Andei lendo algumas postagens nas redes sociais e uma delas continha uma frase que me deixou comovido. Alguém, lamentando o falecimento de um amigo escreveu que vivemos tempos de colecionar perdas. Impressionante como essa verdade tão simples e tão corriqueira nesses tempos pandêmicos nos pode soar tão apavorante.

Apavora mais ainda quando entendemos que, mesmo tentando impingir a culpa em alguém – de preferência “autoridades” – sabemos que, de alguma forma, a epidemia está aí e ninguém tem o poder de para-la senão nós mesmos. Simples, não?

No entanto, como o brasileiro adora paternalismo, o assistencialismo, buscamos culpar “A”, “B”, “C” ou até mesmo o alfabeto inteiro incluindo-se aí caracteres importados de outros alfabetos. Dessa forma, começamos botando a culpa no presidente. Pronto!

Bolsonaro não tem culpa de ser o que é. Nós temos culpa de tê-lo feito o que é. Ele não pensa no que diz e faz simplesmente porque não pensa. É mais como a última garrafa do náufrago em um mar bravio sendo jogada pra lá e pra cá até que alguém finalmente a encontre, Se Bolsonaro fosse essa garrafa errante o melhor destino seria uma rocha perdida no oceano onde pudesse se espatifar sem causar danos.

Impressiona também a forma como encaramos a possibilidade (real) de morrer asfixiado pelo coronavírus: brigamos por festas, por shoppings lotados, pelo contato proibido e pela cara sem máscaras. Mas quando alguém próximo adoece ou é abatido pela doença, simulamos ou pretendemos sentir uma tristeza infinita. Somos intrínseca e naturalmente irresponsáveis.

A família Bolsonaro, de ascendência italiana, adora os Estados Unidos da América (do Norte), idolatra Trump e se orgulha de já ter fritado hamburgueres em Connecticut (não sei se foi lá ou em New Hampshire). Vai ver que como bons italianos se sonham carcamanos reeditando a chegada da Máfia em Nova Iorque ou Chicago. O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil?

Deve ser, segundo o evangelho de Messias (o Bolsonaro). Tanto é que um ministro de estado aproveita que os olhos e a opinião pública estão quase que exclusivamente voltados para os efeitos da pandemia e se põe a anular decretos e regras de proteção ambiental para proteger interesses econômicos. Abriu a porteira e a boiada passou. Coincidentemente, a cura em massa é chamada cientificamente de “imunidade de manada”. Coincidência ou ironia?

O fato é que os números continuam apontando para cima: mais de 2 milhões de infectados e muitas dezenas de milhares de mortos.

Infelizmente, vivemos um tempo em que colecionamos perdas. Até mesmo do bom senso.

by Carlos Alberto Santana