Por Chico Ribeiro Neto – Foto Alcides Neto

Umas pessoas colecionam os primeiros dentes. Outras, asas de borboleta. Algumas, estrelas.

Nunca apreciei colecionar selos, achava chato, mas admirava quem o fazia. E havia os encontros para troca de selos e também era um encontro de amigos.

Colecionar bolas de gude, isqueiros, pequenas caixas de fósforo, flâmulas, ingressos de shows, bilhetes de namoradas. Em tudo isso tem um pedacinho da gente.

Colecionar as cartas que vovô Chico escrevia toda semana, de Ipiaú, para minha mãe Cleonice, a quem chamava de Teuzinha.
No início da ditadura, em 1964, em Salvador, minha mãe me obrigou a queimar no quintal uma coleção do jornal de esquerda “Brasil Urgente”, com medo de que eu fosse preso.

Coleciono folhas da avenida Centenário, os olhos da primeira namorada, a cara do meu avô quando saí de Ipiaú, as mãos de minha mãe, o viveiro de passarinhos do meu pai Waldemar.

Tem ainda quem coleciona a “Revista do Esporte” e “Sétimo Céu”, revista de fotonovelas e variedades.

Tem a coleção das pedrinhas catadas na praia e daquele papel que fazia arraia. Tem gente que coleciona mortalhas de Carnaval. Tem a coleção que não se guarda na gaveta, mas na alma. A coleção de dores e dissabores, a coleção de beijos. De carinhos preciosos e de noites memoráveis.

A coleção de bares, sempre no copo americano e longe de qualquer engano. Coleção de amigos de farra, que eram a felicidade total. A coleção de cerveja gelada e de charque frito com cebola.

Tem o colecionador de sonhos, de bonitos e medonhos. Não convém colecionar problemas, ô “trem” que rende. Você acaba de resolver um e já-já aparece outro.

Colecionamos tudo que vivemos. Vistos lá de cima, somos uma coleção de Deus.

Chico Ribeiro

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