Fortes enfrentamentos foram registrados hoje (4) na região de Tigray, no norte da Etiópia, segundo fontes diplomáticas, depois que o premiê do país iniciou uma operação militar em resposta ao que chamou de ataque contra tropas federais.

As tensões vêm escalando na região desde setembro, quando Tigray celebrou eleições regionais à revelia do governo federal, que considerou o pleito “ilegal”. Nos últimos dias, ambos os lados vêm se acusando de planejar um conflito militar.

Ainda nesta quarta (4), o partido local Frente Popular para a Libertação de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), tentou roubar equipamentos e material de artilharia das tropas federais, afirmou o escritório do primeiro-ministro Abiy Ahmed, segundo a Reuters.

“A última linha vermelha foi cruzada com os ataques desta manhã [4] e, por isso, o governo federal é forçado a entrar em um enfrentamento militar”, assinalou o escritório do premiê, que acrescentou que o objetivo da medida é evitar que a instabilidade se estabeleça no país.

O porta-voz do primeiro-ministro etíope, Billene Seyoum, disse à Reuters que as operações militares em Tigray tinham começado, mas não deu mais detalhes. Duas fontes diplomáticas em Adis Abeba relataram que há registro de duros confrontos, que incluem disparos de artilharia, na região norte do país, próximo à fronteira com a Eritreia.

O governo local de Tigray assinalou que o Comando Norte da força militar federal, que está alocado na região, desertou para o seu lado. No entanto, Billene classificou essa informação como “falsa”.

O escritório do premiê disse que o governo federal da Etiópia declarou o estado de emergência em Tigray por seis meses, e o mesmo será supervisionado pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.

Redwan Hussein, porta-voz da recém-estabelecida Força Tarefa do Estado de Emergência, declarou que o governo vê a TPLF como o real inimigo, e não a região de Tigray.

“Este conflito é com um grupo muito pequeno, que tem seus próprios interesses e se empenha em desestabilizar a ordem nacional”, disse Redwan em um pronunciamento à imprensa.

O porta-voz disse à Reuters que os ataques da TPLF aconteceram na base do Comando Norte próxima a Mekele e em Dansha, nos arredores de Humera. Ao ser questionado se negociar era uma opção, o oficial respondeu que “ainda não”. Até o momento, a TPLF não se posicionou.

A região de Tigray

Os tigrínios dominaram a política da Etiópia depois que a guerrilha derrubou o ditador Mengistu Haile Mariam em 1991, mas perderam influência após a ascensão de Abiy Ahmed ao poder. No ano passado, a TPLF deixou a coalizão de governo.

Desde que Abiy assumiu o governo em 2018, muitos oficiais tigrínios foram detidos, demitidos ou escanteados da administração pública. O governo federal classifica essas ações como combate à corrupção, mas os tigrínios consideram que se trata de uma forma de repressão à dissidência.

A população de Tigray representa apenas 5% dos 109 milhões de habitantes da Etiópia, mas é mais rica e influente do que muitas outras regiões maiores, e tem um Exército bem treinado.

A Etiópia sofre com diversos surtos de violência desde que Abiy assumiu o governo. No último fim de semana, atiradores assassinaram 32 pessoas e incendiaram mais de 20 casas na região oeste do país.

 

Fonte: Sputnik Brasil