(Pesquisa e texto de Zédejesusbarreto)
Meio século depois de assassinado no interior da Bolívia, em 9 de outubro de 1967, os ideais revolucionários do guerrilheiro Ernesto Che Guevara continuam pulsantes, sobretudo nessa Latino-América ainda tão desigual, polarizada e injusta.
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Como foi a execução
Quase um ano depois de ter se embrenhado com alguns companheiros de sonhos nas matas bolivianas plantando sementes do que imaginava ser o começo de uma grande revolução no continente sul-americano, isolado, doente, traído por alguns camponeses e cercado por tropas do exército do ditador René Barrientos, o guerrilheiro Che Guevara foi emboscado, ferido e aprisionado na região da Quebrada del Churro, próxima ao vilarejo de La Higuera. Atingido por um tiro na perna foi aprisionado junto com o companheiro Simon ‘Willy’, ambos levados para uma escolinha de chão e paredes de barro, no vilarejo, onde passou a noite no chão com pés e mãos amarradas, esperando o destino.
Não era mais a figura daquele homem bonito, altivo e encantador que conhecemos pela extraordinária fotografia de Alberto Korda, em posters e camisetas mundo afora. Não. Aquele Guevara era um homem envelhecido para os seus quase 40 anos de idade, magérrimo, faminto, desidratado e padecido pelos constantes ataques de asma.
No dia seguinte de sua prisão, por volta do meio dia, chegou a ordem do governo central da Bolívia para se ‘proceder à eliminação do señor Guevara’. Execução sumária. O autor dos tiros de fuzil semiautomático foi o sargento Mário Terán, orientado pelo seu coronel Zenteno Anaya para que preservasse o rosto. Era preciso criar a versão de que ele teria sido morto em combate.
Ainda na tarde de 9 de outubro o corpo de Che, amarrado às ferragens de pouso de um helicóptero, foi levado à cidade próxima de Vallegrande, onde restou colocado sobre uma lavanderia nos fundos do hospital local Nuestro Señor de Malta. As fotos que conhecemos do corpo de Che estendido foram feitas lá, a notícia se espalhando e atraindo muita gente para vê-lo.
Contam, então, que a partir daí os milicos da ditadura boliviana mandaram decepar as mãos do guerrilheiro, colocadas num vaso de vidro com formol e enviadas à perícia em Buenos Aires. No dia 11, o cadáver foi atirado numa vala próxima das cabeceiras de uma pista de pouso local e os restos mortais de Guevara só foram localizados 30 anos depois; daí, por um acordo entre governos, foram transferidos para Santa Clara, em Cuba, os ossos sepultado então com honras de chefe de Estado com a presença do companheiro e comandante Fidel Castro. O comandante Fidel fez um pronunciamento pela TV ao povo cubano no dia 15 de outubro de 1967, anunciando a morte de Che. Comoção. Um herói, mito e exemplo em Cuba, ainda hoje e sempre.
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Veio ao Brasil
Antes de se embrenhar na aventura pelas matas bolivianas, o que lhe custou a vida, o guerrilheiro Guevara passou pelo Brasil. Vinha da Europa, depois de desventuras na África, e desceu no aeroporto de Viracopos, em São Paulo, disfarçado como um diplomata uruguaio de nome Adolfo Mena Gonçalvez, enviado especial da OEA-Organização dos Estados Americanos. Irreconhecível. Cabelos raspados, uma dentadura horrível que mudava sua voz e fisionomia, óculos de aros e lentes grossas.
Sim, era ele, naqueles dias um dos homens mais procurados no mundo. Passou um dia de reuniões (num apartamento na avenida Paulista) com Carlos Marighella, baiano, e com Joaquim Câmara Ferreira (o Toledo), militantes históricos à época ainda no PCB, o Partidão, mas já partidários da luta armada. Che queria apoio da esquerda brasileira para sua aventura que, imaginava, sonhava, seria o passo primeiro para uma grande revolução popular na América do Sul.
Che saiu de São Paulo até Corumbá num DKV do amigo arquiteto comunista Farid Helou, que havia morado um tempo em Cuba, depois da Revolução dos barbudos de Sierra Maestra, vitoriosa em 1959 sob o comando de Fidel Castro, tendo como braço direito o médico argentino Ernesto Guevara de la Serna, o Che. O revolucionário, o guerrilheiro, a cabeça pensante da Revolução Cubana, o amigo fiel do Fidel, comandante.
