1/9/2017, Vladimir Putin, sobre Cúpula de Xiamen, China (Kremlin, ing.)
A 9ª Cúpula dos BRICS será realizada em Xiamen, China, nos dias 4 e 5 de setembro. Considero importante, nessa ocasião, apresentar o modo como a Rússia aborda a cooperação no quadro dessa grande e prestigiosa associação e partilhar minha visão sobre o futuro de nossa cooperação doravante.
Gostaria de começar por expressar nossa apreciação pela significante contribuição da China, que nesse ano exerceu a presidência da organização, o que permitiu que os países BRICS como grupo avançassem em áreas chaves de nossa parceria, incluindo as áreas de política, economia e cultura. Mais que isso, o grupo dos cinco fortaleceu muito a própria estatura global.
É importante que as atividades de nosso grupo baseiem-se nos princípios de igualdade, respeito pela opinião dos demais e consenso. Dentro dos BRICS, nada é jamais imposto a alguém. Quando as abordagens dos vários membros não coincidem, trabalhamos pacientemente e cuidadosamente para coordená-las. Essa atmosfera aberta e de confiança tem levado à implementação bem-sucedida de nossas tarefas.
A Rússia valoriza muito a cooperação multifacetada que se desenvolveu dentro do grupo BRICS. A cooperação construtiva entre nossos países na arena internacional visa a criar mundo multipolar justo e condições de desenvolvimento igualitário para todos.
Rússia defende coordenação mais próxima entre as políticas exteriores dos países BRICS, primeiramente na ONU e no G20, bem como em outras organizações internacionais. É claro que só os esforços combinados de todos os países podem levar à estabilidade global e chegar a soluções para muitos conflitos agudos, incluídos os conflitos no Oriente Médio. Gostaria de dizer que foi graças aos esforços da Rússia e de outros países afetados que se criaram as condições para melhorar significativamente a situação na Síria. Desfechamos golpe potente contra os terroristas e lançamos as bases do movimento na direção de acordo político para que o povo sírio volte a viver em paz.
Mas a luta contra os terroristas na Síria e em outros países e regiões deve continuar. A Rússia conclama a que se prossigam os debates para a criação de uma frente ampla prática de contraterrorismo, baseada na lei internacional e liderada pela ONU. Naturalmente, muito valorizamos o apoio e a assistência de nossos parceiros BRICS a esse respeito.
Devo dizer algumas palavras sobre a situação na Península Coreana, onde aumentaram recentemente as tensões e a situação oscila à beira de conflito de grande escala.
A Rússia entende que a política de pressionar Pyongyang para que ponha fim ao seu programa nacional de mísseis nucleares é mal orientada e sem serventia. Os problemas da região só serão superados mediante diálogo direto que envolva todas as partes sem precondições. Provocações, pressões, retórica militarista e de insultos diretos só levam um beco sem saída.
Rússia e China já criaram um mapa do caminho para acordo sobre a Península Coreana que visa a promover a redução gradual das tensões e a criar um mecanismo que leve a segurança e a paz duradouras.
A Rússia também trabalha para promover a interação dos países BRICS na área da segurança global da informação. Propomos unir nossos esforços para criar uma base legal para cooperação e, subsequentemente, para que se redijam e adotem-se regras universais de comportamento responsável dos estados nessa esfera. Importante passo rumo a essa meta seria a assinatura de um acordo intergovernamental dos BRICS sobre segurança da informação.
Gostaria de destacar que, por iniciativa da Rússia, foi adotada na cúpula de Ufa em 2015[1] uma Estratégia dos BRICS para Parceria Econômica, que está sendo implementada com sucesso. Esperamos poder discutir cooperação em nova e maior escala nas áreas de comércio, investimento e cooperação industrial, na Cúpula de Xiamen.
A Rússia está interessada em promover cooperação econômica dentro do formato BRICS. Já há notícias recentes de realizações consideráveis nessa área, com destaque para o lançamento do Novo Banco de Desenvolvimento, NBD [ing. New Development Bank (NDB)]. Já foram aprovados nos países BRICS projetos no valor total de cerca de $1,5 bilhão. Em 2017, o NBD deve aprovar um segundo pacote de investimentos no total de $2,5-$3 bilhões. Estou convencido de que a implementação desses projetos não apenas dará forte estímulo a nossas economias como, também, promoverá maior integração entre nossos países.
