Diagnóstico socioeconômico de camponeses do Maranhão será útil em políticas públicas

Renda monetária e patrimônio familiar são os temas do segundo volume da coleção editada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) especialmente para divulgar um dos mais relevantes e detalhados estudos socioeconômicos já feitos com agricultores familiares do Maranhão, estado detentor do maior índice de população rural do País.

A coleção Diagnóstico da Agricultura Familiar no Médio Mearim, Maranhão resulta do trabalho da Embrapa em parceria com a Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (Assema) junto a 1.025 famílias agroextrativistas, pertencentes a 207 comunidades rurais distribuídas em 18 municípios maranhenses.

Coordenador e autor da coleção, o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA) Roberto Porro, doutor em antropologia cultural, informa que as famílias entrevistadas retratam o modo de vida e as atividades predominantes entre milhares de agricultores maranhenses habituados a se sustentarem integrando a produção agrícola com criação animal e extrativismo do coco-babaçu.

O pesquisador se refere ao Médio Mearim (situado na zona de transição entre os biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga), onde se concentram vastas áreas de babaçuais, como um dos territórios de maior expressão dessa população camponesa. Considerados um importante segmento produtivo, os camponeses do Médio Mearim demandam políticas públicas mais efetivas, para as quais, garante o autor, o diagnóstico poderá servir de base em diversos níveis de planejamento e execução.

Impacto na inovação

O estudo revela e permite a compreensão da realidade das condições e situações de vida desse segmento social, mas há outro diferencial que o pesquisador enfatiza. “As informações publicadas contribuem efetivamente para um sistema de inovação que não se restringe à pesquisa, ou seja, um sistema que, além do fator conhecimento, considera também o sujeito do conhecimento e o uso adequado deste conhecimento, preocupando-se com a totalidade dos atores e a interação entre eles”, ressalta Roberto Porro.

O recém-lançado Diagnóstico da agricultura familiar no Médio Mearim, Maranhão – renda monetária e patrimônio familiar (clique no título para acesso direto à publicação) aprofunda a caracterização econômica dos agricultores. A obra apresenta características detalhadas da composição da renda monetária (derivada de atividades agrícolas e fontes não agrícolas) e de sete categorias que compõem o patrimônio familiar (bens de consumo, bens produtivos, infraestrutura produtiva, edificação da moradia, árvores frutíferas em produção, rebanho animal e pastagens).

O primeiro volume, Diagnóstico da agricultura familiar no Médio Mearim, Maranhão: caracterização, infraestrutura, serviços e acesso a políticas públicas, foi publicado em março deste ano, em coautoria com a engenheira-agrônoma Dawanne Lima Gomes. Nele foram apresentadas as características dos domicílios, a infraestrutura disponível, o acesso a políticas públicas e a percepção das crises vivenciadas por agricultores familiares do Médio Mearim.

A Embrapa disponibiliza as duas obras gratuitamente ao público, por meio da Infoteca-e, o repositório digital de publicações técnico-científicas da instituição: aqui encontra-se o primeiro volume e aqui o segundo.

Participação local

A publicação de mais dois volumes está prevista para o primeiro semestre de 2022. “As novas obras terão como foco as características dos sistemas agropecuários e práticas de cultivo adotadas, e a situação fundiária e de uso da terra”, antecipa o autor, prevendo que as organizações de fomento e pesquisa se beneficiarão dos conteúdos da coleção para melhor direcionar sua atuação junto ao público-alvo, os agricultores familiares.

A parceria com a Assema incluiu a participação, na equipe de pesquisa, de técnicos locais, oriundos das comunidades e municípios que foram objeto da pesquisa.

“A diversidade de aspectos analisados mostra que estabelecer parcerias como esta valoriza o trabalho de milhares de famílias agroextrativistas e ajuda a manter e divulgar os princípios que são tão caros para a unidade familiar de produção, valorizando o passado e antecipando o futuro, com os saberes tradicionais e o conhecimento científico em um só compasso”, avalia o pesquisador Walkymário de Paulo Lemos, chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, unidade descentralizada da Embrapa responsável pela edição da coleção.

O diagnóstico foi realizado em campo no período de agosto a novembro de 2017, como parte do Projeto Bem Diverso. A iniciativa é conduzida pela Embrapa, implementada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e financiada pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).

Embrapa Amazônia Oriental