​Adriano da Nóbrega. Foto: Reprodução/YouTube

 Por Gilberto Maringoni

Publicado originalmente no perfil do autor no Facebook

POR FORÇA DE SUAS AMBIGUIDADES, o PT está metido em uma camisa de onze varas no caso do assassinato do miliciano Adriano Nóbrega. O rolo é tamanho, que o partido se arrisca a não poder emitir juízo algum sobre a entrada do crime organizado na política institucional, um dos maiores perigos que ronda a vida pública brasileira.

Se buscar ir a fundo no que ocorreu na manhã do domingo, 9 de fevereiro, num sítio do município de Esplanada (BA), a direção do partido trombará de frente com o principal governador da legenda, Rui Costa, da Bahia. Se não fizer nada, abrirá espaço para que Jair Bolsonaro leve a melhor no duelo de argumentos sobre o caso e passará para a opinião pública a noção de desejar acobertar o caso. Vida dura.

Adriano perdeu a vida em uma suposta troca de tiros, quando se viu cercado por mais de 70 policiais. Seria um contrassenso trocar tiros sozinho e em tamanha desvantagem numérica. Fotos de seu cadáver publicadas na revista Veja revelam que alguns disparos foram feitos a 40 centímetros de distância. Ninguém troca tiros em tal proximidade.

A MORTE DE NÓBREGA resultou de operação conjunta da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (Polícia Militar) e da Secretaria de Polícia Civil do Rio de Janeiro (Sepol), sob chefia da primeira. O ex-oficial da PM-RJ, como se sabe, chefiava a milícia Escritório do Crime e teria ligações com os assassinos da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ).

Diante de suspeitas de queima de arquivo, o governo petista fechou-se em copas. Ignora-se o motivo. Com extrema grosseria, o Secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Teles Barbosa, deu bolo em Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, que havia solicitado uma audiência para a sexta (14), em Salvador. Somente ao desembarcar na capital baiana, Medeiros soube que o Secretário havia desmarcado o encontro. O PSOL e o PT são aliados em diversas iniciativas no Congresso nacional e devem selar alianças para as eleições municipais. A aresta em caso sensível não é bom sinal.

RUI COSTA PERMANECEU MUDO durante a semana, mas soltou a língua no sábado (15) para engambelar o distinto público. Em seu twitter, afirmou que o governo baiano “não vai tolerar nunca milícias, nem bandidagem” e que no estado “a determinação é cumprir ordem judicial e prender criminosos com vida. Mas se estes atiram contra pais e mães de família que representam a sociedade, os mesmos têm o direito de salvar suas próprias vidas, mesmo que os marginais mantenham laços de amizade com a Presidência”. Hã-hã…

Com esperteza além da conta, Costa consegue a proeza de abrir enorme flanco e se colocar na defensiva diante da família Bolsonaro, que tem mais do que claras ligações com o submundo da milícia carioca. O presidente da República partiu com os dois pés para cima do peito do chefe do Executivo baiano: “A atuação da PM-BA, sob tutela do governador do estado, não procurou preservar a vida de um foragido, e sim sua provável execução sumária, como apontam peritos consultados pela revista Veja”. Costa nada retrucou.

O PT GOVERNA A BAHIA ininterruptamente desde 2006. Não se tem notícia de nenhuma tentativa de controlar de fato a Polícia Militar, diante de seus mais que denunciados excessos. Ao contrário. Há exatos cinco anos (06.02.2015), Rui Costa elogiou o comportamento de policiais que teriam participado de uma chacina no bairro do Cabula. O resultado foram 12 mortos, todos civis.

Segundo suas palavras, um policial diante de um suspeito deve agir “como um artilheiro em frente ao gol que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol, pra fazer o gol”. Trata-se da versão acarajé do “mirar na cabecinha”, propalada por Wilson Witzel em terras cariocas.

HÁ ANOS, O PT NÃO CONSEGUE ter posição clara sobre nenhum assunto relevante. Não pode falar do desemprego, por ter decidido dobrar a taxa de desocupação entre 2015-16, no segundo governo Dilma, legando 12 milhões de trabalhadores na rua. Não pode falar da Globo por ter abastecido a rede com R$ 10 bilhões em publicidade entre 2003-13. Não pode falar do STF por ter indicado 7 dos 11 membros daquela colenda corte. Não pode falar de desenvolvimento, pois fez a economia encolher quase 8% há quatro anos. Não pode falar de rentismo por ter praticado juros estratosféricos na maior parte dos 13 anos à testa do Executivo federal.