O chavismo consolidou seu poder na Venezuela neste domingo (21/11) ao vencer em 20 dos 23 estados do país, além da capital, Caracas, nas eleições regionais, segundo os números divulgados pelas autoridades eleitorais após a contagem de mais de 90% dos votos.

O pleito marcou a volta da oposição às urnas após um boicote de quatro anos e foi o primeiro no país em 15 anos a contar com uma missão de observadores eleitorais da União Europeia (UE).

As eleições foram um grande teste para o governo do presidente Nicolás Maduro, num país arrasado pela crise econômica e afetado por sanções internacionais. A reeleição de Maduro em 2018 não é reconhecida pela oposição e por boa parte da comunidade internacional.

“Nós, as forças revolucionárias, ganhamos 21 [estados], incluindo a capital do país”, celebrou Maduro. “Bom triunfo, boa vitória, boa colheita do trabalho, um trabalho perseverante.”

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) afirmou que 41,8%, ou 8,1 milhões dos 21 milhões de eleitores, compareceram às urnas.

Em contraste com o triunfo do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), a oposição, debilitada e fragmentada, venceu em apenas três estados, perdendo até mesmo na região tradicionalmente opositora de Táchira, na fronteira com a Colômbia.

Os oposicionistas, no entanto, saíram vitoriosos no estado mais populoso do país, Zulia, com o candidato da Mesa da Unidade Democrática (MUD). Também venceu o representante da MUD em Cojedes, tradicional bastião chavista, e em Nueva Esparta ganhou o candidato do partido recém-fundado Fuerza Vecinal.

Novo ponto de partida para oposição e Maduro

Os maiores partidos de oposição haviam boicotado as eleições presidências de 2018 e as legislativas de 2020, nas quais o oficialismo recuperou o controle do Parlamento, denunciando ambos os pleitos como fraudulentos.

As eleições regionais deste domingo se apresentaram como um novo ponto de partida não apenas para a oposição, mas também para Maduro, que busca o levantamento de sanções internacionais, incluindo um embargo petrolífero dos Estados Unidos.

Mais de 130 observadores internacionais estiveram presentes, principalmente da União Europeia, em meio a garantias do governo Maduro de que as eleições seriam livres e justas. A missão da UE deve apresentar um relatório sobre o pleito nesta terça-feira.

O fechamento dos centros de votação estava previsto para as 18h deste domingo. A oposição criticou a ampliação desse horário, apesar de ser um procedimento habitual no país. A lei eleitoral venezuelana indica que, enquanto houver eleitores na fila, as sessões devem permanecer abertas.

Também houve outros incidentes durante a jornada eleitoral que foram minimizados pelo presidente do CNE, Pedro Calzadilla, segundo a agência de notícias Efe.

Um homem foi assassinado no município de San Francisco, no estado de Zulia, ao fazer fila para votar, mas o caso não foi mencionado por Calzadilla durante o anúncio dos resultados. O ministro do Interior, Remigio Ceballos, afirmou se tratar de um “ato criminoso isolado do processo eleitoral”.

“Resultado lamentável para a oposição”

Apesar do retorno da oposição às urnas, o movimento chavista liderado por Maduro era visto como o provável vencedor da maioria das eleições regionais, em que foram escolhidos governadores, prefeitos e vereadores.

Henrique Capriles, antigo candidato presidencial que perdeu para Hugo Chávez em 2012 e para Maduro um ano depois, havia dito que a oposição provavelmente não teria um bom desempenho em função de suas divisões internas.

“Os resultados do CNE trazem poucas surpresas […] O mapa permanece fundamentalmente vermelho [cor do governista PSUV], como se esperava”, escreveu no Twitter o analista Luis Vicente León, diretor do instituto de pesquisa Datanálisis.

“Este resultado é lamentável para a oposição, pois se definiu fundamentalmente devido à abstenção e à divisão”, afirmou León, fazendo referência às dificuldades dos rivais de Maduro de acordar candidaturas unificadas.

O líder opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por dezenas de países, não votou e se manteve em silêncio.

Guaidó defendeu na última semana a retomada das negociações entre governo e oposição no México. Maduro, no entanto, disse neste domingo que “não há condições” para retomar as conversas.

Maduro pede respeito aos resultados

O chavismo se saiu melhor nas urnas do que em 2017, quando venceu em 18 estados e em Caracas. Após tomar conhecimento dos resultados deste domingo, Maduro pediu que eles sejam respeitados e celebrou a vitória de seu partido.

“Meu chamado a todos, ganhadores e não ganhadores, é para respeitar os resultados, para o diálogo político e para a reunificação nacional”, disse Maduro. Para o presidente, a vitória do PSUV foi possível graças à “perseverança” e “retidão” de sua militância.

“Aqui está, para toda a Venezuela, este é o mapa político do nosso país”, disse Diosdado Cabello, o número dois do chavismo, mostrando um mapa do país repleto de vermelho, com exceção dos três estados conquistados pela oposição. Esse resultado garantirá “a paz e a tranquilidade”, afirmou.

Fonte: Deutsche Welle (DW)