O Chile realizou neste domingo (21/11) as eleições mais polarizadas e incertas de sua história recente, para escolher o sucessor do presidente conservador Sebastián Piñera e renovar toda a Câmara dos Deputados e parte do Senado.

A disputa para presidente será decidida em segundo turno, no dia 19 de dezembro, entre o advogado de extrema-direita José Antonio Kast e o deputado de esquerda Gabriel Boric. Eles receberam 27,9% e 25,8% dos votos, respectivamente.

Ambos buscarão nas próximas quatro semanas o apoio dos demais candidatos. O candidato de direita Franco Parisi, do Partido do Povo, que mora nos Estados Unidos e fez a campanha remotamente, teve 12,8% dos votos, e o candidato governista Sebástian Sichel, do Chile Vamos, 12,8%.

Yasna Provoste, do Novo Pacto Social, nova designação da tradicional Concertação, de centro, recebeu 11,6% dos votos. À esquerda, Marco Enríquez-Ominami teve 7,6% e Eduardo Artés, 1,5%.

Cerca de 15 milhões de cidadãos do Chile, de uma população de 19 milhões, estavam aptos a votar. O pleito ocorreu num contexto de crise social e política e de um processo constituinte que pretende enterrar os últimos resquícios da ditadura militar de Augusto Pinochet.

A eleição também ocorre num cenário de inflação galopante, um sistema previdenciário descapitalizado e desigualdade acentuada pela pandemia de covid-19. O país ainda está há dois anos mergulhado na mais grave crise das últimas três décadas, desde que, em outubro de 2019, eclodiram os maiores protestos populares desde a ditadura.

Quem são os dois principais candidatos

Kast, do Partido Republicano, assumiu a liderança da disputa apostando num forte discurso nacionalista anti-imigração, numa repetição de processos que ocorreram no Brasil e Estados Unidos, que também viram candidatos de extrema direita ascenderem em momentos de desgaste da política tradicional.

Na campanha de 2017, quando foi candidato independente e recebeu quase 8% dos votos, Kast chegou ao ponto de dizer que, se Pinochet estivesse vivo, teria votado nele. Neste domingo, Kast afirmou que esta eleição era “crucial” para o futuro do país. “Vamos continuar trabalhando por um Chile livre e pacífico”, disse.

Já Boric tem defendido um modelo de Estado semelhante ao de bem-estar social de alguns países europeus e a a criação de uma aposentadoria mínima de 250 mil pesos (cerca de R$ 1,7 mil).

“Esta eleição não é sobre uma pessoa, é sobre um projeto coletivo (…) e que somos capazes de construir um Chile digno”, disse Boric neste domingo. Ele se tornou popular há uma década como líder estudantil e é o candidato da coalizão Apruebo Dignidad, formada pela Frente Amplio e pelo Partido Comunista.

Constituinte em andamento

Após os violentos protestos de outubro de 2019, que se opunham ao aumento do custo do transporte público, mas tinham como pano de fundo a desigualdade crescente e a impunidade da elite empresarial e política envolvida em múltiplos casos de corrupção, o Chile decidiu elaborar uma nova Constituição para substituir a atual, herdada da ditadura de Pinochet.

A Assembleia Constituinte, que iniciou seus trabalhos em 4 de julho, é composta por 155 delegados – na maioria, cidadãos progressistas –, entre os quais se incluem, pela primeira vez na história do país, 17 representantes dos dez povos indígenas.

Elisa Loncón, a professora universitária indígena que preside a Assembleia Constituinte, disse que “não importa quem ganhe”, já que o próximo presidente deverá governar “na chave constitucional”. “Quem vencer hoje (ou no segundo turno) será um governo de transição, que no futuro deverá analisar como implementar a nova Constituição”, afirmou.

A Assembleia Constituinte tem um ano para redigir uma nova Constituição, que será então submetida à votação popular em outro referendo.

Fonte: Deutsche Welle (DW)