Por Redação – Foto Betto Jr. e Bruno Concha/Secom PMS

No berço do Comércio, em frente ao Elevador Lacerda e ao Mercado Modelo, esta o famoso casarão de azulejos azuis, a Cidade da Música da Bahia. O museu, inaugurado em 2021, tem a ideia de apresentar a história da música baiana, da cultura soteropolitana e, consequentemente, do Brasil como um todo. O local vem se destacando por seus workshops diários de percussão e por ser espaço de interesse entre os rappers, que podem participar de batalhas de rimas em um espaço dedicado ao hip-hop.

“Normalmente, durante a semana, temos uma média de 250 a 300 visitantes por dia. Grande parte dessas visitas são de grupos escolares, que atendemos durante os turnos da manhã e da tarde. Às quartas-feiras, a visitação é maior devido à gratuidade. Nesse dia, a média é de 400 a 600 visitantes, excluindo o período de junho a julho. A estimativa para esse mês é que atinjamos de 1 mil a 1,2 mil visitantes em um dia, impulsionados por esse fator”, explicou o diretor do espaço, Gean Carlo ao lembrar do período de férias só sul e Sudeste brasileiro.

Gerido pela Prefeitura de Salvador, através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), o equipamento tem sido referência no âmbito de pesquisas e preservação do patrimônio imaterial, que é a música. São mais de 700 horas de conteúdo disponível que resumem as manifestações musicais em Salvador, desde o seu surgimento. A responsabilidade do acervo e do design do local estão sob as curadorias do antropólogo Antônio Risério e do arquiteto e artista Gringo Cardia, dupla que também atuou em outro equipamento municipal, a Casa do Carnaval da Bahia, na Praça da Sé.

Os visitantes podem acessar totens, TVs e grandes telas dispostas ao longo dos espaços, cujo conteúdo é acessado através do QR Code escaneado pelo celular da pessoa, o que permite controlar o que é visto, como um controle remoto, que funciona durante toda a visita. “Ao entrar na casa, eles se sentem envolvidos nesse universo musical. Não é como assistir a um documentário, é como estar dentro dele. Para lidar com a quantidade considerável de conteúdo, desenvolvemos um aplicativo. Através do nosso site, é possível escolher o bairro de maior interesse, explorar as narrativas e acessar as cabines através dos números exibidos em cada tela. Isso oferece mais autonomia a quem está visitando”, esclarece Carlo.

“Por ser um patrimônio imaterial, 90% do nosso acervo é digital. Temos dois polos físicos, os instrumentos confeccionados por Luizinho do Jejê, que compõem nosso estúdio de percussão, utilizados em nossas apresentações diárias, e os livros, encontrados na sala de leitura do térreo”, pontua Carlo.

“Eu achei uma experiência única. É um instrumento de grande integração cultural, traz para a gente uma vivência de Salvador que normalmente não temos. Nós costumamos conviver com as experiências dos bairros, sem entender os significados, a história e isto aqui é uma ferramenta de integração, de consciência, um espaço que você não vê com essa magnitude em nenhum lugar do Brasil”, declara Alexandre Souza, soteropolitano em visita ao museu.

O local conta com três andares temáticos e acervo totalmente digitalizado, além de salas especiais interativas, como a do karaokê, o estúdio de percussão e a sala do rap/trap. Já no térreo, é possível encontrar um café, biblioteca e a recepção. São mais de 30 mediadores trabalhando na casa que auxiliam as visitas, assistem as pessoas e promovem atividades lúdicas.

No primeiro andar da casa, é possível encontrar um panorama geral, na exposição “A Cidade de Salvador e Sua Música”. São 44 bairros, cujas respectivas histórias são contadas ao longo de cabines espalhadas, cada uma narrando um pequeno bloco, por meio de depoimentos de envolvidos. Também há um mapa interativo que pode ser acessado e três grandes telas de projeção, emulando a experiência de uma pequena sala de cinema.

No segundo andar são abordadas as artes plásticas, movimentos artísticos e artistas, ampliando a noção de música para todo o estado. O visitante descobre, por exemplo, como a música se manifesta em Santo Amaro, onde surgiram grandes ícones como Maria Bethânia, entre outros.

É nele que está a exposição “História da Música na Bahia”. O tema do local é voltado ao movimento Tropicália, com a decoração que conta com ilustrações gigantes, tiradas de fragmentos das pinturas do pintor baiano e modernista Genaro de Carvalho (1926 – 1971). Aqui, estão nove cabines de vídeos e três salas especiais. É sintetizado um panorama sobre os artistas, gêneros e movimentos da história musical baiana, da Tropicália ao rap/trap, que inclusive conta com uma sala própria dedicada a esse gênero mais moderno.

Nesse andar, ocorrem projetos voltados ao mundo do hip-hop, abertos ao público-alvo que desejar prestigiar, bem como aos visitantes que estiverem passando. “Nós tentamos alinhar o que o andar traz para nós, que são os artistas de gêneros e movimentos da história musical baiana ao rap/trap. Temos três formatos lá, o de batalhas, onde os MCs disputam versos para ver quem se sai melhor; o de interação direta, onde pedimos palavras ao visitante e construímos um freestyle; e o formato livre, que é a construção de freestyle apenas para demonstração”, afirma Ogum, mediador e rapper da casa.

No mesmo local, está sendo dedicada uma homenagem ao músico de Santo Amaro, Assis Valente (1911 – 1958), aproveitando também temáticas de datas importantes para criar um trabalho lúdico em cima disso. “Estamos usando o formato drill, mais focado nas composições dele. O museu proporciona muito isso. Por exemplo, aproveitamos a temática do 2 de Julho e do Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ para construirmos um movimento claro com a visibilidade do mundo do rap, apresentando esse gênero periférico que representa as favelas”, completa.

Já no terceiro andar, é onde estão as atividades mais interativas do museu, onde os visitantes podem experimentar a vivência musical. Ali, é possível encontrar as salas de karaokê, onde qualquer um pode entrar na cabine para cantar uma música de sucesso do carnaval baiano, que é gravada e disponibilizada para os visitantes. Também estão as cabines de mixagem, onde podem trabalhar na mixagem de sua música, além do estúdio de percussão, onde ficam os instrumentos da casa e ocorrem as oficinas diárias – momento em que os visitantes podem conferir como um profissional da música pode atuar em diferentes áreas, como percussão, mixagem, produção de estúdio, rap/trap e até mesmo karaokê.

A Cidade da Música da Bahia funciona de terça a domingo, das 10h às 18h, com entrada permitida até as 17h. Os ingressos custam R$20 (inteira) e R$10 (meia). Residentes de Salvador que apresentarem comprovante pagam meia entrada todos os dias. Alimentos e bebidas são proibidos durante a permanência no local. O site oficial é o https://cidadedamusicadabahia.com.br/.