A CPI da Pandemia aprovou nesta quinta-feira (07/10) uma nova convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para que ele preste mais um depoimento ao colegiado. O ministro já depôs em duas ocasiões à CPI.

A nova convocação ocorre após senadores da oposição levantarem suspeita de interferência do Ministério da Saúde na pauta de uma reunião da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). Na reunião, seria analisado um parecer sobre o uso de cloroquina e outros medicamentos que compõe o chamado “kit covid”.

Em trechos do relatório lidos pelo vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o Conitec não recomenda o uso de cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, em pacientes com suspeita ou diagnóstico de covid-19 em tratamento ambulatorial.

No documento, ao qual a CNN Brasil teve acesso, especialistas do Conitec afirmam que “diversas terapias ineficazes foram descartadas, de forma a promover a economia de recursos com o abandono de seu uso, como o caso da azitromicina e da hidroxicloroquina”.

Randolfe acusou o governo Bolsonaro de exercer pressão para o adiamento da análise do relatório. A CPI também aprovou um requerimento para que a Conitec envie o documento e explique o adiamento dentro de um prazo de 24 horas.

Outro motivo para a convocação de Queiroga foi o fato de o ministro não ter acatado o prazo de 48 horas dado pela CPI para que respondesse perguntas enviadas pelos senadores. O objetivo das perguntas seria, justamente, evitar um novo depoimento presencial do ministro no Senado Federal.

O relator da CDPI, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou no início da sessão desta quinta-feira que vai propor o indiciamento de Queiroga em seu relatório final. “A gente já teve acesso a tanta coisa do ministro da Saúde, a sua conversão ao negacionismo, as mentiras repetidas nas duas vezes que esteve na comissão, agora a suspensão das vacinas para adolescentes”, disse o relator. “Ele já produziu todos os motivos, provas e indícios para ser exemplarmente indiciado.”

Ex-médico acusa Prevent Senior de coerção

Em depoimento à CPI nesta quinta-feira, Walter Correa Souza Neto, ex-médico da rede de hospitais Prevent Senior, relatou que era comum seus superiores determinarem o chamado tratamento paliativo para pacientes com covid-19.

Esse tipo de tratamento visa aliviar o sofrimento até a morte do paciente. “Às vezes pela gerência de recursos que é extremamente rígida, isso muitas vezes induz o médico ao erro”, afirmou.

A rede Prevent Senior está no centro de um escândalo envolvendo uso de tratamentos ineficazes e estudo de drogas como hidroxicloroquina em pacientes sem o consentimento deles, além de ser alvo de acusações de fraude na elaboração de atestados de óbito.

“O médico fica julgando muitas vezes que um paciente não é viável. Muitas vezes ele poderia ser viável. Então a gente via acontecer com uma certa frequência dentro da Prevent. Nem sempre é intencional, mas normalmente essa cultura provoca isso”, afirmou. Ele disse que havia pressão dos chefes dos plantões para a adoção desse tratamento.

O médico disse ainda que o modelo da Prevent Senior era voltado para os custos, e não para o bem-estar dos pacientes. Ele denunciou uma política de coerção dentro da empresa e diz que sofreu ameaças de seus supervisores.

“Esses colegas não eram pessoas malvadas […] mas estavam com uma observação lotada, em uma medicina de guerra, onde o que importa é mais a gestão de recursos e não o paciente, onde a cultura da empresa tem uma leniência muito grande com paliativo”, afirmou.

Souza disse que os médicos da operadora de saúde não tinham autonomia e que era obrigatório prescrever medicamentos do “kit covid” para os pacientes com covid-19.

“Eles instituíram um protocolo institucional e daí iniciou a determinação para que a gente prescrevesse essa medicação. Pouco depois, os kits com a medicação começaram a ser disponibilizados, colocados no consultório”, afirmou.

Ex-paciente denuncia manipulação em prontuário

O advogado Tadeu Frederico de Andrade, atendido pela Prevent Senior após ser diagnosticado com covid-19, disse à CPI que recebeu tratamento com medicamentos do “kit covid”, mas que seu quadro apenas piorou, o que fez com que tivesse de ser internado em um dos hospitais da rede em São Paulo.

Ele denunciou que os médicos do plano de saúde usaram o prontuário de outra paciente para tentar convencer sua família a retirá-lo da UTI e colocá-lo sob tratamento paliativo, quando ele estava intubado. Os médicos disseram à família que ele não tinha mais cura e morreria dentro de poucos dias.

No entanto, sua filhas negaram o consentimento, o que levou os médicos a apresentarem um prontuário de outra pessoa, como se fosse de Tadeu, para tentar convencê-las de que ele teria comorbidades, que, na verdade, nunca teve.

Apesar da negativa das filhas, os médicos mentiram ao afirmarem no prontuário que a família havia permitido o tratamento paliativo. A Prevent Senior negou as acusações e afirmou em nota que não iniciou o tratamento sem a autorização, e que a médica encarregada teria feito apenas uma sugestão à família, não uma determinação.

Fonte: Deutsche Welle (DW)