Membros do chamado Foro Conservador organizam caravanas com ônibus e alimentos, mobilizam redes e articulam encontros com parlamentares e autoridades do governo federal

Por Alice Maciel, José Cícero, Júlia Rohden, Mariama Correia, Matheus Santino, Yolanda Pires / Agência Pública

“Já temos toneladas de alimentos, fornecidas por empresários do agro. E mais de 246 ônibus”, afirma militar reformado que convoca para os atos
Grupo cristão que promoveu evento em alusão à Marcha pela Família de 1964 convoca para os atos deste ano
Enquanto ruralistas organizam tratores para Brasília, empresários fazem chamado discreto para manifestações

“Eu quero adiantar aqui o seguinte: nós já temos toneladas de alimentos, fornecidas por empresários do agro. Toneladas, 60 toneladas. E mais de 246 ônibus que nos foram oferecidos para que vocês possam ir a Brasília no dia 7 de setembro”, afirmou o militar reformado Marcos Koury Barreto, coordenador do B-38, grupo fundado por militares que defende o voto impresso.

A organização — uma dos oito que integram o chamado Foro Conservador — tem convocado ativamente seus membros para os atos pró-Bolsonaro no feriado da Independência. Segundo apuração da Agência Pública, além do B-38, outros membros do Foro, que puxaram os atos de 2021, também estão incentivando as manifestações deste ano com caravanas e mobilização nas redes, além de articularem encontros com parlamentares e autoridades do governo federal.

Criado em agosto de 2021, às vésperas dos atos bolsonaristas, o Foro Conservador reúne, além do B-38: o Movimento Agro Brasil Verde e Amarelo, formado por produtores rurais; o Brasil 200, grupo de empresários que teve entre os fundadores Flávio Rocha, dono da Riachuelo; a Marcha da Família, movimento de cristãos conservadores; o Movimento Avança Brasil, que conta com apoio do deputado federal Luiz Phillippe de Orleans Bragança (PL-SP); a Ordem dos Advogados Cristãos do Brasil (OACB), que se apresenta como um contraponto conservador à OAB; o Movimento Família Brasileira, que informa defender uma pauta pró-família; e o Reaja Brasil, que diz “ser um dos maiores movimentos de rua localizados no estado de São Paulo”.

Na época da fundação, eles enviaram um ofício ao gabinete de Bolsonaro solicitando uma reunião com o presidente e se apresentando como uma “coalizão de forças para a construção em conjunto dos próximos atos em defesa da nossa nação e das eleições transparentes e democráticas”, escreveram em carta. Segundo o documento, a criação do Foro partiu da Marcha da Família.

Em fevereiro deste ano, Koury e outros quatro integrantes do B-38 se reuniram com o chefe do Gabinete de Segurança Institucional no Planalto, o general Augusto Heleno. “Nós levamos esse assunto [do voto impresso] para o general Heleno”, disse o coronel reformado em vídeo publicado no dia 21 de junho. Em abril, o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos – SP) apresentou o projeto de lei 943/2022, que propõe vetar o voto eletrônico e instituir a contagem pública de votos impressos. O texto da proposta é similar ao de um projeto de lei de iniciativa popular disponível no site do B-38, assinado por Marcos Koury e Miriam Motta Gimenez, conselheira e coordenadora do movimento no Mato Grosso do Sul.

A reportagem pediu mais esclarecimentos a Koury sobre o apoio às manifestações de 7 de setembro, que confirmou a articulação feita pelo B-38, inclusive junto a lideranças do agronegócio. “Nas capitais nós vamos fazer passeatas e a pauta é uma só: o voto impresso com a contagem pública total dos votos. E apoio sim, ao presidente da República, suas pautas, porque o grupo foi erigido para reeleger Bolsonaro e apoiar os políticos que por ventura ele venha a apoiar também. Outra coisa do B-38 é que somos um grupo cristão”, afirmou.

“Vai ser um grito por liberdade pela última vez”, diz o coordenador nacional da Juventude do Foro Conservador, Artur Jocteel, em vídeo postado pela Marcha da Família no dia 4 de setembro. O grupo, que propôs a criação do Foro, define-se como uma base de apoio a parlamentares conservadores federais e estaduais no país.

Em março deste ano, o grupo promoveu um evento alusivo à Marcha pela Família que antecedeu o Golpe Militar de 1964, segundo a Folha de S. Paulo. O ato teve a participação de expoentes do bolsonarismo, entre eles o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o jurista Ives Gandra Martins e sua filha, a secretária da Família do governo federal, Angela Gandra. Os Gandra são ligados à organização católica conservadora Opus Dei no Brasil.

Segundo a reportagem, a Ordem dos Advogados Conservadores do Brasil (OACB), uma espécie de OAB conservadora, também atuou na organização do evento. Tal como a Marcha da Família, a OACB vem fazendo chamados públicos para o 7 de setembro nas suas redes sociais. Um deles é um vídeo, publicado no dia 5 de setembro, onde a associada à Ordem Núria Gallão convoca para as manifestações. Núria é candidata a deputada estadual pelo PTB-SP e se apresenta nas redes sociais como mãe, advogada conservadora e cristã.

Outro membro do Foro ligado à Marcha da Família, o Movimento Família Brasileira (MFB), também tem chamado militantes para comparecer aos atos desde julho. O grupo é ligado a diversas entidades conservadoras, como o Brasil Feminino, a Central Brasileira de Trabalhadores e a Galeria de Heróis. O movimento se declara contra a ideologia de gênero, o aborto, a legalização das drogas e a doutrinação nas escolas.

Um dos representantes do MFB é Alex Canuto, candidato a deputado estadual pelo PROS em São Paulo e que se apresenta como servidor público federal, advogado e jornalista. Atualmente, ele ocupa um cargo de especialista em política pública e gestão governamental no Ministério da Economia. Em um vídeo postado na página oficial do MFB, Canuto aparece convocando para um ato em 31 de julho, chamado de um “esquenta” para o 7 de setembro.

Numa audiência pública no Senado sobre ativismo judicial e separação de poderes, em 5 de julho deste ano, Canuto criticou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e apontou a possibilidade de intervenção militar após as eleições. “Do jeito que a coisa está, se não houver transparência, o TSE não vai ter legitimidade, perante a população, estamos em risco de crise institucional. E há precedentes da intervenção das forças armadas nesses casos”, disse. A reportagem procurou o candidato, que confirmou que o MFB irá comparecer aos atos na Paulista no dia 7.