A Rússia partilha as preocupações dos países BRICS relacionadas à arquitetura econômica e financeira mundial, injusta e desigual, que não dá a consideração devida ao peso das economias emergentes. Estamos prontos a trabalhar com nossos parceiros para promover reformas na regulação financeira internacional, para superar a dominação excessiva do número limitado de moedas de reserva. Também trabalharemos na direção de distribuição mais equilibrada de quotas e direito a voto dentro do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.
Tenho confiança de que os países BRICS continuarão a agir de modo consolidado contra o protecionismo e novas barreiras no comércio global. Valorizamos o consenso dos países BRICS nessa questão, que nos permite advogar mais consistentemente a favor da fundação de um sistema de comércio aberto, multilateral, igualitário e que beneficie todas as partes; assim também, trabalhamos para fortalecer o papel da Organização Mundial de Comércio como reguladora do comércio internacional.
A iniciativa da Rússia no desenvolvimento de maior cooperação entre as várias agências antimonopólio, dos países BRICS, visa a criar mecanismos efetivos para encorajar a concorrência justa. O objetivo é criar um pacote de medidas de cooperação para trabalhar contra as práticas comerciais restritivas que são rotina das grandes empresas multinacionais e contra violações transfronteiras das regras da concorrência.
Gostaria de chamar a atenção de todos para a iniciativa da Rússia no sentido de se estabelecer uma Plataforma BRICS de Pesquisa em Energia [ing. umaBRICS Energy Research Platform]. Entendemos que essa iniciativa permitirá que coordenemos nossas informações, nossas análises e nossas atividades de pesquisa no interesse dos cinco países BRICS. A iniciativa também facilitará a implementação de projetos conjuntos de investimento em energia.
Outra prioridade é construir nossa cooperação na área das pequenas e médias empresas (PME). Entendemos que é do interesse de nossos países integraronline os recursos nacionais das PMEs, destacando os pontos de convergência e outras informações comerciais, para trocar dados entre parceiros confiáveis.
A Rússia trabalha hoje para criar um diálogo público-privado sobre A Mulher e a Economia. Essa iniciativa garante que os países BRICS mantenham debates regulares que aproximem as comunidades comerciais e de especialistas, as associações de mulheres e agências governamentais. A primeira dessas conferências já aconteceu dia 4/7/2017, durante o Primeiro Congresso Internacional da Mulher da Organização de Cooperação de Xangai e Estados-membros dos BRICS. Outra ideia é criar uma Associação Comercial para Mulheres dos BRICS, como uma rede de interação profissional entre mulheres empreendedoras, com recursos de informação online.
Nossas outras prioridades incluem cooperação nos campos da ciência, tecnologia, inovações e medicina de ponta. Nossos países acumulam grande potencial nesses campos, que inclui base de pesquisas sólida e mutuamente complementar, realizações técnicas sem paralelo, pessoal técnico altamente capacitado e vasto mercado para produtos intensivos em ciência. Propomos que, na próxima reunião de cúpula, discutamos um pacote de medidas para reduzir a ameaça de doenças infecciosas e criar novos remédios para prevenir e combater epidemias.
Entendo que nossa cooperação na esfera humanitária tem excelentes possibilidades. Ao trabalhar para implementar o Acordo Intergovernamental dos BRICS para Cooperação no Campo da Cultura, esperamos que nossos parceiros participem dos concursos internacionais New Wave e New Wave Junior para jovens cantores pop. Também apresentamos a iniciativa de criarmos uma rede conjunta de TV dos países BRICS.
A Rússia defende o fortalecimento da parceria entre os países BRICS na política, na economia, na cultura e em outras áreas. Estamos prontos para continuar trabalhando com nossos colegas para promover a democracia e fortalecer os elementos progressistas das relações internacionais baseados firmemente na lei internacional. Estou convencido de que a Cúpula de Xiamen ajudará a revigorar os esforços de nossos países para encontrar soluções ante os desafios do século 21 e levará a um nível mais alto a cooperação entre os países BRICS.
De coração desejo saúde e sucesso a vocês e a todos os povos dos países BRICS.*****
[1] Golpe no Brasil tenta ‘apagar’ a história. Parece que matérias ainda listadas no procurador Google sobre a reunião dos BRICS em Ufa em 2015, foram retiradas das várias páginas de órgãos do governo do Brasil, como se constata em “Entrevista coletiva da presidenta do Brasil, em Ufa, 2015”; “Em Ufa, Dilma diz q parceria estratégica consolida o grupo”, dentre outras entradas dos quais se encontram os endereços, mas não as páginas correspondentes [NTs].