A falta de uma coordenação nacional na campanha de vacinação contra Covid-19 atrasa a imunização e cria polêmicas e desarticulações entre estados e municípios. Esta é a avaliação da médica de família e comunidade Nathalia Neiva, que participou do podcast Covid-19 na Semana, repercutido na edição de hoje (19) do Programa Bem Viver.

“Falta um governo que direcione estados e municípios para conclusão da vacinação. O que se vê são as cidades usando de artimanhas ou seguindo interesses específicos para cumprir um cronograma que deveria vacinar a população de mais risco, seguindo o comportamento do vírus”, diz a médica. “É um espelho da falta de centralidade que o governo não assumiu desde o princípio”.

Os recentes anúncios de adiantamento da segunda dose de alguns imunizantes ou do início da vacinação de adolescentes, feitos por estados, pode gerar um descompasso ainda maior entre as unidades da federação. Para Nathalia, o principal seria realizar campanhas de comunicação para incentivar a vacinação massiva, que ainda encontra resistência entre alguns setores da população.

“Quando se fala da necessidade de antecipação da segunda dose temos um buraco: muitas pessoas não estão indo receber a segunda dose. Não há estímulo efetivo à campanha de vacinação”, diz a médica. “Do que adianta fazer algo que não é a recomendação dos laboratórios se não há medidas efetivas de comunicação da campanha? Onde houve distribuição de máscaras PFF2 para pessoas? Quando aconteceu aumento da frota de ônibus para evitar contagio no transporte público?”.

Ela reforça que é fundamental que a vacinação seja vista como algo coletivo e não individual, para que o país atinja uma quantidade de pessoas imunizadas que dificulte a circulação do vírus e controle a pandemia. Segundo estudos, isso ocorre quando o país atingir um percentual de 70% a 80% da população completamente imunizada. Atualmente, pouco mais de 15% dos brasileiros receberam as duas doses dos imunizantes. “Quem tomou a vacina não está protegido. Só estará quando uma parcela grande da população estiver imunizada.”

Isenções fiscais

Organizações não-governamentais e instituições de pesquisa laçaram uma campanha para exigir mais transparência nas chamadas isenções fiscais, um artifício do governo para reduzir ou zerar impostos para um setor econômico com a justificativa de incentivar o crescimento dessa atividade. Estima-se que essa prática retira até R$ 300 bilhões dos cofres públicos, mais que todo orçamento anual do Ministério da Educação e da Saúde somados, segundo dados da Receita Federal.

A campanha “Só Acredito Vendo” não critica o fato de existirem isenções fiscais. A denúncia se concentra em dois pontos: qual o critério na escolha dos setores que são privilegiados? E quais empresas serão beneficiadas? A lista não é transparente, porque são identificados apenas os setores econômico, mas não as companhias beneficiárias.

Estão nessa lista o agronegócio, indústria de bebidas açucaradas e a indústria de petróleo. São três setores que, de alguma forma, impactam na saúde pública da população ou afetam o meio ambiente. O movimento questiona porque a isenção chega para esse grupo e não para os que mais contribuem para o bem-estar das pessoas, como agricultores familiares, produtores de alimentos saudáveis ou produtores de energia sustentável.

Em geral, pelo fato do Estado não retirar recursos financeiros diretamente dos cofres públicos nas isenções fiscais, a população pode ter a falsa ideia de custo zero para essa medida. Porém, o governo deixa de arrecadar tributos e esse custo recaí sobre a população. Além disso, ao apoiar um setor em relação ao outro, a política de incentivos fiscais pode aumentar desigualdades.

Garimpo ilegal

Indígenas Yanomami de Roraima continuam sofrendo por conta da invasão de garimpeiros ilegais na região. Desde maio a população local é obrigada a se defender de ataques de grupos criminosos que atuam na terra indígena visando extração de ouro. Desde o início, a comunidade pede apoio do exército brasileiro e denúncia que o pedido não é atendido.

No final de junho, foi anunciada uma ação conjunta das Forças Armadas com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e outros órgãos de fiscalização ambiental. Após a operação, foram comunicados os resultados obtidos: seis acampamentos de garimpeiros foram destruídos e no local foi encontrada uma aeronave, embarcações, geradores de energia, gasolina, celulares, GPS, armas e munições. Segundo a Funai, ninguém foi detido ou preso.

O que mais chamou a atenção no balanço divulgado é o tipo de armamento que foi aprendido. Foram encontradas bombas de gás lacrimogêneo, um material de uso exclusivo do Exército ou de forças oficiais do Estado.

A prática de garimpo ilegal em Terras Indígenas aumentou 90% desde 2017, segundo um estudo da Universidade de São Paulo (USP). Os autores apontam que esse crescimento está associado com o afrouxamento da legislação ambiental nesse período, em especial durante o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Outra pesquisa analisou os impactos da mineração ilegal na saúde indígena. Um estudo divulgado recentemente Pelo Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração aponta que a medida que a extração de ouro aumenta, os casos de malária também crescem.

A pesquisa trouxe dados da evolução da doença na Terra Indígena Munduruku, um dos locais mais visados pelos garimpeiros. Em 2018, dentro do território, foram contabilizados 645 casos da doença. Em 2019, o número saltou para 1.666 e, no ano seguinte, para 3.200 casos, um aumento de cinco vezes.

Renda irlandesa

Em Sergipe, a renda irlandesa, patrimônio imaterial do Brasil desde 2009, vem ganhando cada vez mais adeptos, em diferentes idades. Como o nome explica, essa arte vem da Europa, mas não necessariamente da Irlanda. Alguns pesquisadores afirmam que ela tem origem em Veneza, na Itália. Não se sabe ao certo como ela chegou ao Brasil.

Trata-se de um tipo de renda de agulha, uma técnica combina uma multiplicidade de pontos com fios de linha tendo como suporte o tecido lacê, hoje, industrializado.

Fazer renda irlandesa é considerado uma atividade coletiva, ainda que cada rendeira faça a sua individualmente. A prática sempre acontece em grupo, para trocar ideias sobre projetos, técnicas e pontos. Neste universo de sociabilidade, são reafirmados sentimentos de pertencimento e de identidade cultural.

Nelson Mandela

O Programa Bem Viver relembra a trajetória do revolucionário e ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, que teria completado 103 anos ontem (18). Ele faleceu em 2013, de causas naturais.

A partir da década de 1990, Mandela começou a ser homenageado por dezenas de países, colecionando prêmios, entre eles, o Nobel da Paz, entregue em 1993. Para chegar aí, foram décadas enfrentando repressão e violência.

Mandela passou 27 anos preso em uma cela de pouco mais de cinco metros quadros. Antes disso, a força policial sul-africana já perseguia a ele e a todos os seus companheiros do Congresso Nacional Africano, grupo que se rebelava contra as leis segregacionistas do país, o Apartheid.

Por quase 50 anos, a África do Sul viveu com leis declaradamente racistas, que oprimiam de todas as formas a população preta do país. O regime começou em 1948 e só terminou em 1994 quando Mandela foi eleito presidente. Ele comandou a África do Sul por cinco anos e o combate ao racismo proporcionado pelo ex-presidente repercutiu no mundo todo.

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Fonte: Brasil de Fato