Por Redação – Foto Agência Brasil/Reprodução
O Dia da Consciência Negra é celebrado hoje, quarta-feira (20) e também, é um dia em que se rememora a luta de brasileiros contra a escravidão.
Há 136 anos, a princesa Isabel, filha do imperador Pedro 2º, assinou a Lei Áurea, decretando a abolição. A “liberdade” não veio acompanhada de nenhuma medida de compensação ou apoio aos ex-escravizados.
O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão. Quase 5 milhões de africanos foram traficados para o Brasil, mais de 600 mil deles morreram no caminho.
A abolição não foi uma benemerência da monarquia. A ação foi fruto de diversos fatores, especialmente, o contínuo crescimento do movimento abolicionista na década de 1880, que, devido as circunstâncias, não podia mais ser contida.
Abaixo, conheça a história de seis brasileiros protagonistas que contribuiram na luta pelo fim da escravidão no país.
Luiz Gama
Nascido em Salvador em 1830, Luiz Gama, filho de uma africana livre e um português, teve uma infância marcada pela luta contra a escravidão.
Aos 10 anos, foi vendido como escravizado e levado para São Paulo, onde vivenciou os horrores desse sistema, trabalhando como doméstico. Apesar das adversidades, Gama conseguiu libertar-se e tornou-se um dos maiores abolicionistas do Brasil.
Aos dez anos ficou sob cuidados de um amigo do pai, que o vendeu como escravizado. Foi enviado ao Rio de Janeiro como escravo. Depois, foi levado para São Paulo, onde trabalhou como escravizado doméstico. .
Aos 17 anos, ele aprendeu a ler e escrever com um estudante de direito. Assim, reivindicou sua liberdade ao seu proprietário.
Em São Paulo, se tornou rábula (advogado autodidata) e começou a atuar no movimento abolicionista: entrava com ações na Justiça para libertar escravizados. Calcula-se que tenha ajudado a conseguir a liberdade de cerca de 500 pessoas.
Como advogado, Luiz Gama utilizou seu conhecimento jurídico para defender os direitos dos escravizados. Ele ingressou com diversos pedidos de habeas corpus, buscando a soltura daqueles que haviam sido injustamente presos, principalmente por tentarem fugir da escravidão.
Além disso, Gama atuou em ações de liberdade, nas quais o escravizado podia solicitar judicialmente a compra de sua própria alforria. Essa prática, embora ainda limitada, foi respaldada pela Lei do Ventre Livre de 1871, que permitiu que filhos de escravas nascidos a partir dessa data fossem considerados livres ao atingirem a maioridade.
Luiz Gama morreu em 1882, sem ver a abolição. Seu funeral, em São Paulo, foi seguido por uma multidão.
Maria Tomásia Figueira Lima
Maria Tomásia Figueira Lima, uma cearense de origem nobre, foi uma figura central na luta pela abolição da escravatura no Ceará.
Casada com um abolicionista, ela se mudou para Fortaleza e foi uma das protagonistas que do movimento que levou o Estado do Ceará a decretar a libertação dos escravizados quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea.
De acordo com o Dicionário de Mulheres do Brasil, Tomásia foi cofundadora e a primeira presidente da Sociedade das Cearenses Libertadoras que, em 1882, reunia 22 mulheres de famílias influentes para argumentar a favor da abolição.
Essa sociedade organizou diversas ações para pressionar pela libertação dos escravizados, como campanhas de assinaturas, reuniões públicas e mobilização de recursos. Graças à sua liderança e à atuação incansável das mulheres da sociedade, o Ceará tornou-se pioneiro na abolição, em 1884.
Maria Tomásia estava presente na Assembleia Legislativa no dia 25 de março de 1884, quando foi realizado o ato oficial de libertação dos escravizados do Ceará, que deu força à campanha abolicionista no país.
No dia 25 de março de 1884, Maria Tomásia testemunhou na Assembleia Legislativa a libertação oficial dos escravizados no Ceará, um marco importante para a causa abolicionista no Brasil.
André Rebouças
Nascido em uma família negra livre na Bahia, André Rebouças construiu uma sólida carreira como engenheiro, sendo responsável por obras de grande relevância, como a estrada de ferro que liga Curitiba ao porto de Paranaguá.
Sua trajetória, no entanto, foi marcada por um crescente engajamento na luta abolicionista. A libertação de Chico, um escravizado sob sua responsabilidade, foi um marco em sua vida e o impulsionou a se tornar um dos principais defensores da abolição da escravidão no Brasil.
No idos de 1870, André Rebouças dedicou-se intensamente à causa abolicionista, participando ativamente de diversas sociedades que lutavam pela libertação dos escravizados.
Utilizando sua influência como engenheiro, atuou como um mediador entre os abolicionistas da elite e os poderes políticos, facilitando a articulação de estratégias para acelerar o fim da escravidão no Brasil.
O engenheiro se opunha ferrenhamente ao pagamento de indenização para os senhores de escravizados em troca da liberdade. Na visão do engenheiro, isso seria uma forma de validar que uma pessoa fosse propriedade da outra.
Nascida na escravidão, fruto de um relacionamento entre sua mãe e seu senhor, Adelina cresceu em São Luís (MA) e aprendeu a ler e escrever.
Vendendo charutos nas ruas, entrou em contato com o movimento abolicionista e passou a colaborar com o Clube dos Mortos, fornecendo informações cruciais para a fuga de outros escravizados. Apesar da promessa de alforria, Adelina continuou submetida à escravidão.
Dragão do Mar
Nascido em 1839, Francisco José do Nascimento, conhecido como Dragão do Mar, era um homem pardo que trabalhava como jangadeiro e prático no Ceará.
Além de sua profissão, ele se destacou como um dos principais líderes do movimento abolicionista na província, contribuindo significativamente para a abolição da escravatura no Ceará, o primeiro estado brasileiro a libertar seus escravizados.”
A greve dos jangadeiros de 1881, liderada pelo Dragão do Mar, foi um ato de desobediência civil que abalou as estruturas do sistema escravista no Brasil.
Ao impedir o tráfico negreiro no Ceará, os jangadeiros demonstraram o poder da união e da resistência popular. Apesar das represálias, o Dragão do Mar se tornou um símbolo da luta abolicionista e foi homenageado após a abolição com importantes cargos nas forças armadas.
Maria Firmina dos Reis
Maria Firmina dos Reis, maranhense negra e livre, foi uma figura fundamental na luta contra a escravidão no Brasil. Nascida em 1825, formou-se professora e, em 1859, publicou o romance “Úrsula”, considerado por muitos como o primeiro romance abolicionista brasileiro.
Em “Úrsula”, a autora, sob o pseudônimo “Uma maranhense”, teceu uma narrativa envolvendo um triângulo amoroso, mas com um objetivo maior: denunciar os horrores da escravidão através das experiências de personagens negros. Apesar de seu pioneirismo, a obra de Maria Firmina foi por muito tempo esquecida pela crítica literária.
Além de romancista, Maria Firmina era uma mulher engajada em causas sociais. Ela escrevia contos, poemas e artigos sobre a escravidão, utilizando a literatura como ferramenta de denúncia e conscientização. Sua dedicação à educação a levou a fundar, aos 55 anos, uma escola gratuita e mista para crianças pobres.