luiz Eduardo Ramos, titular da Secretaria de Governo, pressionou Bolsonaro a removê-lo do cargo.

No texto, ao qual a imprensa teve acesso, o ministro do Turismo dizia que Ramos pediu “sua cabeça” para que a chefia da pasta fosse entregue ao Centrão, que agora apoia o governo na Câmara.

“Não me admira o Sr Ministro Ramos ir ao PR [presidente da República] pedir minha cabeça, a entrega do Ministério do Turismo ao Centrão para obter êxito na eleição da Câmara dos Deputados”, escreveu Álvaro Antônio.

O ministro prossegue dizendo que Ramos – amigo de Bolsonaro desde a época do Exército – “deveria ter aprendido na sua própria formação militar que não se joga um companheiro de guerra aos inimigos, não se pode atirar na cabeça de um aliado”.

“Ministro Ramos, o Sr é exemplo de tudo que não quero me tornar na vida, quero chegar ao fim da minha jornada EXATAMENTE como meus pais me ensinaram, LEAL aos meus companheiros e não um traíra como o senhor”, conclui a mensagem, citada pela emissora CNN.

Segundo o jornal O Globo, Bolsonaro teria se irritado com a exposição na mídia de mais uma desavença entre membros de seu gabinete.

O jornal Folha de S. Paulo afirmou que a demissão de Álvaro Antônio já estava prevista na reforma ministerial que Bolsonaro planeja realizar no início de 2021. Até lá, ele estaria avaliando nomear o presidente da Embratur, Gilson Machado, como ministro interino do Turismo, diz o veículo.

Mas segundo apurou O Globo, Machado se reuniu com o presidente nesta mesma quarta-feira e já aceitou assumir o ministério de forma definitiva.

Pivô de escândalo

Deputado federal licenciado pelo PSL de Minas Gerais, Álvaro Antônio era aliado de Bolsonaro desde a Câmara dos Deputados, participou ativamente da campanha presidencial e atuava como ministro do Turismo desde o início do governo.

Até então, o presidente vinha relutando em removê-lo do cargo, mesmo o titular estando no centro de um escândalo de candidaturas laranjas no PSL de Minas Gerais, pelo qual foi denunciado pelo Ministério Público.

A denúncia foi apresentada em outubro de 2019, depois de a Polícia Federal ter indiciado Álvaro Antônio pelos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indevida de recurso eleitoral e por associação criminosa.

Após o escândalo ter sido revelado pela Folha, as investigações concluíram que o ministro comandou um esquema de arrecadação ilegal de fundos para a campanha eleitoral de 2018, enquanto ainda exercia o mandato de deputado federal.

Candidaturas femininas teriam sido usadas de fachada nas eleições para o desvio de verbas eleitorais, com uma parte desse dinheiro público destinada a empresas ligadas a assessores do gabinete dele na Câmara. O inquérito descreve Álvaro Antônio como o “dono do PSL mineiro”.

Até hoje, a Justiça ainda não decidiu se aceita a denúncia do Ministério Público e transforma o agora ex-ministro em réu. O caso tramita atualmente no Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto o ministro Gilmar Mendes analisa um pedido da defesa para que a ação seja anulada.

Segundo argumentam seus advogados, Álvaro Antônio foi investigado de maneira ilegal pelas autoridades de Minas Gerais, uma vez que ele tem direito a foro privilegiado.

 

Fonte: Deutsche Welle (DW)