Che, certamente o quadro mais qualificado da Revolução que derrubou Fulgêncio Batista, foi embaixador do novo governo revolucionário cubano, dirigiu o Instituto Nacional de Reforma Agrária, presidiu o Banco Central (o Nacional) e o Ministério da Indústria, nomeado por Fidel. Em outubro de 1965, Che escreveu uma carta ao amigo, companheiro e comandante anunciando que estava deixando Cuba, sua ilha amada, para continuar, noutras plagas, sua luta, sua sina de plantador de sementes de liberdade, ‘combatendo o imperialismo’. Antes de decidir pela América do Sul, tentou em alguns países da África, sem êxito.
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PS: – Ernesto Che Guevara nasceu em Rosário, oficialmente em 14 de junho de 1928, de uma família liberal, de posses. Uma alma aventureira, andarilha, inquieta, sonhadora. Um guerrilheiro pragmático.
“ Hay que erndurecerse pero
sin perder la ternura
jamás
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CARTA DE DESPEDIDA A FIDEL CASTRO
Havana, ano da agricultura
Fidel,
Neste momento lembro-me de muitas coisas – de quando te conheci no México, em casa de Maria Antonia, de quando me propuseste juntar-me a ti; de todas as tensões causadas pelos preparativos …
Um dia vieram perguntar-me quem deveriam avisar em caso de morte, e a possibilidade real deste fato afetou todos nós. Mais tarde soubemos que era verdade, que numa revolução ou se vence ou se morre (se a revolução for autêntica). E muitos companheiros ficaram-se pelo caminho em direção à vitória.
Hoje, tudo tem um tom menos dramático, porque estamos mais maduros. Mas os fatos repetem-se. Sinto que cumpri com a parte do meu dever que me prendia à Revolução Cubana no seu território e despeço-me de ti, dos camaradas, do teu povo, que agora é meu.
Renuncio formalmente aos meus cargos no Partido, ao meu lugar de ministro, à minha patente de Comandante e à minha cidadania cubana. Legalmente nada me liga a Cuba, apenas laços de outro tipo, que não se podem quebrar com nomeações.
Fazendo o balanço de minha vida passada, acho que trabalhei com suficiente integridade e dedicação para consolidar o triunfo revolucionário. A minha única falha grave foi não ter tido mais confiança em ti desde os primeiros momentos da Sierra Maestra, não ter compreendido com a devida rapidez as tuas qualidades de líder revolucionário.
Vivi dias magníficos e, ao teu lado, senti orgulho de pertencer ao nosso povo nos dias brilhantes, embora tristes, da crise do Caribe (a questão dos mísseis soviéticos em Cuba). Raramente um estadista fez mais do que tu naqueles dias; orgulho-me também de te ter seguido sem vacilar, identificando-me com a tua maneira de pensar, de ver e avaliar os perigos e os princípios.
Outras terras do mundo requerem os meus modestos esforços. Eu posso fazer aquilo que te é vedado devido à tua responsabilidade à frente de Cuba, e chegou a hora de nos separarmos.
Quero que se saiba que o faço com um misto de alegria e dor. Deixo aqui as minhas mais puras esperanças de construtor e os meus entes mais queridos. E deixo um povo que me recebeu como um filho. Isso fere uma parte do meu espírito.
Carregarei para novas frentes de batalha a fé que me ensinaste, o espírito revolucionário do meu povo; a sensação de cumprir com o mais sagrado dos deveres: lutar contra o imperialismo onde quer que esteja. Isso me consola e mais do que isso cura as feridas mais profundas.
Declaro uma vez mais que liberto Cuba de qualquer responsabilidade, a não ser aquela que provém do seu exemplo. Se chegar a minha hora debaixo de outros céus, o meu último pensamento será para o povo e especialmente para ti, a quem digo obrigado pelos teus ensinamentos e pelo teu exemplo, aos quais tentarei ser fiel até às últimas consequências dos meus atos; que estive sempre identificado com a política externa da nossa revolução e assim continuarei; que onde quer que me encontre sentirei a responsabilidade de ser revolucionário cubano, e como tal atuarei.
Não lamento por nada deixar, nada material, para os meus filhos e para a minha mulher. Estou feliz que seja assim. Não peço nada para eles, pois o Estado lhes dará o suficiente para viver e se educarem.
Teria muitas coisas a dizer-te e ao nosso povo, mas sinto que não são necessárias palavras, elas não podem expressar o que eu desejaria; não vale a pena rabiscar apressadamente mais qualquer coisa num bloco de notas.
Hasta la victoria siempre ! Pátria o muerte!
Abraço-te com todo o meu fervor revolucionário.
Che
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Zédejesusbarreto / out2017