O governista Partido Comunista de Cuba (PCC) elegeu o presidente do país, Miguel Díaz-Canel, como seu novo líder nesta segunda-feira (19/04), no quarto e último dia do congresso da legenda em Havana. Raúl Castro havia anunciado sua renúncia ao cargo na sexta.

A sucessão marca o fim de mais de seis décadas de governo pelos irmãos Fidel e Raúl Castro, sob cuja liderança os revolucionários cubanos conquistaram Havana em 1º de janeiro de 1959, pondo fim à ditadura de Fulgencio Batista.

Díaz-Canel, que nasceu um ano depois da revolução e tem hoje 60 anos, havia sucedido a Raúl Castro como presidente cubano em 2018, e já era amplamente esperado que ele assumisse também o posto de primeiro secretário do partido, o cargo mais poderoso do país, após a aposentadoria de seu antecessor.

“Díaz-Canel não é fruto de improvisação, mas da seleção cuidadosa de um jovem revolucionário que tem tudo o que é necessário para ser promovido a cargos mais altos”, afirmou Castro no discurso de abertura do congresso na sexta-feira, quando confirmou sua renúncia à presidência do partido.

O atual presidente cubano e novo líder do PCC comandou a legenda em duas províncias antes de ingressar no governo nacional como ministro da Educação em 2009. Em 2013, se tornou vice do então presidente Raúl Castro.

A transição de poder marca um divisor de águas para o país de 11,2 milhões de habitantes, muitos dos quais não conheceram um líder que não fosse um Castro. Fidel Castro, ainda reverenciado como pai e salvador de Cuba, comandou o país de 1959 a 2006, quando adoeceu e seu irmão assumiu.

Contudo, o fim da era Castro não deve resultar em mudanças políticas dramáticas. Díaz-Canel tem enfatizado, desde que se tornou presidente, que busca dar continuidade à gestão castrista, e não se espera que ele afaste Cuba de seu sistema socialista de partido único, embora esteja sob pressão para promover reformas econômicas.

“O mais revolucionário dentro da Revolução é sempre defender o partido, da mesma forma que o partido deve ser o maior defensor da Revolução”, disse o presidente nesta segunda-feira.

Ele garantiu que Castro continuará sendo consultado sobre “decisões estratégicas” acerca do futuro da nação. Aposentado, o ex-presidente dará “direção e alertará sobre qualquer erro ou deficiência, pronto para enfrentar o imperialismo como fez pela primeira vez com seu rifle”, disse Díaz-Canel em discurso no congresso.

Centenas de delegados do partido se reuniram durante os quatro dias do evento em Havana, usando máscaras e se sentando com várias cadeiras de distância entre si, em meio ao pior surto de covid-19 no país desde o início da pandemia.

O evento é o encontro mais importante da legenda, sendo realizado a cada cinco anos para revisar as políticas e eleger suas novas lideranças.

No congresso anterior, em 2016, Castro já afirmara que aquele seria o último a ser presidido pela chamada geração histórica dos que lutaram na Sierra Maestra para derrubar o governo do ditador Fulgencio Batista, apoiado pelos Estados Unidos.

Nova cúpula

Além de Raúl Castro, de 89 anos, deixam de fazer parte da cúpula outros dirigentes históricos, como o atual número 2 do partido, José Ramón Machado-Ventura, o comandante Ramiro Valdés e Marino Murillo, considerado o líder das reformas econômicas iniciadas há uma década.

Entre os novos integrantes estão o primeiro-ministro do país, Manuel Marrero, e Luis Alberto Rodríguez López-Callejas, ex-genro de Raúl Castro e chefe do conglomerado cubano de propriedade militar Gaesa, que controla os ativos econômicos mais valiosos do país.

Continuam no órgão de direção, além de Díaz-Canel, o presidente do Parlamento, Esteban Lazo; o vice-presidente, Salvador Valdés; o vice-primeiro-ministro, Roberto Morales; e o ministro do Exterior, Bruno Rodríguez, entre outros.

Ao todo, a nova composição da cúpula conta com 14 dirigentes, três a menos do que a anterior. Entre eles, há três veteranos com mais de 70 anos e três mulheres: a presidente da Federação de Mulheres Cubanas, Teresa Amarelle; a cientista e diretora do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia, Marta Ayala; e a primeira secretária do partido em Artemisa, Gladys Martínez.

Os militares estão representados pelo recém-nomeado ministro das Forças Armadas Revolucionárias, o general do Exército Álvaro López Miera; o general de Divisão Lázaro Álvarez Casas; e Rodríguez López-Callejas, que é general de Brigada.

A nova composição foi nomeada pelo Comitê Central eleito na véspera pelos 300 delegados que assistiram ao evento, representando os mais de 700 mil militantes.

 

Fonte: Deutsche Welle (DW)