China assinou um acordo de 25 anos com o Irã para aumentar a cooperação abrangente, incluindo energética. Há analistas ocidentais falando em investimento chinês de US$ 400 bilhões (mais de 2 trilhões de reais) no Irã, em meio às sanções dos EUA à nação persa.

A China assinou um acordo de 25 anos com o Irã para aumentar a cooperação abrangente, o que, no entanto, foi interpretado por alguns meios de comunicação ocidentais de uma perspectiva de competição geopolítica, alegando que a China estivesse disposta a investir US$ 400 bilhões (mais de 2 trilhões de reais) no Irã e que os dois países estivessem buscando tornar o acordo “uma virada de jogo” por sua cooperação bilateral em meio às sanções dos EUA ao Irã.

Como nenhum detalhe do acordo foi oficialmente divulgado, esses relatos são uma interpretação unilateral da mídia ocidental que pretende retratar o aprofundamento da cooperação bilateral entre China e Irã como um desafio contra os EUA, disseram especialistas chineses.

O conselheiro de Estado e ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, enfatizou que Pequim está disposta a se opor a hegemonia e intimidação, a salvaguardar a Justiça e imparcialidade internacionais, bem como defender as normas internacionais junto com o povo do Irã e de outros países.

Colocando em perspectiva a oferta de Pequim em hora de necessidade, os observadores acreditam que o acordo sino-iraniano pode incentivar outros países da região a firmar parcerias de longo prazo com a China que atendam às suas necessidades de desenvolvimento, com a provável necessidade de diversificar suas economias na era pós-pandemia.

O acordo foi assinado no sábado (27) por Wang e seu homólogo iraniano Mohammad Javad Zarif na capital do Irã, Teerã, durante a visita de Wang à nação persa. O plano para uma cooperação abrangente China-Irã é o resultado dos esforços de ambos os lados depois que eles emitiram uma declaração conjunta sobre o estabelecimento de uma parceria estratégica abrangente ainda em janeiro de 2016, disse Wang à agência de notícias Xinhua.

“A China e o Irã têm uma longa história de cooperação e o Irã é um parceiro vital da China sob a plataforma da iniciativa Um Cinturão, Uma Rota”, afirmou Ding Long, professor do Instituto de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, ao Global Times, no domingo (28).

Ding ressaltou benefício mútuo e resultados apenas proveitosos para ambos os lados do acordo. “O Irã precisa de cooperação com a China para romper as sanções do Ocidente e melhorar a construção de infraestrutura doméstica, e a China precisa importar petróleo do Irã para garantir sua segurança energética.” Para ele, ver o acordo como sendo contra os EUA trata-se de uma interpretação unilateral.

Cooperação energética pós-pandemia

Sob o novo acordo, os dois lados explorarão o potencial de cooperação econômica e cultural e farão planos para cooperação de longo prazo, disse Wang, acrescentando que acredita que isso vai promover a atualização contínua da parceria estratégica abrangente China-Irã para um melhor benefício dos dois povos, relatou a Xinhua. Zarif ressaltou que a assinatura do plano abrangente de cooperação injetará um novo ímpeto para fortalecer ainda mais a cooperação mutuamente benéfica.

A cooperação energética, uma área de parceria de longa data entre os dois países, seria uma grande parte do acordo sino-iraniano, observaram especialistas chineses. Para eles, a pandemia da COVID-19 diminuiu a demanda de petróleo, pesando na economia da região. E o turismo local sofre, colocando o desenvolvimento regional em primeiro plano.

A China apoia firmemente os esforços da Arábia Saudita para explorar e encontrar um caminho de desenvolvimento que se adapte às suas próprias condições, disse o chanceler chinês. E que, em conjunto, os dois lados podem desempenhar plenamente o papel do Comitê Conjunto de Alto Nível China-Arábia Saudita, que deve assumir a liderança no aprofundamento da cooperação bilateral em áreas tradicionais como comércio, investimento e infraestrutura, bem como em campos emergentes, incluindo inteligência artificial, 5G, big data e tecnologias aeroespaciais.

Preocupação internacional 

O ex-chefe da Diretoria de Inteligência Militar do Exército israelense, Amos Yadlin, expressou preocupação com uma cláusula do acordo de cooperação estratégica de 25 anos assinado entre o Irã e a China, que inclui um compromisso com a cooperação militar, investigação e compartilhamento de inteligência.

“A China se opõe a uma bomba nuclear iraniana, mas, por outro lado, não está ajudando a deter o Irã. O Irã precisa do apoio político da China para evitar que os EUA o pressionem”, disse Yadlin, em entrevista ao site Ynet.

Ao distorcer a intenção de cooperação sino-iraniana, a mídia ocidental pretende exagerar a ameaça do Irã em meio ao impasse da questão nuclear iraniana e justificar as sanções do Ocidente ao Irã, ponderou Niu Xinchun, pesquisador do Instituto Chinês de Relações Internacionais Contemporâneas, de Pequim, ao Global Times.

Durante o encontro com Wang Yi, Zarif enfatizou que os EUA, em vez de fazerem demandas irracionais ao Irã, deveriam dar o primeiro passo, suspender as sanções unilaterais contra o Irã e retornar ao Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês).

Wang disse que o atual impasse foi causado pela retirada unilateral do pacto pelos EUA e instou Washington a suspender suas sanções ilegítimas contra o Irã, cancelar suas medidas de jurisdição de braço longo sobre terceiros e resumir a implementação do JCPOA de forma abrangente e incondicional.

 

Fonte: Sputnik Brasil