Escritor lança livro “Ilê Aiyê: a fábrica do mundo afro” no dia 9 de setembro 

Edição Jesus Souza – Foto Divulgação

O evento acontece na Senzala do Barro Preto em uma roda de conversa com o autor Michel Agier, Vovô do Ilê, Arany Santana, Jamile Borges e Maria Rosário Gonçalves

Na próxima segunda-feira (9), acontece o lançamento do livro “Ilê Aiyê: a fábrica do mundo afro”, do antropólogo francês Michel Agier, que estará presente para uma roda de conversa com Antônio Carlos Vovô, Arany Santana, a diretora do Centro de Estudos Afro-Orientais Jamile Borges e a antropóloga Maria Rosário Gonçalves de Carvalho, que assina o texto de orelha da obra. O encontro será na sede do Ilê Aiyê, no Curuzu, às 19h, onde o público poderá comprar o livro e ter um recorte da história do Mais Belo dos Belos em sua prateleira. Haverá uma apresentação da Band’Aiyê no final da conversa.

Com mais de três décadas de familiaridade com o Ilê, Michel Agier, professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, dedicou anos de pesquisa para entregar com riqueza de detalhes, dados e informações um arquivo sobre a trajetória do bloco que, em 2024, chega ao seu cinquentenário. Em homenagem ao legado de todos aqueles que fizeram parte deste marco, o resultado foi o livro “Ilê Aiyê: a fábrica do mundo afro”.

“O que eu quero transmitir enquanto francês e antropólogo é que a importância do Ilê vai além do local, é uma importância cultural e política. O Ilê Aiyê teve um papel fundamental sobre o olhar que se tem sobre o povo negro, inclusive colocando em pauta a luta contra o racismo e a valorização de uma história própria de referência aos afrodescendentes não só da Bahia, mas do mundo todo. Recompus o dia a dia da preparação do primeiro carnaval desde o primeiro folheto de 1974, um arquivo histórico muito importante de um pequeno evento de jovens negros que brincavam no carnaval com essa ideia de África na Bahia e que se tornou referência tanto local quanto internacional”, comenta Michel.

Para colher entrevistas, relatos de vida de alguns membros e de mulheres associadas do bloco, o autor fez muitas idas e vindas à Bahia. Agier, que já desenvolveu no Brasil pesquisas sobre relações raciais e dinâmicas culturais afro, focou especial atenção nos ritos carnavalescos e no bloco Ilê Aiyê a partir dos anos 90. No decorrer das páginas, o autor analisa as condições que deram origem e viabilidade ao movimento, situando-as no contexto dos debates sobre raça, cultura e modernidade no país, ao mesmo tempo em que acompanha de perto os cinquenta anos de existência do bloco afro.

No final de 1974, um grupo de jovens de Salvador distribui pelas ruas o panfleto de um novo bloco carnavalesco, com uma foto de três negros numa rua de Lagos, na Nigéria, e os dizeres “Nós somos os africanos na Bahia”. Surgia assim o Ilê Aiyê: mais do que um bloco de carnaval, um movimento cultural e social que seria responsável não só pela reinvenção do carnaval da Bahia, mas por lançar um novo olhar sobre as relações raciais no Brasil. É assim que nasce então a investigação antropológica sobre os múltiplos significados dessa frase e desse carnaval que deslocavam tanto o imaginário do que era a África como do que era então a cidade de Salvador.

Enriquecido pelas reflexões de Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, no posfácio, e 35 fotografias de Milton Guran — elas próprias um documento antropológico de excepcional qualidade estética —, o produto final é um livro vivíssimo, que diz respeito não apenas à cultura afro-baiana, mas interroga também o devir de outras culturas diaspóricas ao redor do globo.