Conteúdo do Intercept Brasil – Foto REUTERS/Ashraf Amra

Análise quantitativa mostra que principais jornais distorceram sua cobertura em prol das narrativas de Israel nas seis primeiras semanas do ataque a Gaza.

Escrito por Adam Johnson e Othman Ali

A COBERTURA DOS JORNAIS New York Times, Washington Post e Los Angeles Times sobre a guerra de Israel em Gaza mostrou consistentemente um viés contrário aos palestinos, segundo uma análise feita pelo Intercept sobre a cobertura da grande mídia.

Os meios de comunicação impressos, que desempenham um papel bastante influente nos EUA sobre a visão do conflito entre israelenses e palestinos, deram pouca atenção ao impacto sem precedentes do cerco e do bombardeio de Israel sobre as crianças e os jornalistas na Faixa de Gaza.

Os principais jornais dos EUA enfatizaram desproporcionalmente as mortes de israelenses no conflito; usaram linguagem emotiva para descrever as mortes de israelenses, mas não as de palestinos; e deram cobertura desigual aos atos antissemitas nos EUA, ao mesmo tempo que praticamente ignoraram o racismo islamofóbico após 7 de outubro.

Ativistas a favor dos palestinos acusaram as principais publicações de viés pró-Israel, e houve protestos na sede do New York Times em Manhattan contra a cobertura em Gaza, uma acusação que é corroborada por nossa análise.

A análise de código aberto se concentra nas primeiras seis semanas do conflito, desde os ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro, que mataram 1.139 israelenses e trabalhadores estrangeiros, até 24 de novembro, o começo da “trégua humanitária” de uma semana acordada entre ambas as partes para facilitar a troca de reféns.

Durante esse período, 14,8 mil palestinos, incluindo mais de 6 mil crianças, foram mortos pelo bombardeio de Israel em Gaza. Atualmente, o número de palestinos mortos é superior a 22 mil.

O Intercept colecionou mais de mil matérias dos jornais New York Times, Washington Post e Los Angeles Times sobre a guerra de Israel em Gaza e registrou os usos de certos termos-chave e o contexto em que foram usados.

A contagem revela um desequilíbrio óbvio na cobertura de números israelenses e pró-Israel, na comparação com as vozes da Palestina e favoráveis à Palestina, com usos que favorecem as narrativas israelenses em detrimento das palestinas.

A tendência anti-palestina na mídia impressa vai ao encontro de uma pesquisa semelhante com canais de notícias na TV a cabo dos EUA, conduzida pelos autores no mês passado para o site de notícias The Column, que encontrou uma disparidade ainda maior.

O que está em jogo nessa desvalorização cotidiana das vidas palestinas não tem como ser mais relevante: enquanto o número de mortos em Gaza aumenta, cidades inteiras são destruídas e tornadas inabitáveis por anos, e linhagens familiares são completamente dizimadas, a influência do governo americano é enorme, como principal patrocinador e fornecedor de armas de Israel. A forma como a imprensa apresenta o conflito faz com que haja menos desvantagens políticas em firmar o apoio a Israel.

Segundo a análise, a cobertura das primeiras seis semanas de guerra pinta um quadro sombrio do lado palestino, que pode dificultar a humanização dos palestinos, e, portanto, o surgimento de empatia entre os americanos.

Para obter esses dados, buscamos todos os artigos que contivessem palavras relevantes (como “palestino”, “Gaza”, “israelense” etc.) em todos os três sites de notícias. Em seguida, analisamos cada frase de cada artigo, e fizemos a contagem de certos termos.

Para essa análise, omitimos todos os editoriais e cartas ao editor. O conjunto de dados básico está disponível aqui, e um conjunto de dados completo pode ser obtido por e-mail enviado para [email protected].

Nossa pesquisa sobre a cobertura teve quatro conclusões fundamentais.

Mídia cobriu mortes em Israel de forma desproporcional

Nos jornais New York Times, Washington Post e Los Angeles Times, as palavras “israelense” ou “Israel” aparecem mais do que “palestinos” ou variações disso, mesmo depois que as mortes de palestinos ultrapassaram de longe as de israelenses.

Para cada duas mortes de palestinos, os palestinos são mencionados uma única vez. Para cada morte de israelense, os israelenses são mencionados oito vezes.

Continua na próxima postagem