Por Yuri Abreu – Foto Divulgação/Abapa

Com uma boa produtividade, colhendo cerca de 320 arrobas por hectare, o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Luiz Bergamaschi, celebrou o momento do setor do estado, apesar do risco diante das queimadas que vêm afetando também a região oeste da Bahia, principal produtora da fibra. Apesar disso, em entrevista ao Notícias da Bahia, o dirigente pontuou que apesar da boa qualidade do produto – que tem como destino especialmente países da Ásia -, alguns gargalos precisam ser ultrapassados para que o mercado internacional absorva ainda mais o que é plantado aqui. Além disso, cobrou da Coelba uma quantidade maior de investimentos para contribuir com a expansão da plantação e também da colheita do algodão na Bahia.

Notícias da Bahia – Como o senhor está vendo o cenário do cultivo aqui no estado da Bahia do algodão? Quais são os desafios que os agricultores têm enfrentado e os avanços que obtidos nesses últimos anos?

Luiz Bergamaschi – Nós estamos agora concluindo a safra, já acabamos a colheita dessa safra 23, 24. Uma boa produtividade. Encerramos com 320 arrobas de algodão por hectare. Um clima que no começo, era a questão do El Niño, teve poucas precipitações. Mas choveu no final e então colhemos uma boa safra. A qualidade está boa, o que é importante. Essa safra ainda teve custo pouco mais alto. O momento, é de beneficiar esse algodão, cumprir os contratos e preparar para a próxima. Agora, tem o vazio sanitário, um trabalho que tem que ser feito para preparar para o próximo plantio, eliminação da praga […] o cabicudo da algodoeira, e preparar então para o plantio. Essa safra está com custo menor, mas os preços também para o ano que vem estão menores também. Então, o produtor precisa agora fazer bom plantio. Fora isso, a prioridade é continuar com a promoção do algodão, incentivar o consumo do algodão, convencer as pessoas a usarem o algodão. Esse é o desafio da têxtil natural. Arrumar essa questão, melhorar procurar a questão de encargar os logísticos, por exemplo. Salvador está iniciando agora com exportação, isso é uma rota fundamental para nós, tira pouco da concentração de Santos, que é onde se exporta mais o algodão. E Salvador é dentro do estado, o Bahia é o segundo maior produtor, então agrega valor, valoriza nosso estado, toda a questão econômica, então acho que priorizar nesse sentido. Entregar esse algodão no mercado o mais rápido possível, a qualidade que o mercado exige.

NB – Mas há ainda o gargalos a serem vencidos…

LB – Outros gargalos, como você falou, tem a questão da energia elétrica. Houve investimentos por parte da Coelba, mas que precisam continuar. Até porque é uma tendência da agricultura irrigada aumentar pelo potencial que nós temos. Mas, para isso, está limitada ao fornecimento de energia. Ainda tem o fato de que dependemos da importação de produtos, tanto os defensivos quanto os fertilizantes. Mas isso é uma questão mais ampla. Eu digo, assim, que não teria uma solução tão rápida. É preparar para enfrentar os desafios que vêm no decorrer dos anos. Mas o fundamental é nós termos uma boa competitividade do nosso algodão aqui no Brasil. Aproveitar as características ambientais que nós temos, os agricultores que nós temos, a tecnologia que nós temos, para que mesmo em preços deprimidos, possamos manter atividade com uma certa margem para passar esse momento e estar preparado para crescermos no futuro.

NB – O senhor falou em questão de tempo, a necessidade de chuvas, o período chuvoso, principalmente no oeste da Bahia, começando agora no mês de outubro, ali no mês de novembro. Só que a gente, nesse momento, enfrenta cenário em grande parte do nosso país, relacionado aos incêndios, às queimadas e no oeste da Bahia, claro que em nível menor, pouco menor em relação à que a gente tem visto no centro-oeste, no sudeste. Esse cenário, de alguma forma, preocupou os agricultores? E alguma atitude foi tomada, alguma coisa foi conversada para evitar, por exemplo, que pudesse haver algum prejuízo nessa colheita do algodão?

LB – Para colheita, acredito que não foi tanta preocupação, embora preocupa. O transporte das cargas do algodão preocupa porque é inflamável. Nós temos plantio direto que cresceu na região, então temos muita palha e o período agora é seco, não choveu e o clima está seco e está quente. Então, essa é uma preocupação, porque tudo aquilo que você construiu de biologia do solo, de plantio direto, da palhada, da reciclagem, se queimar, isso se perde muito dinheiro. Por outro lado, o produtor já está preparado, mesmo com a ajuda dos vizinhos, quando algum incêndio acontece, um ajuda o outro e controla isso de uma forma rápida. Essa é uma questão. Acho que tem que ser uma medida em conjunto, não só o produtor, mas o Corpo de Bombeiros, o Estado, naquilo que puder colaborar, para preservar essa questão. Porque o incêndio não interessa a ninguém, o fogo não nos interessa, até porque é prejuízo para nós.

NB – O senhor falou sobre a questão da competitividade no nosso algodão em relação aos demais estados do Brasil produtores. Qual o destino geralmente do algodão plantado aqui na Bahia e vai para o exterior?

LB – Nós temos uma indústria têxtil considerável no Brasil, ela é a sétima indústria têxtil do mundo. Do ocidente, ela é a maior, é maior que americana, consome 700 mil toneladas. O principal destino é Ásia, 95% vai para Ásia, para nove países consumidores. Mas também tem Turquia, está indo pouquinho para o Egito, Paquistão, China, Indonésia, Bangladesh, o Vietnã, a Coreia do Sul. E esse algodão, o brasileiro, conquistou esse mercado nos últimos anos pela sua qualidade, pelo Cotton Brasil. Algumas coisas precisam ainda melhorar, mas que nós estamos trabalhando para isso. Uma das questões é a logística, o tempo que leva daqui até lá. Isso não tem muito como para a distância em si, mas questões de qualidade que eles questionam, a gente está melhorando com variedade, com a forma de condução na algodoeira, nos tratos culturais, nos manejos. Mas o Brasil se coloca como país que tem o fornecimento durante os 12 meses do ano, então é confiável o seu fornecimento.

NB – Sobre o Governo da Bahia, como tem sido a relação da Abapa com a gestão estadual?

LB – Muito boa ao longo dos últimos nos anos, a relação é muito boa. A Abapa, de forma institucional, tem colocado sempre à disposição do governo. Temos trabalhos em parcerias, temos o Prodeagro, que contribui tanto para as estradas, para a infraestrutura, como para a questão de fitosanitária. Temos várias ações, outras ações junto com a ADAB também na questão fitosanitária. Então, tem várias ações que trabalhamos juntos. Isso é fundamental para construirmos essa agricultura atualizada, eu diria, e também para enfrentar essas dificuldades. E o Estado tem sempre estado junto conosco presente para atendermos às nossas necessidades e nós também contribuindo para que o Estado seja próspero e traga renda e desenvolvimento regional. Quando você olha o resultado social dos projetos que a que a gente já fez aqui no estudo da Bahia, aquele dinheiro que ela coloca nos seus projetos, a cada R$ 1 investido, R$ 3,52 retorna para a sociedade. Então, muitos desses recursos também vêm do Prodeagro, quanto do Fundeagro, mas é o compromisso também que a Associação tem, que o cliente, o produtor, tem que investir bem esses recursos para ter retorno, não só o produtor, mas que beneficie a sociedade no modo geral.