Ademar Celedônio*

Com a confirmação do adiamento do Exame Nacional de Ensino Médio, o Enem, de novembro de 2020 para janeiro de 2021 por conta da pandemia, chega o momento de o estudante inscrito se preparar da melhor maneira possível para prestar a prova que define o futuro de milhões de jovens. Diante dos desafios impostos pela suspensão das aulas por conta do distanciamento social, muitos alunos precisam estudar por conta própria, utilizando-se de roteiros de estudos e provas das edições anteriores. No entanto, entre questões da atualidade, fica a dúvida: terá alguma pergunta sobre a Covid-19 no exame? Possivelmente não.

Com mais de 6 milhões de inscritos, o Enem é a segunda maior prova do mundo, ficando somente atrás do vestibular chinês, o Gaokao, em que concorrem mais de 10 milhões de candidatos. Diante de tal dimensão, existe uma logística muito complexa para a confecção e distribuição pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep, autarquia ligada ao Ministério da Educação.

Desde 2009, o modelo atual do Enem valoriza a avaliação de competências e habilidades do candidato e, por isso, exige questões mais abrangentes e contextualizadas nas questões sociais e econômicas. Para desenvolvê-las, há um processo rígido, iniciado meses antes por um edital de chamada pública para selecionar os professores. Esses são devidamente capacitados de acordo com as exigências do Inep antes de trabalharem no conteúdo. As perguntas devem corresponder à matriz de habilidades da prova, contemplar as competências das áreas de conhecimento, além de serem atuais.

Após a elaboração e uma pré-aprovação, as questões passam a compor o Banco Nacional de Itens (BNI) e são testadas de forma sigilosa com estudantes do Ensino Médio. Somente as perguntas comprovadamente de acordo com a Teoria de Resposta ao Item, metodologia utilizada para calcular o desempenho do aluno, são aprovadas em definitivo e aplicadas na montagem das provas, o que geralmente acontece em meados de maio.

Diante de tal antecedência, a Covid-19 não deve ser contemplada nas questões da prova porque a suspensão das aulas nas escolas públicas e particulares de todo o país em meados de março inviabilizou a testagem de itens que levariam em consideração as características do coronavírus e seus impactos na sociedade. Outro ponto importante é que ainda estão em andamento as pesquisas sobre esta cepa, a gravidade dos sintomas e até mesmo os meios de transmissão, já que apenas recentemente foi confirmada a possibilidade de contágio pelo ar. É possível, no entanto, que a pandemia e seus impactos econômicos e na saúde pública sejam o tema da redação.

Nos vestibulares, o cenário é outro. Tanto Fuvest quanto Unicamp e outros processos seletivos tradicionais são mais conteudistas e concentram  assuntos comuns às disciplinas do Ensino Médio trazidas ao contexto da atualidade. Com menor tempo necessário para preparo, a pandemia pode ir além do tema da redação e ser exigida em questões de Biologia, História, com outras pandemias, Geografia e até mesmo Química, abordando o grau INPM do álcool em gel, entre outras questões.

Portanto, independentemente do exame prestado ao final do ano letivo, o estudante do terceiro ano do ensino médio deve construir um bom roteiro de estudos e continuar atento aos impactos da Covid-19.

*Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações Educacionais do SAS Plataforma de Educação.